sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Escritores, sim

Na verdade a gente no Brasil fica meio com vergonha de dizer ou admitir que acompanha novelas. Constato que fiz exatamente isso no post de baixo, justificando por que estaria vendo uma (falta de TV por assinatura etc). É isso é injusto com essa dramaturgia dita industrial, porque às vezes - não muitas, é verdade - são trabalhos que conseguem ser bonitos e podem nos comover, o que não deixa de ser o desejo primeiro (ou último) de qualquer obra de arte. Devido talvez à longa extensão, elas costumam ser desiguais; são ao mesmo tempo boas e fracas, mesmo quando se trata daquelas que mais acertam que erram. Já vi muita novela na vida, principalmente na infância e adolescência – quando elas beiravam os 100% de audiência (de aparelhos ligados). De uns tempos para cá muito menos, previsivelmente. A última que vi quase inteira foi Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva, em 2004 – antes dela tb vinha de um período longo sem novelas, uns 10 anos ou mais. Senhora do Destino foi muitíssimo interessante, com uma trama rica e grande atuações, e foi tb um grande sucesso de público, com audiência lá em cima, comprovando que é burrice subestimar o público médio. Na época Silva deu uma declaração de que gostei, comparando o autor de uma novela das oito com um piloto de jumbo. Hoje acho que ele foi muito modesto, porque escrever uma novela do horário nobre, mesmo com uma equipe ajudando, deve ser mil vezes mais difícil e complexo do que pilotar aviões, seja do tamanho que for. Os autores merecem mesmo ganhar milhões (espero que ganhem), porque são a peça mais importante de uma engrenagem que fatura muito - talvez já esteja na casa do bilhão se pensarmos em toda a estrutura que direta e indiretamente é montada a partir do zero. Autores com Aguinaldo – que só com 'Senhora' já estaria na história da televisão brasileira - Manoel Carlos, Janete Clair, Dias Gomes, Gilberto Braga, Lauro César Muniz e alguns outros são grandes escritores (macrorroteiristas), e que não me venha alguém falar que não são, por não produzirem livros de ‘literatura pura’ etc, porque isso é puro preconceito e/ou despeito. Geralmente saem da boca de alguns professores de literatura e certos autores de livros tão pretensiosos quanto fracassados. PS: muita gente gosta de detonar as novelas por causa de sua iluminação chapada. Mas é óbvio que, por mais recursos que a Rede Globo possui - e eles não são poucos, porque não podem ser poucos - não seria possível sofisticar a luz de cada capítulo, porque estouraria menos o orçamento que o tempo. Seria inviável, então a fotografia chapada tem de ser vista como uma liçença poética, como comummente se faz no teatro.

Atorzão

Sem medo de queimar meu filme, vou falar da atual novela das oito, Viver a Vida. Nada como não ter mais tevê por assinatura para atacar de aberta, que afinal não tem só futebol e Jornal Nacional. Mas voltando à novela, estou impressionado com a atuação do ator que faz os gêmeos – o médico e o arquiteto. Ele (ainda não procurei o nome) está não menos que brilhante. Como toda novela, a atuação desigual do elenco fica gritando o tempo todo, mas quando ele entra em cena, esse desequilíbrio fica ainda mais absurdo. O cara é muito bom. E uma coisa fica bem clara. Não tem naturalismo que afete o desempenho de um grande ator quando este quer trabalhar para valer um bom texto. Em tempo. O ator em questão é Mateus Solano, 29 anos incompletos.

Boa!

No livro Pornopopéia, é muito legal e divertido ler um pequeno parágrafo em que a editora Objetiva justifica que, a pedido do autor, as novas (e esdrúxulas) regras ortográficas que passaram a vigorar (por decreto presidencial) em janeiro de 2009 (e que só serão obrigatórias a partir de 2013), NÃO foram seguidas. Grande Reinaldo Moraes, grande!!

Not yet

A Era Digital só terá chegado de fato quando o problema do gargalo da conexão for resolvido. Quando nossa atual capacidade média de transmissão de dados já estiver multiplicada ao menos por 10 mil, um milhão, dez milhões de vezes, um bilhão etc, aí sim, viveremos outra era. No yet. Porque hoje é como se fôssemos a entusiasmada sociedade do fim do século 19, vibrando com seus telefones e luz elétrica. Tinham razão de vibrar, já que as mudanças trazidas por esses inventos - entre outros - tinham sido brutais, e em questão de poucas décadas. Mas sabemos, claro, que o jogo estava apenas começando, e lentamente. Hoje tb vivemos uma era interessante e efervescente, tecnologicamente falando, e podemos brincar com alguns inventos, mas eles tb esperam por aperfeiçoamentos no curto e médio prazos. Para multiplicar por milhões ou bilhões a capacidade de transmissão, só para continuar neste exemplo, possivelmente vai levar muito mais tempo do que gostaríamos. Mas mesmo bem antes disso já será divertido, ninguém tem dúvida - espero estar dentro do jogo para ver umas coisinhas. Quem sabe.

Gabriel

Tem uma rádio que faz parte do iTunes chamada Radio Symphony que é excelente (e com qualidade de som bem acima da média), pena não poder escutá-la no celular, já que não possuo um smartphone (e nem pretendo, tão cedo). Os locutores mal falam o que está tocando ou tocou, mas tenho quase certeza que ouço precisamente agora o quinteto para piano (e cordas) nº2, de Fauré. Parece que tem um programa do google ou apple que identifica a origem de qualquer melodia, bastaria cantarolar. Incrível. Seria o caso de instalar um para tirar qualquer dúvida. Mas agora já tenho certeza que é mesmo Fauré, uma peça maravilhosa. PS: quando pensei em dar o nome de Gabriel ao meu filho, tentei me lembrar de algumas personalidades que tinham o prenome, mas ignorei Gabriel Fauré (me bastou o Arcanjo mesmo!). Injustiça, porque foi um gênio da música.

No alto

Logo que Tevez estreou no Corinthians, percebi, para minha alegria, que se tratava de um excepcional atacante. Já sabia, claro, que ele tinha potencial, desde o tempo em que, ainda antes dos 20 anos, conseguia se destacar no forte Boca Juniors da época (2003 e 2004). Mas penso que foi no Corinthians, que Tevez, aos 21, amadureceu, me fazendo lembrar de Edmundo em sua melhor fase - pelo arranque, habilidade e velocidade incríveis. Além de tudo, tinha ótimo passe e finalizava bem, ou seja, um craque. Achei estranho o United não ter feito questão de segurá-lo. Bom, agora no City, vem mostrando que é de fato um dos melhores jogadores do mundo. Grande Tevez e PS: mesmo não tendo conseguido brilhar na Europa - ao menos brilhar como sabemos que pode - continuo achando Robinho um dos maiores jogadores de futebol que apareceu nos últimos 20 anos. Quem sabe, voltando para o Santos, ele volte a nos encantar, isso com a devida restrição de que sempre foi, à maneira de Pelé, um carrasco para o meu time. Mas tudo bem, porque no caso de acontecer - e espero mesmo que aconteça - temos Ronaldo, um legítimo monstro sagrado, gosto desta expressão.