sábado, 13 de março de 2010

Presença

Se o Rio não tivesse o morro Dois Irmãos, acho que seria um pouco menos obcecado pela cidade. Mas tem.

Confusão

Virou moda criticar fulano ou beltrano com o argumento de que este ou aquele se leva a sério. Acho estranho. Para fazer sentido, falta um advérbio. Uma coisa é se levar muito ou muuuuito a sério, o que tende a ser de fato ridículo, mesmo quando se trata de um grande em qualquer campo – ainda mais quando não é o caso... Mas outra é se levar a sério, ponto. É importante se levar a sério, muitas vezes crucial – quem não o faz pode simplesmente não sobreviver.

Horário de verão

Já faz três semanas que acabou, mas me deu vontade de falar do horário de verão. Não gosto. Acho uma imposição desagradável. Me irrita a obrigação de adiantar uma hora do meu relógio, porque não é uma mudança qualquer, ela afeta nosso relógio biológico. Além do mais, acho meio ridícula a mensagem sublimada de que com isso teríamos mais tempo para usufruir do verão - um tipo de compensação ao belo gesto cívico -, como se todos tivéssemos a obrigação de passear ou pedalar no fim da tarde, “aproveitando a estação”. Também não ajuda saber que a mudança é inútil – a economia é irrisória, e não se justifica num país com o potencial energético como o brasileiro. Mas podia ser pior - na Europa Ocidental o horário de verão dura uma eternidade, praticamente seis meses. Enfim, fico feliz quando o período acaba, e recebemos aquela hora de volta. PS: o verão já está no final, mas as temperaturas voltaram a ficar lá em cima em SP, com máximas em torno dos 32°C, e mínimas que não ficam abaixo de 22°C - precisamente agora, 18h08, faz 30°C. A novidade é uma umidade do ar preocupantemente baixa em boa parte do dia, inferior a 35%.

Neymar

Neymar deveria ser convocado para disputar a Copa do Mundo da África. Além do jeitão de supercraque, tem aquele entusiasmo que é difícil ver nos jogadores que atuam na Europa, mesmo os jovens, incluindo os brasileiros. Aliás, a Copa do Mundo nunca teve na Europa o mesmo apelo que tem no Brasil e Argentina, e nos últimos 15, 20 anos, com a globalização e a enxurrada de jogadores de toda a parte que passou a jogar lá, menos ainda - a prioridade dos torcedores é com seus seus clubes, a paixão pela seleção nacional é secundária, com a possível exceção da Espanha, que nunca conquistou um caneco e atualmente tem um time forte. Isso obviamente se reflete na postura dos jogadores que atuam no continente, e em relação aos brasileiros, mesmo tendo uma torcida fanática por sua seleção, não é diferente. Por isso, um craque como Neymar - mais um fenômeno à vista - seria tão importante: além de ainda não ter sido 'contaminado' com as eurochatices, está em grande fase, entrosado com Robinho e em franca evolução - mesmo que estacionasse no nível em que se encontra hoje, já seria um fora de série, mas é tentador especular que sua evolução pode não ter limites claros, talvez o de um Pelé - não acho isso impossível, pelo pouco que o vi jogar. Aliás, existe o perigo de que esta possibilidade não se concretize, com a provável transferência do jogador para algum grande clube europeu: os craques que viajam, principalmente os muito jovens, não costumam suportar as novas e chatas obrigações táticas defensivas que passam a ter nos novos times, o que prejudica seu desempenho. Foi assim com tantos, mas me vem à cabeça um caso recente, o de Breno, ex-São Paulo, que aos 18 anos pintava como um extraordinário líbero, mas logo foi negociado com o Bayern de Munique, e hoje, aos 20, não atua e pode ter se transformado num jogador comum, o que seria uma lástima. Penso que os seis ou sete superclubes europeus prestam um desserviço ao futebol, ao fazer questão de ter 15 ou 16 craques no elenco, pois é inevitável que muitos irão sobrar e ficar na reserva, milionários mas desmotivados. E é triste presenciar o declínio de grandes jogadores que, ainda jovens - se acomodam e praticamente se aposentam justamente no momento em que poderiam chegar ao ápice de suas carreiras. Espero que com Neymar não seja assim. Aliás, como me disse um santista ilustre, devemos investir na utopia e imaginar o jovem craque santista jogando no Brasil por muitos e muitos anos ainda. Pena que nem meu filhinho de três anos conseguiria acreditar nisso por mais de cinco minutos...