quinta-feira, 8 de julho de 2010

California

Se o Estado americano da Califórnia fosse um país, provavelmente seria um dos mais interessantes e belos do mundo. E olha que eu nunca estive lá, mas pretendo!
PS: a palavra califórnia teria origem portuguesa, por conta do navegador português João Rodrigues Cabrilho. Ora pois, nada é perfeito, ó pá!

Artigo Demétrio Magnoli

Vou tomar a liberdade de postar na íntegra o artigo do sociólogo Demétrio Magnoli publicado hoje no Estado de S. Paulo (não sou assinante do jornal, mas como encontrei o texto na rede, não vejo nenhum problema em sua reprodução). Acho que ele captou como poucos uma questão essencial desta campanha presidencial de 2010, além de fazer uma síntese perfeita do pior legado dos anos Lula.

A escolha de Serra

José Serra quase desistiu de disputar a eleição presidencial no fim de janeiro. Haveria motivos para a desistência. O País cresce à taxa de 6% e o consumo explode, sob o influxo do real valorizado e do ingresso de capitais de curto prazo, num cenário de déficit na conta corrente que será sustentado durante o ciclo eleitoral. Dilma Rousseff é a candidata de Lula, do núcleo do setor financeiro, dos maiores grupos empresariais e da elite de neopelegos sindicais. A decisão de seguir em frente revela a coragem política do governador paulista. Contudo, contraditoriamente, sua estratégia de campanha reflete a sagacidade convencional dos marqueteiros, não o compromisso ousado de um estadista que rema contra a maré em circunstâncias excepcionais.
Marqueteiros leem pesquisas como seminaristas leem a Bíblia. Do alto de seu literalismo fetichista, disseram a Serra que confrontar Lula equivale a derrota certa. Então, o governador resolveu comparar sua biografia à da candidata palaciana. Mas Dilma não existe, exceto como metáfora, o que anula a estratégia serrista. "Vai ficar um vazio nessa cédula e, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula", explicou Lula, cuja estratégia não é definida por marqueteiros. O pseudônimo circunstancial de Lula representa uma política, que é o lulismo. A candidatura de Serra só tem sentido se ele diverge dessa política.
O lulismo não é a política macroeconômica do governo, tomada de empréstimo de FHC, mas uma concepção sobre o Estado. A sua vinheta de propaganda, divulgada com dinheiro público pelo marketing oficial, diz que o Brasil é "um país de todos". Eis a mentira a ser exposta. O Estado lulista é um conglomerado de interesses privados. Nele se acomodam a elite patrimonialista tradicional, a nova elite política petista, grandes empresas associadas aos fundos de pensão, centrais sindicais chapa-branca e movimentos sociais financiados pelo governo.
O Brasil não é "de todos", mas de alguns: as máfias que colonizam o aparelho de Estado por meio de indicações políticas para mais de 600 mil cargos de confiança em todos os níveis de governo. Num "país de todos", a administração pública é conduzida por uma burocracia profissional. O Brasil do lulismo, no qual José Sarney adquiriu o estatuto de "homem incomum", não fará uma reforma do Estado. Estaria Serra disposto a erguer essa bandeira, afrontando o patrimonialismo entranhado em sua própria base política?
O Brasil não é "de todos", mas de alguns: Eike Batista, o sócio do BNDES, "o melhor banco de fomento do mundo", nas suas palavras, do qual recebeu um presente de R$ 70 milhões numa operação escabrosa no mercado acionário. Também é o país dos controladores da Oi, que erguem um semimonopólio a partir de privilégios concedidos pelo governo, inclusive uma providencial alteração anticompetitiva na Lei Geral de Telecomunicações, e se preparam para formar uma parceria com a Telebrás no sistema de banda larga. O lulismo orienta-se na direção de um capitalismo de Estado no qual o BNDES, as estatais e os fundos de pensão transferem recursos públicos para empresários que orbitam ao redor do poder. Teria Serra a coragem de criticar o modelo em gestação, inscrevendo na sua plataforma a separação entre o interesse público e os interesses privados?
O Brasil não é "de todos", mas de alguns: a nova burocracia sindical, cuja influência não depende do apoio dos trabalhadores, mas do imposto compulsório de origem varguista, repaginado pelo lulismo. Ousaria Serra defender a adoção da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), declarando guerra ao neopeleguismo e retomando a palavra de ordem da liberdade sindical que um dia pertenceu ao PT e à CUT?
Num "país de todos", o sigilo bancário e o fiscal só podem ser quebrados por decisão judicial. No Brasil do lulismo, como atestam os casos de Francenildo Costa e Eduardo Jorge Caldas, eles valem menos que as conveniências de um poder inclinado a operar pela chantagem. Num "país de todos", a cidadania é um contrato apoiado no princípio da igualdade perante a lei. No Brasil do lulismo, os indivíduos ganham rótulos raciais oficiais, que regulam o exercício de direitos e traçam fronteiras sociais intransponíveis. Num "país de todos", a política externa subordina-se a valores consagrados na Constituição, como a promoção dos direitos humanos. No Brasil do lulismo, a palavra constitucional verga-se diante de ideologias propensas à celebração de ditaduras enroladas nos trapos de um visceral antiamericanismo. Estaria Serra disposto a falar de democracia, liberdade e igualdade, distinguindo-se do lulismo no campo estratégico dos valores fundamentais?
O lulismo é uma doutrina conservadora que veste uma fantasia de esquerda. Sob Lula, expandiram-se como nunca os programas de transferência direta de renda, que produzem evidentes dividendos eleitorais, mas pouco se fez nas esferas da educação, da saúde e da segurança pública. No país de alguns, os pobres não têm direito a escolas públicas e hospitais de qualidade ou à proteção do Estado diante do crime organizado. Teria Serra o desassombro de deixar ao relento os Eikes Batistas do mundo, comprometendo-se com um ambicioso plano de metas destinado a universalizar os direitos sociais?
Há um subtexto na decisão de Serra de comparar biografias. Ele está dizendo que existe um consenso político básico, cabendo aos eleitores a tarefa de definir o nome do gerente desse consenso nacional. É uma falsa mensagem, que Lula se encarrega de desmascarar todos os dias. Os brasileiros votarão num plebiscito sobre o lulismo. Se Serra não entender isso, perderá as eleições e deixará a cena como um político comum, impróprio para circunstâncias excepcionais. Mas ele ainda tem a oportunidade de escolher o caminho do estadista e perder as eleições falando de política. Nesse caso ? e só nesse! ? pode até mesmo triunfar nas urnas.

Ainda não

Um único grande jogo é capaz de salvar e justificar uma Copa do Mundo. Mas, a duas partidas de seu final, a África do Sul ainda não presenciou nenhum jogaço, que defino como uma partida bem disputada e com pelo menos um gol anotado, em que se criam e alternam chances de gols em profusão, de lado a lado (mas há também o caso, mais raro, em que apenas uma equipe joga, e ainda assim o jogo entra para a história, dado as maravilhas produzidas por esse time. É o caso do Brasil nas finais de 1958 e 70). Quem sabe na final, ou na decisão do terceiro lugar, mas é pouco provável.
PS: grandes jogos em Copas, para mim, são: Brasil 1X1 França e Argentina 3X2 Alemanha em 1986; Brasil 2X3 Itália e Alemanha 3X3 França em 82; Brasil 1X1 Holanda em 98. Brasil 4X1 Itália, Brasil 1X0 Inglaterra e Alemanha 3X4 Itália em 70; Brasil 4X2 Chile em 62; Alemanha 2x1 Holanda e Holanda 2X0 Brasil em 74; Argentina 3x1 Holanda em 78. Alemanha 3x2 Hungria e Hungria 4X2 Brasil em 54. Brasil 1x2 Uruguai em 1950; Brasil 5X2 França e Brasil 5x2 Suécia em 58. Enfim, coisas grandes, que ficam.

Morrissey

A canção Every day is like sunday, musicalmente falando, tem um dos melhores começos da história do pop. Em minha opinião, claro! http://www.youtube.com/watch?v=OmPKVvxFb1c

Hipocrisia

Há pouco mais de 10 anos, Pelé "revelou" a principal razão para que, aos 33 anos e em boa forma física e técnica, não jogasse a Copa de 74 na Alemanha: teria descoberto que a ditadura militar brasileira torturava presos políticos. Muito nobre, mas soa bem falso. Vamos supor que ele realmente tivesse descoberto a tortura somente em 1973 - considerando o grau de alienação dos jogadores de futebol ainda hoje, imagina-se naquele tempo, tudo bem. O ponto é outro. Faltou um jornalista menos camarada fazer a seguinte pergunta: "Pelé, caso você tivesse tomado conhecimento da tortura antes da Copa de 1970, auge da repressão, vc teria feito a mesma coisa, ou seja, teria deixado de tentar o tri no México?". Nem precisava responder.

Moderno

Li a pequena e bonita biografia escrita por Edmund White sobre Rimbaud. Difícil imaginar um artista tão concretamente à frente de seu tempo como Rimbaud. Que ele tenha criado a obra que criou (e a que viveu) no início da década de 70 do século 19, pré-Belle Époque, já é espantoso. E que esta obra tenha sido concebida entre os 15 e 19 anos do poeta, então... Por essas e por outras que adjetivos como genial, inovador, precursor, original etc., deveriam ser usados com muito mais parcimônia por aí, principalmente no que toca os auto-elogios... Argh!

Blá-Blá-Blá

Os analistas do futebol tentam criar, a posteriori, uma história factível e "lógica" sobre o jogo que terminou. Costumam eleger também os heróis e vilões do evento. Hoje a Espanha eliminou os alemães por 1X0. Tudo bem, mas não custava alguém ter lembrado que a ausência de Thomas Mueller (suspenso pelo segundo cartão amarelo) foi determinante, e não apenas um detalhe, e que os espanhóis se lançaram ao ataque com tanta intensidade e desde o início exatamente porque não tinham que se preocupar com esta grande promessa de craque de 20 anos. Não que o atacante fosse o único grande jogador alemão, mas sem ele a marcação ficou bem menos complicada para a Espanha. Mudou tudo. Mas isso não tira o mérito da Fúria, é claro, que foi inteligente e fez a sua parte.
PS: essa história de suspensão por apenas dois cartões amarelos devia ser revista. Aliás foi, já que os cartões passaram, a partir desta Copa, a serem zerados nas semifinais. A idéia era preservar os craques para a grande final, mas deveriam ter promovido a mudança já a partir das quartas - Mueller teria jogado hoje. De qualquer forma, muito melhor se apenas três cartões suspendessem o jogador - na Libertadores, os amarelos são decorativos, aí é um exagero. Mas condenar um jogador por ter recebido dois amarelos é frescura.
PS2: o Brasil foi eliminado pela Holanda porque Dunga perdeu Elano (contusão) e seu reserva imediato, Ramires (dois cartões). Foi muito azar do treinador, e foi determinante. O blá-blá-blá de que ele foi um fracasso é pura “análise a posteriori”.