sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Berlin Alexanderplatz, a novela

Se a Globo exibisse as quase 16 horas de Berlin Alexanderplatz como se fosse uma mini-novela das dez - em versão dublada, de segunda a sexta -, estaria fazendo mais pela dramaturgia brasileira (incluindo cinema TV e teatro) do que um milhão de filmes, cursos, peças, programas e debates feitos com dinheiro público. Detalhe: a emissora conseguiria uma audiência estupenda, porque o povo gosta mesmo do que é bom. Mas claro que isso nunca vai acontecer, e a culpa não é da Globo, porque não é problema dela.

Oscar

Para me certificar do ano em que o filme do post abaixo foi rodado (estava em dúvida se em 1990 ou 1991), consultei a Wikipédia, que também informa tudo sobre a premiação do Oscar, em todas categorias - quem concorreu, quem venceu etc. Acabei dando uma passada em todas as edições seguintes, até hoje. Interessante constatar que a Academia, apesar de célebres injustiças, tende a premiar realmente os melhores da indústria "local". Incrível!

Anthony Hopkins e cia

Um dos filmes mais reprisados nos canais de assinatura brasileiros por sorte também é um dos melhores: O Silêncio dos Inocentes (1991), obra-prima do suspense, ação e terror, numa época ainda pré-celular (o que evita que um terço do filme seja de gente falando ao telefone, como em 24 Horas). Se Anthony Hopkins tivesse se limitado apenas a esse papel, já teria justificado inteiramente sua carreira no cinema. Gênio - seu Oscar de melhor ator deve ter sido uma das escolhas mais fáceis da Academia. Jodie Foster também está estupenda e fez por merecer o seu.
PS: além da direção e roteiro soberbos, a trilha sonora, old school - criando climas, sem medo de ser feliz (e sem pianinhos) -, é ótima.
PS2: a sequência no quarto escuro, em que apenas o psicopata pode enxergar (porque usa um tipo de óculos com infravermelho), e Jodie se vê sem saída, é uma das maiores da história do cinema, garantindo, fosse só por ela, a eternidade ao diretor Jonathan Demme.

Barbárie

Reprise de ‘Os Gritos do Silêncio' (1984) na TNT, vencedor de três Oscar. O filme é acadêmico no limite do insuportável (direção de Rolland Joffé), mas é bom, na medida em que consegue passar um pouco do horror a que o Khmer Vermelho de Pol Pot submeteu os cambojanos. Em um único ano (1975), Pol Pot promoveu um genocídio de pelo menos 1,4 milhão de pessoas (estimativa da Anistia Internacional), numa população de menos de 7 milhões, além de obrigar evacuações em massa da população da capital e outros centros urbanos em direção ao campo, em condições brutais (cerca de 2,5 milhões de pessoas). Hitler, Stálin e Mao Tsé-Tung o congratulariam pelo feito - aliás, Mao teve tempo de fazê-lo, já que morreu em 1976. Voltando ao filme, apesar de limitado, tem seqüências fortes e bem realizadas, como a do caos provocado pela tomada do poder do Khmer, as centenas de caveiras e esqueletos abandonados no campo e o bom desempenho do ator chinês Haing S. Ngor*, que levou merecidamente a estatueta melhor de ator coadjuvante. Isso compensa, por exemplo - entre outras cenas bocós -, o meloso e cafona final, ao som de 'Imagine'... De qualquer forma, é sempre importante um posicionamento contra o totalitarismo e seu poder devastador.

* O ator morreu em 1996, aos 55 anos, assassinado na frente da garagem de sua casa, no bairro de Chinatown, em Los Angeles. Que coisa.