quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dois filmes

Não é que "Insolação" (Felipe Hirsch e Daniela Thomas) seja um filme pretencioso. O problema dele é ser ridículo. Já "Aproximação" (Amos Gitai) é um tanto esquemático, mas bem realizado. Ambos têm três estrelinhas na seção de filmes da Folha de S. Paulo, sei lá por quê.

Armando Nogueira

Armando Nogueira foi um grande personagem da imprensa brasileira. Fez carreira por mérito e talento próprios. Em seus textos, apesar de romântico inveterado, cultivava a lucidez, por isso duvido que ele aprovasse boa parte dos textos recentes que saíram na imprensa esportiva, a pretexto de homenageá-lo, por seu passamento. O tom sobre a sua obra foi exagerado, de louvação - foi mais de uma vez comparado a Nelson Rodrigues, nada a ver. Nelson foi um gênio que podia ser tudo, menos piegas, e a pieguice de fato dava as caras, aqui e ali, nas colunas de Nogueira sobre futebol, apesar dos belos achados e do seu texto elegante. E sim, ele teve o mérito de ajudar a criar o formato do Jornal Nacional, mas enquanto o comandou, por 20 anos (até início de 1990), o jornalismo da Globo, ainda que disparado o mais bem feito em relação à concorrência (como é até hoje), era sisudo, conservador e exageradamente voltado para o Rio de Janeiro (hoje é São Paulo). Tudo bem que isso refletia uma época do país, mais careta, mas Armando Nogueira era o primeiro a sair em defesa desta postura retrógrada, que descartava, por exemplo, uma apresentadora mulher para o JN, porque "o brasileiro ainda não estaria preparado", isso eu li numa entrevista dele para a revista Playboy, já no final dos anos 1980 - acho que em 88 - entre outras pérolas. Uma delas, a de que o noticiário mais importante do Brasil não poderia ultrapassar os 30 minutos, de jeito nenhum, tb por 'culpa' de um suposto conservadorismo do telespectador, que se 'cansaria'. Há também o episódio da não cobertura do início do movimento Diretas Já, que foi uma atitude bizarra da TV Globo, e sob sua batuta - não vale jogar a responsabilidade nas costas de Roberto Marinho, já que Nogueira, como manda-chuva do jornalismo da emissora, poderia ter pedido demissão, não era obrigado a fingir que nada acontecia. De qualquer forma, foi um jornalista importante, e justamente por isso dispensa essa camaradagem subserviente, que se aproveita do momento para bajular e se promover. Os que de fato privaram de sua convivência não precisam sair por aí gritando, e de fato não estão fazendo isso.