sábado, 31 de julho de 2010

Maradona esqueceu-se de Darío Conca

Trata-se de um craque, e um autêntico (e raro) meia-armador. Podia ter sido um parceiro quase perfeito para Messi na Copa do Mundo. E o pior é que a seleção da Argentina não tinha sequer um jogador para a posição. Azar deles, sorte do Fluminense!

It's Just Another Day (1971)

Essa com certeza teria feito parte do disco que os Beatles nunca lançaram depois de Let It Be, por motivos óbvios. Uma melosa, grudenta e maravilhosa canção de Paul McCartney.
http://www.youtube.com/watch?v=Y3nVqLfPBtw

Por um triz

De tão belo, o allegro em dó menor da sonata nº 13 de Beethoven quase nos redime. Especialmente quando tocado por Claudio Arrau.
http://www.youtube.com/watch?v=BbGLNZpatRA

Tiro no pé

Não dá mais para acessar pela internet a seção “O que ver na TV”, uma ex-boa idéia da editoria de esportes da Folha. A Veja também foi pelo mesmo caminho – nem assinantes conseguem descobrir a nova edição da revista pelo site. Lamentável.

Espírito de Corpo

A idéia de uma espécie de congresso de artistas sempre me pareceu idiota, por isso nunca dei muita bola para a Flip (o fato de ser realizada em Paraty só reforça minha preguiça - fosse em Guarulhos ou São Bernardo do Campo ao menos não seria tão fake). Na edição deste ano, em que a 'Festa Literária' economizou no convite a ficcionistas, houve chiadeira, principalmente por parte das nulidades brasileiras que, sabe-se lá por que, sempre fazem parte do evento. Não deixa de ser engraçado... PS: meno male que Reinaldo Moraes, autor de um dos melhores livros brasileiros de ficção dos últimos anos, Pornopopéia (e que provavelmente não receberá o Jabuti exatamente por isso), estará lá.
PS: pode ter coisa mais broxante que um escritor de ficção fazer "audição" (leitura em voz alta) de um livro inédito, a pretexto de divulgá-lo? Bom, até tem, mas não muitas - nem que fosse Tolstói.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Silêncio de Lorna

Um grande filme recente é 'O Silêncio de Lorna' (2008), dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Não é o caso de se contar nada da história, só registrar que a atriz albanesa Arta Dobroshi está estupenda, e a sequência final é das mais desconcertantes e belas do cinema recente.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Na real

Procurando por uma mangueira específica para um tipo de luminária de teto, difícil de encontrar, fui à Santa Ifigênia. Consegui o que queria (na Santil, boa loja do ramo), sinal de que o comércio da rua continua funcionando bem, mas encontrei a mesma degradação de sempre - gente seminua deitada nas calçadas (das ruas transversais), crianças largadas, camelôs agressivos, mau cheiro etc, etc. A propaganda oficial nos diz que o Brasil é um dos novos ricos do pedaço, mas nada como um choque de realidade na região da Luz e adjacências, em pleno horário comercial.

Absurdos cotidianos

Não sei se é só em São Paulo que acontece, mas, a pretexto de oferecer 'segurança' para seus moradores, uma grande quantidade de prédios residenciais instalou potentes luzes perto dos portões, que durante a noite são acionadas por sensor tão logo alguém passe na frente, pela calçada. Além de causar desconforto físico, já que explodem nos olhos, essas luzes impõem uma humilhação ao tratar pedestres como bandidos potenciais. Seu uso não deveria ser permitido.

Mano na Seleção

Por linhas tortas, foi boa a definição de Manos Menezes como o novo treinador da seleção brasileira. Sua primeira convocação, cheia de novidades, foi excelente, agradando a gregos e troianos, e já na primeira entrevista coletiva o ex-técnico do Corinthians deu um show, se mostrando articulado, inteligente e bem educado, mas não subserviente à imprensa. Mano se expressa bem e sem afetação, coisa rara no mundo do futebol - possivelmente não se vê isso em um técnico da Seleção nos últimos 40 anos, no mínimo. Muricy Ramalho é ok, competente, construiu um currículo vitorioso, mas é tão ou mais intratável que o antecessor, Dunga, o zangado. Este pelo menos tinha a desculpa, o trauma de ter sido espizinhado pela imprensa, como jogador, na derrota de 1990 – não justifica, mas pode explicar, vindo de uma pessoa de inteligência emocional tão baixa. Já Muricy sempre fez a linha ‘escrotinho do bem’ nas coletivas, com sua mania, talvez por puro sadismo, de maltratar quem não pode se defender na mesma medida, o que mostra uma boa pitada de covardia – ainda assim é aceito por parte da grande imprensa, principalmente entre os que não precisam tratar com ele no dia a dia... Mas não é só por questões de postura. No plano tático, logo de cara Mano propôs o 4-3-2-1, esquema muito mais atual e de acordo com a tradição ofensiva do futebol brasileiro que o ultracauteloso e já caduco 3-5-2 de Muricy. Isso não significa que Mano vai se sair bem - tem um abacaxi logo no ano que vem, Copa América realizada na Argentina, país que terá de ganhar na marra devido ao jejum de títulos – e terá de tomar cuidado para não ser fritado. Agora é esperar pra ver, mas acho que finalmente vou voltar a torcer para o Brasil.

O melhor Pelé

O fenômeno Pelé tende a ser visto como uma linha homogênea, na qual um jogador de gênio reinventou a arte do futebol ao produzir uma sucessão de façanhas ininterruptas, sempre a serviço do time, até a sua aposentadoria. Mas, ao analisar a performance de Pelé ao longo da carreira, acredito que, mesmo sem tê-lo visto atuar, não foi bem assim.

O período que vai de 1958 a 1965 - que classifico aqui como sua segunda fase - é o verdadeiro período miraculoso do jogador (parodiando o 'ano miraculoso' de Newton, em 1666, e o de Einstein, em 1905), no qual Pelé, magrinho e rápido como um flecha, conseguiu ampliar e aperfeiçoar o repertório de jogadas do atacante que vinha de trás - o antigo ponta de lança - e, dado a quantidade e o grau de dificuldade de seus feitos (visão de jogo perfeita, gols antológicos, dribles e fintas em velocidade, extrema precisão nos passes, cabeçadas, lançamentos e finalizações [com os dois pés] de perto e de longe, entre várias outras qualidades), tornou-se absolutamente incomparável, um fenômeno único não só no futebol, mas também no esporte de alto rendimento, seja qual for a modalidade, em qualquer tempo.

A média de gols de Pelé entre 1958-65 é espantosa, e jamais foi igualada por nenhum outro jogador, nem mesmo por ele - foram 635 em 497 jogos, média de 1.277 gol por partida, ou praticamente 80 gols por ano em oito anos consecutivos.* Claro que, para falar sobre Pelé, não podemos nos limitar aos gols que ele assinalou, ainda que tenham sido muitos e marcantes - seus passes e arrancadas magníficas, que resultaram em gols idem, convertidos por seus companheiros de Santos e Seleção Brasileira, são quase tão importantes quanto, pena que a TV da época nos deixou registros escassos. Mas, provavelmente, o Pelé 'garçon' teve seu apogeu também nesta segunda fase de sua carreira gloriosa.

Já no final de 1957, aos 17 anos (primeira fase), Pelé era uma realidade (57 gols em 67 jogos), mas ainda não o jogador arrasador que o mundo conheceria tão pouco tempo depois. A terceira fase, entre 1966-70 - a maturidade de um ex-menino-prodígio - só pode ser classificada como excepcional, e dificilmente superada por qualquer outro jogador, mas o que eu chamo de 'período miraculoso' foi claramente a "crème de la crème" do gênio de Três Corações, daí eu ter lamentado em outro post (http://oluziada.blogspot.com/search?q=pel%C3%A9+coutinho+aus%C3%AAncia) sua quase ausência na Copa do Chile, em 1962 - possivelmente o mundo teria presenciado uma atuação histórica, monumental, diante da qual o feito de Maradona no México (1986) seria considerado um fato menor.

Para encerrar, é preciso destacar que, mesmo em sua fase descendente, a  partir do segundo semestre de 1970 e até o final de 1974  (sem levar em conta o período posterior, em que jogou nos Estados Unidos), Pelé ainda jogava um futebol muito acima da média, embora já não fosse mais o número 1 do mundo. De qualquer forma, ele continuava sendo um jogador que pairava acima dos demais, até pela reverência que despertava.

PS: esta fase de declínio técnico, ainda no Santos, pode ter relação com um tipo de desmotivação de quem já tinha conquistado praticamente tudo no futebol (Copas do Mundo, Libertadores, Mundial de clubes, mais de mil gols etc.), já que, fisicamente, o atleta continuava inteiro (mas sem a velocidade da segunda fase). Porém, desmotivação não seria a melhor palavra - talvez cansaço do altíssimo grau de exigência que Pelé sempre se impôs ao entrar em campo, esforço que cobrou um preço depois de quase 15 anos. É possível também que o jogador possa ter sentido um pouco de tédio com a profissão, afinal sua carreira valeu por muitas.

* Fonte: Guilherme Gomez Guache, do blog de Odir Cunha.

sábado, 24 de julho de 2010

Ainda Godfather

Difícil imaginar um filme para o qual a trilha sonora seja tão importante como em Godfather I e II. Nino Rota criou melodias e arranjos memoráveis, com vida própria, além de música incidental de primeira classe para as mais variadas situações - suspense, morte, alegria etc. Ironicamente, contra a cartilha da crítica, é uma música que tende a manipular o sentimento do espectador, mas é tão arrebatadora e tão de acordo com o que é visto que não compromete o todo, pelo contrário. De qualquer forma, mesmo que não tivesse uma única nota, o filme continuaria sendo uma obra-prima do cinema.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Godfathers

Reprise do Poderoso Chefão na TV, ontem e hoje, o I e II. A não ser quando é dublado, quando posso não consigo resistir, que filmaços. By the way, depois de tanto assistir, acho que já dá para dizer qual das duas versões eu acho a melhor: a primeira, por uma ou duas cabeças, mas com certeza o Chefão II é possivelmente a melhor continuação do cinema, ao lado de Toy Story II – mas a de Godfather ganha, por ter sido feita em muito menos tempo: 2 anos contra 4 do Toys. PS: no Chefão I, as inacreditáveis cenas de suspense no hospital me parecem cada vez mais uma homenagem de Coppola ao grande Hitchcock. PS2: além do diretor e elenco, que trabalho primoroso de Gordon Willis e Nino Rota.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Semideuses

Uma coisa que sempre me intriga é a capacidade de certas pessoas de lidar bem com uma pressão coletiva gigante, mantendo sempre o que se espera delas, às vezes indo além. Exemplos: Einstein a partir de 1910, Beatles a partir de 1965, Caetano e Bowie na década de 70, esportistas como Pelé, Michael Phelps, Borg, Usain Bolt, alguns estilistas. Todos, ao menos durante um bom tempo, zombaram do fracasso. Aliás, Phelps e Bolt ainda zombam!

Boa Ação

O Corinthians resolveu perder sua invencibilidade no Brasileirão contra um time que está na zona de rebaixamento e quase não tem torcida (Atlético Goianiense). Melhor assim. Rumo ao penta!

Humanos 2

As pessoas têm inveja daquilo que gostariam de ter ou possuir ou usufruir, e que imaginam que nunca conseguirão. Poucas vezes se trata de dinheiro, porque a riqueza, no limite da fantasia, pode ser trazida pela sorte de um bilhete premiado, um casamento, herança etc. A inveja se manifesta mais pelo que o feio sente em relação ao bonito, o mediano ou só bonzinho diante do talentoso, iluminado etc. Nunca tive inveja porque no fundo sempre me senti capaz de muita coisa. Agora não sei.

Humanos

Pessoas idosas costumam despertar uma espécie de pena, comiseração entre os mais novos, já que teoricamente elas não dispõem de muito tempo, o bem supremo. É interessante notar que um aspecto concreto e importante dessa realidade costuma ficar encoberto: partindo do princípio óbvio de que todos vão morrer, e nem todo mundo vai viver muito, aquele senhor ou senhora idosa por quem sentimos piedade, ao menos já garantiu um tempo de existência que muitos não terão. Pode ter, inclusive, usufruído a vida como muito poucos jovens sequer poderiam sonhar – independentemente disso, pode até estar se divertindo no presente. Mas esta omissão faz sentido pela ótica humana – o que conta é o tempo por vir: dificilmente um Pablo Picasso aos 80 (ou antes), deixaria, se pudesse, de trocar sua vida pela de um João ninguém de 25. A lógica da vida não é matemática - no fundo aquela piedade que o jovem (ou menos velho) sente pelo velho é antes piedade antecipada de si mesmo.

Questão de ordem

Se algum jornal ou canal de TV importante abraçasse a causa de uma ONG patrocinada hipoteticamente por Fernandinho Beira Mar, haveria muita chiadeira, e com razão – afinal, em nenhuma hipótese a imprensa livre pode compactuar com o crime organizado. Pois se um partido político apoiou por anos e ainda apóia, declaradamente e sem rodeios, uma organização criminosa que, a pretexto de fazer justiça social, promove, entre outras brutalidades, o seqüestro e o assassinato de civis, mantendo-os em campos de concentração construídos na selva colombiana, além de ser umbilicalmente ligada ao narcotráfico, qual o problema de associar, ainda que indiretamente, seus integrantes a esta organização? É o que penso sobre essa gritaria toda do PT contra qualquer menção à proximidade do partido com as Farc. O mesmo em relação ao primeiro programa de governo de Dilma Rousseff, apresentado como oficial e depois apenas parcialmente cancelado, que continha tentações totalitárias de controle dos meios de comunicação, atentando contra a democracia e o sagrado direito de expressão - conquistas institucionais que a sociedade brasileira aquiriu às duras penas desde o fim da ditadura militar, e de que não pode abrir mão. E o pior é que a imprensa livre assiste a tudo como se não tivesse nada com isso - ou pior, já que uma boa parte dela parece encampar as queixas petistas de que "os udenistas" de sempre estariam fazendo tempestade em copo d’água. Lamentável, deprimente e perigoso.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

México

Bom o programa de Antony Bourdain no México. Os bares que eles chamam de ‘cantinas’ servem petiscos deliciosos, na faixa, contanto que se continue a beber - de preferência bem servidas doses de tequila. Não consigo imaginar isso acontecendo no Brasil, pelo menos com o mesmo grau de honestidade que esse tipo de regalo implica. A comida de rua é de primeira, e os famosíssimos ‘tacos al pastor’ parecem mesmo sensacionais - sem contar que o sotaque mexicano soa muito bem. No conheço o país, mas deveria, é um velho sonho que espero realizar em breve.

A boa babel

Naveguei ao acaso pelo Facebook dos Estados Unidos, e fiquei surpreso e bem impressionado com o número de descendentes latinos presentes no site, misturados aos "locals", aliás, sendo naturalmente locals eles mesmos. E para que isso não fosse simplesmente reflexo de tribos afins, começava repetidamente a navegação do zero, por alguém que não tivesse amizade com nenhum outro do círculo anterior. Acabei topando com ex-alunos latinos das melhores universidades do país, mas também com comerciantes, técnicos e executivos, jovens, coroas, e adolescentes de várias regiões dos Estados Unidos, cada qual integrado em meio à maioria de sobrenomes americanos mais típicos. Não que comunidades mais fechadas não existam dentro e fora do Face/América, claro que sim - no caso dos indianos e/ou paquistaneses, por exemplo, foi inevitável constatar que o círculo de amigos era formado em sua maioria por compatriotas e descendentes -, mas é de se perguntar quantos países populosos no mundo, nos últimos 60 anos, receberam e recebem tantos estrangeiros que vem para ficar, como acontece nos Estados Unidos. E sim, recebem, não "acolhem" – em grande escala, é o que acontece, o resto é demagogia barata. Evidente que é impossível receber todo o fluxo de gente que gostaria de viver lá, porque estamos falando de milhões de pessoas, de toda parte do mundo, razão pela qual o país tem sido injustamente taxado de 'segregador' e 'elitista', principalmente nos lugares em que o antiamericanismo já se tornou uma corrente dominante - ou seja, em muuuuuitos países, infelizmente.

Ruy Castro

Ruy Castro é um grande escritor, mas nunca lhe darão o devido crédito no Brasil, por ele não ser de “ficção”. Mas um autor capaz de uma obra-prima como ‘Chega de Saudade’, os deliciosos ‘Saudades do Século 20’ e ‘Ela é Carioca’, as extraordinárias biografias de Nelson Rodrigues e Garrincha só pode ser chamado de grande escritor.

terça-feira, 20 de julho de 2010

500 Dias com Ela - por que não gostei

Quem ainda não viu favor pular esse post. Dito isso, adiante. Não sei por que o filme tem sido tão elogiado. Claro que Zooey Deschanel e Joseph Gordon-Levitt formam um casal lindo, e dão conta do recado nos papéis de, respectivamente, Summer e Tom, mas a questão é que o ‘tal ciclo da paixão’ não é esmiuçado com a devida profundidade nesta comédia romântica que supostamente teria ‘subvertido’ as regras do gênero.

No filme, Summer é uma gata blasé de vinte e poucos, que aparentemente desaprova o romantismo explícito do namorado na relação, e sempre que pode o acusa de ser meio pegajoso etc. Na primeira metade do filme, assistimos o rapaz ser rejeitado das mais várias formas, mas eles seguem juntos por algum tempo. O que me incomodou é que, enquanto dura o namoro, Summer tenta enquadrar o parceiro com um discurso não romântico, como se essa postura tivesse sido fruto de uma genuína reflexão de uma vida amorosa intensa, como se sua atitude tivesse uma conexão com seu jeito de ser. Não é o caso. Conforme o rompimento se aproxima, e depois que ele acontece, constatamos que Summer de fato nunca tinha se apaixonado de verdade, portanto suas premissas eram falsas, sua atitude blasé para com o amor só uma defesa adolescente, imatura, e que, acima de tudo, suas críticas a Tom eram injustas – ele, sim, estava apaixonado e tentava apenas viver a paixão sem freios, uma postura mais do que louvável, adulta. O problema é que o filme finge que nada disso aconteceu, e isso me incomodou - há uma cena no final que sintetiza o que quero dizer: o já ex-casal se encontra casualmente na rua, ela casada com outro, ele ainda com dificuldade de aceitar o fim do namoro.

Bom, se o filme fosse intelectualmente honesto, crítico, Tom teria a oportunidade de dizer que o imaturo sempre foi ela e não ele; que o fato de ela nunca ter abraçado a relação se devia ao fato de que ela nunca chegou a se apaixonar por ele (e não porque tinha um jeito de amar mais blasé), e que tão logo isso aconteceu ela se casou, só isso, nada muito original. Mas não é o que vemos. Ela, por sua vez, de fato diz que com o marido tudo tinha sido diferente, mas omite que a postura de indiferença de antes não era um jeito de ser, apenas uma ignorância. Ou seja, ela poderia, agora, mais afetivamente madura, ter aproveitado para se desculpar por sua imaturidade, por não ter sido honesta com o ex, honesta de dizer que apenas não o queria o suficiente. Sim claro, eu tive minhas Summers em verões passados, e sofri o diabo com isso.

sábado, 17 de julho de 2010

JB

O começo da decadência do Jornal do Brasil, a partir do meio para o final dos anos 1980, coincide com o declínio da hegemonia cultural do Rio e a definitiva ascensão de São Paulo na cultura brasileira. Paralelamente, a Folha acabou segurando o bastão de jornal mais influente, mas nunca chegou nem perto do prestígio e do padrão classe A dos textos do jornal carioca. Hoje, quase na década de 10 do século 21, São Paulo se consolidou como “a” cidade hegemônica do país (Marina e Lobão que o digam), mas os jornais já nem têm tanta importância, ou melhor, têm cada vez menos importância, e é uma questão de tempo para que todos eles deixem de circular em papel. Até aí tudo bem, porque poderão existindo on line. O triste é ver um veículo importante ir definhando aos poucos até ficar irrelevante, por isso o fato de o JB impresso deixar de circular a partir de setembro não faz a menor diferença.

Caso Bruno

Pelo que pude acompanhar do caso Bruno, se ele estiver disposto a gastar seus milhões (que nem devem ser tantos assim), contratando um grande criminalista, pode se safar. E é bom lembrar que mesmo uma condenação de 10, 15 anos, no Brasil pode se transfomar facilmente em uma pena de dois, três anos... A ver, mas não duvido que o goleiro, que tem 25 anos, ainda volte ao futebol.

Will Ferrel

Já ‘Escorregando para a Glória' (2007), comédia besteirol sobre o mundo da patinação no gelo, não poderia ser mais diferente de Sorgo e Lili, mas, à sua maneira, é um bom filme. Uma inusitada dupla masculina, formada pelos ex-inimigos Will Ferrell e Jimmy Jon Heder, tenta o ouro olímpico em meio a sabotagens e contratempos. O filme brinca com clichês do politicamente correto com originalidade, o roteiro não perde a graça nunca, e o resultado é que se ri muito, sem culpa. O elenco todo manda bem, mas Will Ferrel está genial no papel do campeão gordo e viciado em sexo. Hilário!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Sorgo Vermelho

Outro filme excepcional é ‘O Sorgo Vermelho’ (1987), o primeiro e provavelmente o melhor longa de Zhang Yimou. A reconstituição de época também é impecável, mas desta vez a da China rural nos anos 20 e 30, numa aldeia onde impera a lei do mais forte - ou do menos fraco. Gong Li não está perfeita, está divina no papel de uma quase adolescente que acaba assumindo o negócio do marido arranjado – se não me falha a memória, uma confecção de tintas para tingimento de tecidos. A fotografia, deslumbrante, contrasta com a adversidade com que quase todos os personagens têm de lidar no dia a dia. A sequência de algumas das atrocidades cometidas pelos invasores japoneses permanece com uma das mais chocantes da história do cinema.

Fassbinder

Considero ‘Lili Marlene' (1980) um dos maiores filmes de todos os tempos. Tem um ritmo alucinante -, é um filme de ação e suspense do início ao fim - mas é também um filme ultra-romântico, violento, político. A reconstituição de época (final dos anos 30 na Alemanha) é nota mil. A trilha sonora de suspense, só à base de cordas, e aqueles closes à Sergio Leone criam um estranhamento. As interpretações beiram a perfeição, a história é fluente, e como não poderia de deixar de ser, a fotografia ocupa um papel central, meio esbranquiçada, glitter – sugere um sonho que sabemos que é realidade pura, na veia. Aliás, com um nome como esse - Rainer Werner Fassbinder, um cineasta já começa melhor que os outros. Que belo nome! Que artista!

Adjetivos, vírgulas e interjeições

No Brasil, desde pelo menos Graciliano, o adjetivo virou tabu, e seu uso passou a ser considerado coisa de principiantes cafonas. Ser um escritor "minimalista", abusar de economia de meios, virou obviamente um clichê modernoso (limar as vírgulas também). Nem as interjeições escaparam. O grande Nelson Rodrigues foi um dos poucos que peitaram o dogma. Tudo bem que ele podia, por ser um gênio da língua, mas no fundo todo mundo pode - sabendo usar, não vai faltar! Eu adoro adjetivos, vírgulas, e estou me lixando para os dogmas, ao menos estes!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Sopranos

Terminei de ver o último episódio dos Sopranos, lamentando como se fosse um grande romance que estivesse para acabar de ler. Tanta sordidez, violência, infelicidade, frustração e mesmo assim tudo funciona com uma Filarmônica de Berlim. Impecável, primoroso. Agora é começar a devorar os extras, que não são poucos.

terça-feira, 13 de julho de 2010

J.S. Bach, Concerto para quatro pianos em Lá Menor, BWV 1065

Sem palavras, há que se ouvir - no Youtube tem boas opções, como essa: http://www.youtube.com/watch?v=zg_IioVOnKY . Quem tiver pouco tempo pode ir diretamente para indicação de tempo 5 minutos e 30 segundos, sublime.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pelé - gols no Chile

Ainda a Copa. Ronaldo é o artilheiro máximo da Copas com 15 gols, mas é importante lembrar que Pelé, que marcou um total de 12, praticamente deixou de participar daquela que possivelmente seria sua Copa mais fácil, a do Chile (1962). Fácil tanto pela ausência de grandes adversários, como pelo fato de Pelé, aos 21 anos, estar no auge dos auges de sua forma física e técnica. Mas ele se machucou logo no segundo jogo, contra a Tchecoslováquia (na estréia, contra o México, anotou seu único tento, um golaço). Mas vamos supor que esta fatalidade não tivesse acontecido: Pelé teria jogado mais uma partida pela fase de grupos (Espanha), e mais três jogos – não havia oitavas de final -, a saber: Inglaterra (quartas), Chile (semi) e Tchecoslováquia (final). Seria interessante saber em que minuto Pelé se machucou contra os tchecos*. Se considerarmos que ele perdeu metade deste jogo, temos o seguinte: quatro jogos e meio. Não seria anormal que tivesse conseguido uma média de 2 gols por partida (diante das circunstâncias, é uma estimativa até bem conservadora), o que nos dá 9 gols mais! Portanto, Pelé poderia ostentar a espetacular marca de 21 gols, que seria imbatível. Um PS: o grande Coutinho também se machucou em 62, por isso não jogou, apesar de ter permanecido no grupo. Esta seria a dupla de ataque titular do Brasil, ao lado de Garrincha, mas os deuses do futebol não permitiram. Pepe também tinha se machucado, senão teria jogado no lugar de Zagallo. Com este trio e mais Pepe, a seleção teria feito pelo menos uns 30 gols naqueles seis jogos, o maior ataque da história das Copas!
PS2: os deuses também não permitiram que Romário (ainda em grande forma aos 32 anos), jogasse ao lado de Ronaldo Fenômeno na Copa de 98, outra lástima para o futebol-arte.

* De acordo com o livro do Lance!, Pelé se machucou aos 27 minutos do primeiro tempo, e voltou aos 34, só pra fazer número.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

California

Se o Estado americano da Califórnia fosse um país, provavelmente seria um dos mais interessantes e belos do mundo. E olha que eu nunca estive lá, mas pretendo!
PS: a palavra califórnia teria origem portuguesa, por conta do navegador português João Rodrigues Cabrilho. Ora pois, nada é perfeito, ó pá!

Artigo Demétrio Magnoli

Vou tomar a liberdade de postar na íntegra o artigo do sociólogo Demétrio Magnoli publicado hoje no Estado de S. Paulo (não sou assinante do jornal, mas como encontrei o texto na rede, não vejo nenhum problema em sua reprodução). Acho que ele captou como poucos uma questão essencial desta campanha presidencial de 2010, além de fazer uma síntese perfeita do pior legado dos anos Lula.

A escolha de Serra

José Serra quase desistiu de disputar a eleição presidencial no fim de janeiro. Haveria motivos para a desistência. O País cresce à taxa de 6% e o consumo explode, sob o influxo do real valorizado e do ingresso de capitais de curto prazo, num cenário de déficit na conta corrente que será sustentado durante o ciclo eleitoral. Dilma Rousseff é a candidata de Lula, do núcleo do setor financeiro, dos maiores grupos empresariais e da elite de neopelegos sindicais. A decisão de seguir em frente revela a coragem política do governador paulista. Contudo, contraditoriamente, sua estratégia de campanha reflete a sagacidade convencional dos marqueteiros, não o compromisso ousado de um estadista que rema contra a maré em circunstâncias excepcionais.
Marqueteiros leem pesquisas como seminaristas leem a Bíblia. Do alto de seu literalismo fetichista, disseram a Serra que confrontar Lula equivale a derrota certa. Então, o governador resolveu comparar sua biografia à da candidata palaciana. Mas Dilma não existe, exceto como metáfora, o que anula a estratégia serrista. "Vai ficar um vazio nessa cédula e, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula", explicou Lula, cuja estratégia não é definida por marqueteiros. O pseudônimo circunstancial de Lula representa uma política, que é o lulismo. A candidatura de Serra só tem sentido se ele diverge dessa política.
O lulismo não é a política macroeconômica do governo, tomada de empréstimo de FHC, mas uma concepção sobre o Estado. A sua vinheta de propaganda, divulgada com dinheiro público pelo marketing oficial, diz que o Brasil é "um país de todos". Eis a mentira a ser exposta. O Estado lulista é um conglomerado de interesses privados. Nele se acomodam a elite patrimonialista tradicional, a nova elite política petista, grandes empresas associadas aos fundos de pensão, centrais sindicais chapa-branca e movimentos sociais financiados pelo governo.
O Brasil não é "de todos", mas de alguns: as máfias que colonizam o aparelho de Estado por meio de indicações políticas para mais de 600 mil cargos de confiança em todos os níveis de governo. Num "país de todos", a administração pública é conduzida por uma burocracia profissional. O Brasil do lulismo, no qual José Sarney adquiriu o estatuto de "homem incomum", não fará uma reforma do Estado. Estaria Serra disposto a erguer essa bandeira, afrontando o patrimonialismo entranhado em sua própria base política?
O Brasil não é "de todos", mas de alguns: Eike Batista, o sócio do BNDES, "o melhor banco de fomento do mundo", nas suas palavras, do qual recebeu um presente de R$ 70 milhões numa operação escabrosa no mercado acionário. Também é o país dos controladores da Oi, que erguem um semimonopólio a partir de privilégios concedidos pelo governo, inclusive uma providencial alteração anticompetitiva na Lei Geral de Telecomunicações, e se preparam para formar uma parceria com a Telebrás no sistema de banda larga. O lulismo orienta-se na direção de um capitalismo de Estado no qual o BNDES, as estatais e os fundos de pensão transferem recursos públicos para empresários que orbitam ao redor do poder. Teria Serra a coragem de criticar o modelo em gestação, inscrevendo na sua plataforma a separação entre o interesse público e os interesses privados?
O Brasil não é "de todos", mas de alguns: a nova burocracia sindical, cuja influência não depende do apoio dos trabalhadores, mas do imposto compulsório de origem varguista, repaginado pelo lulismo. Ousaria Serra defender a adoção da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), declarando guerra ao neopeleguismo e retomando a palavra de ordem da liberdade sindical que um dia pertenceu ao PT e à CUT?
Num "país de todos", o sigilo bancário e o fiscal só podem ser quebrados por decisão judicial. No Brasil do lulismo, como atestam os casos de Francenildo Costa e Eduardo Jorge Caldas, eles valem menos que as conveniências de um poder inclinado a operar pela chantagem. Num "país de todos", a cidadania é um contrato apoiado no princípio da igualdade perante a lei. No Brasil do lulismo, os indivíduos ganham rótulos raciais oficiais, que regulam o exercício de direitos e traçam fronteiras sociais intransponíveis. Num "país de todos", a política externa subordina-se a valores consagrados na Constituição, como a promoção dos direitos humanos. No Brasil do lulismo, a palavra constitucional verga-se diante de ideologias propensas à celebração de ditaduras enroladas nos trapos de um visceral antiamericanismo. Estaria Serra disposto a falar de democracia, liberdade e igualdade, distinguindo-se do lulismo no campo estratégico dos valores fundamentais?
O lulismo é uma doutrina conservadora que veste uma fantasia de esquerda. Sob Lula, expandiram-se como nunca os programas de transferência direta de renda, que produzem evidentes dividendos eleitorais, mas pouco se fez nas esferas da educação, da saúde e da segurança pública. No país de alguns, os pobres não têm direito a escolas públicas e hospitais de qualidade ou à proteção do Estado diante do crime organizado. Teria Serra o desassombro de deixar ao relento os Eikes Batistas do mundo, comprometendo-se com um ambicioso plano de metas destinado a universalizar os direitos sociais?
Há um subtexto na decisão de Serra de comparar biografias. Ele está dizendo que existe um consenso político básico, cabendo aos eleitores a tarefa de definir o nome do gerente desse consenso nacional. É uma falsa mensagem, que Lula se encarrega de desmascarar todos os dias. Os brasileiros votarão num plebiscito sobre o lulismo. Se Serra não entender isso, perderá as eleições e deixará a cena como um político comum, impróprio para circunstâncias excepcionais. Mas ele ainda tem a oportunidade de escolher o caminho do estadista e perder as eleições falando de política. Nesse caso ? e só nesse! ? pode até mesmo triunfar nas urnas.

Ainda não

Um único grande jogo é capaz de salvar e justificar uma Copa do Mundo. Mas, a duas partidas de seu final, a África do Sul ainda não presenciou nenhum jogaço, que defino como uma partida bem disputada e com pelo menos um gol anotado, em que se criam e alternam chances de gols em profusão, de lado a lado (mas há também o caso, mais raro, em que apenas uma equipe joga, e ainda assim o jogo entra para a história, dado as maravilhas produzidas por esse time. É o caso do Brasil nas finais de 1958 e 70). Quem sabe na final, ou na decisão do terceiro lugar, mas é pouco provável.
PS: grandes jogos em Copas, para mim, são: Brasil 1X1 França e Argentina 3X2 Alemanha em 1986; Brasil 2X3 Itália e Alemanha 3X3 França em 82; Brasil 1X1 Holanda em 98. Brasil 4X1 Itália, Brasil 1X0 Inglaterra e Alemanha 3X4 Itália em 70; Brasil 4X2 Chile em 62; Alemanha 2x1 Holanda e Holanda 2X0 Brasil em 74; Argentina 3x1 Holanda em 78. Alemanha 3x2 Hungria e Hungria 4X2 Brasil em 54. Brasil 1x2 Uruguai em 1950; Brasil 5X2 França e Brasil 5x2 Suécia em 58. Enfim, coisas grandes, que ficam.

Morrissey

A canção Every day is like sunday, musicalmente falando, tem um dos melhores começos da história do pop. Em minha opinião, claro! http://www.youtube.com/watch?v=OmPKVvxFb1c

Hipocrisia

Há pouco mais de 10 anos, Pelé "revelou" a principal razão para que, aos 33 anos e em boa forma física e técnica, não jogasse a Copa de 74 na Alemanha: teria descoberto que a ditadura militar brasileira torturava presos políticos. Muito nobre, mas soa bem falso. Vamos supor que ele realmente tivesse descoberto a tortura somente em 1973 - considerando o grau de alienação dos jogadores de futebol ainda hoje, imagina-se naquele tempo, tudo bem. O ponto é outro. Faltou um jornalista menos camarada fazer a seguinte pergunta: "Pelé, caso você tivesse tomado conhecimento da tortura antes da Copa de 1970, auge da repressão, vc teria feito a mesma coisa, ou seja, teria deixado de tentar o tri no México?". Nem precisava responder.

Moderno

Li a pequena e bonita biografia escrita por Edmund White sobre Rimbaud. Difícil imaginar um artista tão concretamente à frente de seu tempo como Rimbaud. Que ele tenha criado a obra que criou (e a que viveu) no início da década de 70 do século 19, pré-Belle Époque, já é espantoso. E que esta obra tenha sido concebida entre os 15 e 19 anos do poeta, então... Por essas e por outras que adjetivos como genial, inovador, precursor, original etc., deveriam ser usados com muito mais parcimônia por aí, principalmente no que toca os auto-elogios... Argh!

Blá-Blá-Blá

Os analistas do futebol tentam criar, a posteriori, uma história factível e "lógica" sobre o jogo que terminou. Costumam eleger também os heróis e vilões do evento. Hoje a Espanha eliminou os alemães por 1X0. Tudo bem, mas não custava alguém ter lembrado que a ausência de Thomas Mueller (suspenso pelo segundo cartão amarelo) foi determinante, e não apenas um detalhe, e que os espanhóis se lançaram ao ataque com tanta intensidade e desde o início exatamente porque não tinham que se preocupar com esta grande promessa de craque de 20 anos. Não que o atacante fosse o único grande jogador alemão, mas sem ele a marcação ficou bem menos complicada para a Espanha. Mudou tudo. Mas isso não tira o mérito da Fúria, é claro, que foi inteligente e fez a sua parte.
PS: essa história de suspensão por apenas dois cartões amarelos devia ser revista. Aliás foi, já que os cartões passaram, a partir desta Copa, a serem zerados nas semifinais. A idéia era preservar os craques para a grande final, mas deveriam ter promovido a mudança já a partir das quartas - Mueller teria jogado hoje. De qualquer forma, muito melhor se apenas três cartões suspendessem o jogador - na Libertadores, os amarelos são decorativos, aí é um exagero. Mas condenar um jogador por ter recebido dois amarelos é frescura.
PS2: o Brasil foi eliminado pela Holanda porque Dunga perdeu Elano (contusão) e seu reserva imediato, Ramires (dois cartões). Foi muito azar do treinador, e foi determinante. O blá-blá-blá de que ele foi um fracasso é pura “análise a posteriori”.