sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Llosa e a velha patrulha

Mario Vargas Llosa levou o Nobel, mas a intelligentsia pucusp-unicampiana não poderia saudá-lo assim, sem mais nem menos, afinal o grande escritor há muito abandonou a esquerda como alternativa para o desenvolvimento. Na Folha Ilustrada de hoje, um texto de Laura Janina Hosiasson, professora de literatura hispano-americana na FFLCH da USP, reconhece os méritos estéticos de Llosa, mas faz questão de ressalvar sua mudança ideológica. Até aí tudo bem. O problema é escrever mentiras para justificar sua tese. Laura diz, por exemplo, que Llosa era o candidato conservador nas eleições presidenciais de 1990, contra Alberto Fujimori. Ou seja, para ela, progressista era Fujimori, certo? E provavelmente porque Llosa fez uma campanha em que defendia as bandeiras da economia de mercado e do Estado democrático. Mui conservador, né?! Em outro trecho, a professora acusa o Llosa articulista e intelectual de ter “endireitado”, o que não teria nada demais em si, se sua explicação para o fenômeno não fosse a seguinte pérola da análise política: Llosa teria guinado para a direita porque passou a “amenizar, contemporizar, aparar arestas”. Isso lá é definição da atuação da direita, qualquer direita? E é tudo o que o escritor não vem fazendo. Pelo contrário. Sem jamais se deixar intimidar, em textos sempre brilhantes, publicados nos principais jornais do mundo, ele compra brigas com quem ainda defende estados totalitários, de esquerda ou de direita, mas certamente aí reside o problema - defender o lado errado, ou atacar o certo. Se Llosa ao menos defendesse o regime cubano, Laura possivelmente não lhe pegaria tanto no pé...  Mas a professora faz ainda pior. Estabelece um paralelo arbitrário, em que a literatura de Llosa decai em valor artístico na medida em que o autor vai guinando da esquerda para a direita. Está tudo no trecho " (...) penso que a fórmula que o grande escritor peruano encontrou para costurar sua vocação literária com a do político está na raiz de uma retração na qualidade da escrita"  Mesmo que a coincidência fosse verdadeira - e penso que não é - seria absurdo considerar que fosse um caminho deliberado. Argh.