domingo, 27 de fevereiro de 2011

O processo

Post* de um blog de literatura cheio de diquinhas pseudo-espertas para escritores aspirantes. “Escreva, reescreva, jogue fora, puxe pela memória etc.”, parece receita de bolo. É o trololó “moderno-minimalista” de sempre, e já centenário. No limite, o sujeito vai escrever uma frase a cada dez dias, bem lapidada, claro, tudo muito sério, profundo, “enxuto”. E mesmo que o discurso não tivesse o surrado viés do minimalismo, um escritor, qualquer um, que se sujeita a fórmulas, e tão rígidas como aquelas, merece cair imediatamente no ridículo, porque obviamente está se levando muito a sério. Afinal, boa parte de tudo o que se produz, é irrelevante, é ruim, sempre foi assim. Uma obra menor a mais não faz a menor diferença, é até bem-vinda. Se ela se sobressair, ótimo, sucesso à vista, mas é o tal “processo” que seduz quem se arrisca a criar.

* http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/sobrescritos/conselhos-literarios-fundamentais-i/

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Embra

Quase todo cineasta brasileiro de 50 anos para cima diz que o cinema brasileiro "tinha morrido" com o fim da Embrafilme, decretado logo no início do governo Collor, em 1990. Curioso. Como funcionavam as coisas antes? A verdade é que a criação dessa estatal, em 1969, em plena era de chumbo da ditadura militar, e sua rápida adesão por parte dos cineastas que se opunham ao regime, é uma das (muitas) bizarrices da cena político-artística brasileira - um case mundial! Argh. Merece um post bem maior, que será feito assim que eu conseguir um tempinho para o blog.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sebald filmado?

Nada como um programa atrás do outro. Na mesmíssima TV Sesc, dentro do mesmo programa (Direções), logo depois do tal teleteatro capenga, eis que surge um belíssimo curta-metragem em 35 mm, "Olhos de Ressaca", de Petra Costa, (colorido, 20 minutos) sobre as reminiscências de um casal na faixa dos 80 anos, feliz, saudável, sereno e com um quê de tristeza, há décadas vivendo numa fazenda.

Trata-se de uma linda reflexão sobre o passar do tempo, da finitude, e zero pieguice, porque os depoimentos de cada um são para lá de interessantes, sábeis, e as soluções visuais e narrativas escolhidas por Petra, bastante criativas. A diretora mistura com habilidade registros atuais do casal (que nunca falam olhando para a câmera), em bela fotografia, ótima edição de som e bons enquadramentos, com imagens - possivelmente reais - do passado da família, registradas em película (Super 8?) - os quatro filhos pequenos brincando entre si e com os pais, ainda jovens e (muito) bonitos, seqüências de passeios na fazenda, no presente, lembranças dos pais deles, de como se conheceram, do namoro, do casamento, tudo em poucas frases - é uma arqueologia poético-impressionista daquela família, daquele casal, já que dos filhos nada sabemos sobre o seu presente (ou futuro melhor dizendo).

Aqui e ali, sem cansar, um e outro se alternam na leitura de alguma poesia ou trecho de romances marcantes para eles - trechos nada óbvios de Drumond, Rosa etc. A cumplicidade dos dois, a relação suave entre eles, doce, é tocante. Filme muito bem concebido e realizado. No final a bela senhora diz, se referindo ao companheiro - "nossa vida é entrelaçada".

Claro que toda vida rende um filme. Às vezes o enredo ajuda, mas sempre precisa do talento do realizador.

TV Sesc na madrugada e Lost

Apresentação de um trio que podia ser detido por tentativa de agressão física à música e aos pobres instrumentos - bateria/percussão, piano e contrabaixo acústico. Uma sonoridade sub, sub, sub-Gismonti, com improvisos horripilantes e música que não expressa nada, ou melhor, expressa um mal estar de não acabar nunca - o tempo parece parar, no pior sentido.

Já o episódio de Lost (de que nunca fui muito fã) exibido pela Globo, mesmo dublado, foi absurdamente bem realizado, horripilante no melhor sentido. O elenco feminino é de uma beleza (multiracial) incomparável, sempre com atuações de primeira.

PS: Ainda na TV Sesc, agora entrou um 'teleteatro' que tenta ser uma 'commedia dell'arte' metalingüística, com atores veteranos e desconhecidos; texto de quinta. Eita como se desperdiça energia!

TV

Nada mal o programa "Classe Turística - brasileiros no exterior", exibido pela TV Bandeirantes. Uma idéia boa, que estava dando sopa. Vi só um, o de Barcelona, e foi interessante porque os brasileiros entrevistados, mesmo sem querer, deixaram passar uma solidão e uma certa perplexidade bem típicas de quem é estrangeiro e não tem vida fácil de endinheirado. Diversidade de personagens, de abordagens, enfim, bom. E demorou, porque com o novo "milagre", daqui a pouco todo o povo tá de volta...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ronaldo

Fui pego de surpresa com a aposentadoria do grande Ronaldo Nazário. O futebol brasileiro fica obviamente mais sem graça sem ele, e os críticos cri-cri terão de escolher outra vítima. Neymar que se prepare.

Ronaldo teve momentos memoráveis em sua volta ao Brasil em 2009, vestindo a camisa do Corinthians, a despeito das toneladas de bobagens que saíram na imprensa esportiva na época, projetando seu fracasso antes mesmo que ele estreasse.
 
A estréia marcante contra o Palmeiras, com direto a drible de chaleira e gol de cabeça no acréscimos, os gols de antologia contra o Santos, na Vila, pela semi do Paulistão, o gol decisivo contra o Internacional, na final da Copa do Brasil, no Pacaembu, em que colocou o bom zagueiro Índio para dançar com um corte seco e tiro rasteiro com o pé esquerdo, no canto do goleiro; um de voleio contra a Ponte Preta, de alta precisão, em que trocou de pé no último momento, coisa de gênio. Sem contar os passes quase sempre precisos, o toque na bola diferenciado, os deslocamentos que confundiam as defesas e a visão de jogo que só os grandes mestres possuem. Em 2010, as seguidas contusões atrapalharam, mas ele continuou fazendo a diferença.

PS: Ronaldo tem uma trajetória atípica em relação aos grandes craques da história do futebol, ele que foi um deles, com todos os méritos e sem questionamentos - apesar de ter feito seu nome nos clubes, com impressionantes média de gols e arrancadas, os grandes títulos ficaram restritos à sua passagem pela Seleção Brasileira. Isso se explica pelo fato de que o excepcional atacante quase nunca jogava no melhor time do campeonato que disputava, com exceção do Real Madrid de 2003, no qual foi campeão nacional. Se o Corinthians não tivesse perdido alguns de seus principais jogadores no meio de 2009, talvez triunfasse no Brasileirão e/ou na Libertadores, títulos que compensariam com sobras o que lhe faltou na Europa. Mas não será mais possível, uma pena. Valeu Fenômeno!

PS2: Zico considerava os dribles em velocidade a qualidade mais marcante de Ronaldo, o que o fazia único. Da minha parte, lembro que Pelé, no auge, também tinha essa característica, e não muitos outros.

PS3: Não sei por que Ronaldo, tão bem conectado ao marketing, não coloca no mercado um DVD com TODOS os seus mais de 400 gols como jogador profissional. Ele já é de uma época em que há registros completos, imagino, diferente de Pelé, claro. Dizem que há dezenas de obras-primas em sua passagem pelo PSV, quando ainda não era tão conhecido, mas quase não se mostra. Sinto falta de um produto assim com Maradona, por exemplo.

PS4: Ronaldo chorou na entrevista coletiva ao se referir à torcida do Corinthians. Certamente não agradecia aos imbecis das organizadas, que só fazem piorar o nosso futebol, mas aos torcedores comuns, como eu, que o receberam de braços abertos. Como corintiano e amante do bom futebol, me emocionei também.

Jogos/gols Ronaldo: Fonte Wikipédia.
 
Cruzeiro (1993-94): 46 jogos, 44 gols.
PSV Heindhoven (94-96): 57 jogos, 54 gols.
Barcelona (96-97): 49 jogos, 47 gols.
Internazionale de Milão (97-2002): 99 jogos, 59 gols.
Real Madri (2002-2007): 177 jogos, 104 gols.
Milan (2007-2008): 20 jogos, 9 gols.
Corinthians (2009-2011): 69 jogos, 35 gols
 
Seleção Brasileira (1994-2006): 97 jogos, 62 gols.
 
Total: 614 jogos, 414 gols, média de 0.67. Números notáveis, mas frios, como toda estatística - e quanto à profusão de dribles, canetas, arranques, passes, lançamentos etc? Isso tudo somado é que fez dele um dos grandes da história.

Copacabana (1946)

Do gênio Braguinha, com o grande Dick Farney. Não consegui a versão original, mas a que segue está bem bonita.

http://www.youtube.com/watch?v=BRn_b7KVZO0

Noturno (1979)

Interpretada em grande estilo por Raimundo Fagner, esta gravação é uma obra-prima da MPB. A canção foi composta pelos irmãos cearenses Graco e Caio Sílvio. Ideal para ouvir bem alto no carro, cantando também bem alto (se possível em dupla), o refrão Ai, Coração Alaaaaaaaaaado!

http://www.youtube.com/watch?v=RbwLJGgU138

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Política e futuro

Não dou muita fé na cobertura de política feita por correspondentes estrangeiros, de cá e de lá. É que se os gringos que trabalham aqui - das melhores publicações possíveis -, conseguem entender tão mal o Brasil, ou, na melhor das hipóteses, não entendem bem o suficiente, por que seria diferente no resto do mundo? Claro que o básico é fácil de capturar e transmitir, e o entendimento do xadrez político das nações está bem servido de especialistas. Já as nuances, que fazem toda a diferença, não. 
Quando os assuntos são de outras áreas, como música, literatura, comportamento, nada contra a visão do estrangeiro, pelo contrário, mas política é outra história – há que se conhecer um país a fundo, e a maioria dos estrangeiros não chegará lá, incluindo brasileiros no exterior, claro. E o estranho é que isso não se restringe a povos de cultura muito diversa ou muito distantes entre si. É algo que se dá mesmo entre países vizinhos, que têm a mesma religião e podem falar a mesma língua, como Uruguai e Chile, Estados Unidos e Canadá, Brasil e Argentina etc. Então qual seria a solução? Ler jornais no original, ou parte deles (mal) traduzidos?
Honestamente, penso que não há solução no curto prazo - nosso destino, mesmo na era da informação, é processar apenas uma fração ínfima do dia a dia dos que vivem em outra sociedade. Mas no tempo em que o deslocamento for questão de segundos, seja qual for a distância, as coisas evidentemente mudarão radicalmente - o comportamento do ser humano tende a se homogeneizar (argh!), e talvez um grande e único idioma se forme. Mas vai levar tempo!

Turismo


Não basta o lugar ser badalado ou bonito (lindo), interessante ou histórico etc. Acho que tem que haver uma comunhão para queremos voltar. Não precisa acontecer logo de primeira, mas tem que acontecer. Para mim, às vezes acontece o contrário: não me sentir bem em um dado destino, e desde a chegada. Neste caso, dificilmente consigo reverter a sensação de mal estar. Exemplos. Em Interlaken, na Suíça, senti uma tristeza que me fez quase sair correndo. No Brasil, não me sinto confortável em Paraty ou Ouro Preto. Em Morro de São Paulo até consegui reverter, mas o melhor dia foi o último, voltando para Valença de balsa, pelo belo rio Una. Coisas que não se explicam.

Baba O' Riley (1971)

Essa música espetacular ainda por cima está num compasso completamente fora dos padrões do pop - e não só do pop: 7 por 6! Descobri isso assistindo a um dos documentários sobre a feitura de álbuns clássicos do pop/rock de todos os tempos, que o canal History exibiu uns anos atrás - eram ótimos.  No caso do The Who, o programa mostrou, claro, os bastidores de Who´s Next. Possuo o disco desde os anos oitenta, o qual me foi emprestado e depois dado por Pedro Autran, expert em vários gêneros musicais.

http://www.youtube.com/watch?v=x2KRpRMSu4g

Doc chapa-branca

Documentário da TV Sesc* com atores do projeto Prêt-à-porter em depoimentos totalmente deslumbrados com as montagens. Os auto-elogios da troupe (são eles os protagonistas e elogiam o próprio desempenho) se alternam com elogios rasgados ao método de representação desenvolvido por Antunes, como se esse grande encenador tivesse criado tudo no éter... Como se a psicanálise e o surrealismo não tivessem mudado o registro do teatro a partir já do comecinho do século 20. Nenhum crítico é ouvido para avaliar as peças. Constrangedor, porque o diretor não precisa desse tipo de doc chapa-branca, de jeito nenhum! E constrangedor para os atores, que pagam mico. 

* Programa "Teatro e Circunstância".

"I gave myself fifty percent"

Cena crucial de Cassino (1995), em que o personagem de De Niro está para se encontrar com o de Joe Pesci, um assassino compulsivo, e não está muito otimista que vai sair vivo de lá. Scorsese, um virtuose, compõe um quadro dessa tensão com imagens refletidas no espelho retrovisor do carro de De Niro, ao chegar ao local (deserto de Nevada) e espalhando areia pela estrada, meio em slow. Como fundo musical, um tema de rara beleza, 'Thème de Camille', de Georges Delerue. Que cena.

Segue link tema: http://www.youtube.com/watch?v=NyyeqADH7p8

PS: por falar em Cassino, James Woods é um ator espetacular, e a grande Sharon Stone merecia ter levado o Oscar de melhor atriz por Cassino - perdeu para Susan Sarandon em Os Últimos Passos de um Homem.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Beatriz Sarlo e Kirchner

Longuérrimo ensaio pulicado pelo cadeno Prosa & Verso (O Globo), em que a autora argentina tece loas à trajetória do ex-presidente, bem como da sua herança política. Tocante. Argh. Para quem estiver com o estômago (e a paciência) em dia: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2011/02/05/a-sombra-de-kirchner-ensaio-inedito-de-beatriz-sarlo-361207.asp

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Relíquia

O melhor da (boa) entrevista de Caetano para a revista Serafina, foi a foto do manuscrito original (de um caderninho), com a letra de Alegria, Alegria, em bela caligrafia.