segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Foco

Ainda há muito preconceito da crítica brasileira com a TV, principalmente em relação aos atores desse meio. Alguém duvida que Juliana Paes poderia brilhar no cinema, se fosse dirigida, digamos, pelo chinês Wong Kar-wai? Eu não. Juliana, possivelmente, teria feito melhor que a insossa Norah Jones, em Um Beijo Roubado (2007). Mesmo nas mãos de um Karim Amouz - um dos nossos cineastas mais "festejados" -, a julgar pelos seus filmes, difícil imaginar que ela atuasse sem os cacoetes típicos (e necessários) da dramaturgia das novelas.
O problema do cinema brasileiro não é falta de potenciais estrelas, mas de diretores que saibam de fato dirigir atores e extras, condição essencial para um filme aspirar a ser grande.

sábado, 25 de dezembro de 2010

De pretensão e água benta

Há uma passagem de Beira-Mar, do grande Pedro Nava, em que o memorialista cita uma frase do amigo Mário de Andrade sobre a possível influência dos poetas simbolistas no modernismo brasileiro. Ei-la: "Não imitamos Rimbaud. Nós desenvolvemos Rimbaud. Estudamos a lição de Rimbaud"*. Digo eu: quanta pretensão! Quem era Mário de Andrade para se comparar (e superar!) um dos maiores poetas de todos os tempos, em qualquer língua? Mas esse tipo de postura era algo bem típico do escritor paulistano, que superestimava o valor da sua obra, no que mostrou imenso talento, já que esta continua a ser superestimada no Brasil.

* a frase foi citada pelo jovem Carlos Drummond, no artigo "Poesia e religião", para A Revista. Claro que o futuro grande poeta se sentia devedor da obra de Mário, como de resto praticamente toda a Geração de 30. Mas, esteticamente, principalmente em poesia, Mário não era tudo isso. Aliás, não era nada disso...

Globalizou

O Natal está virando moda no oriente e em alguns países de religião islâmica. Não deixa de ser irônico, depois de tantos ataques à civilização ocidental ao longo desta década que está acabando - nesse sentido, Bin Laden quebrou a cara. Viva o Natal, feliz Natal!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Solstício 2

O verão começa oficialmente às 21h38 desta terça-feira, horário de Brasília. Agora, em São Paulo, são quase duas da tarde (13h00, se ignorarmos o horário de verão), a umidade está baixa (40%), e faz 32ºC. Bom sinal, que venha o calor!

PS: uma dúvida: a nova estação começa ao mesmo tempo (só mudando obviamente a hora local em cada fuso) em todo o hemisfério sul? Acho que sim.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Novelas

Parece que a reprise da novela Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, está bombando na TV paga, e boa parte da audiência seria formada por jovens. Eu a acompanhei na época, era quase inevitável para quem vivia no Brasil. Esse sucesso é interessante, por dar uma pequena mostra, para quem tem menos de 30 e poucos anos, do quanto era profunda essa inevitabilidade.

Primeiro porque as novelas podiam ser muito boas, como foi o caso de Vale Tudo; segundo porque, sem internet, redes sociais, celular, games e TV por assinatura, a Globo só competia com os demais canais abertos, e digamos que eles não conseguiam ser muito "competitivos" - Tupi (depois SBT), Bandeirantes, Cultura, Record ("a pior" era o seu apelido!*), Gazeta e Manchete (a partir de 1983) até exibiam bons programas, mas que eram esporádicos - semanais, mensais ou até anuais**. Ninguém podia com as novelas diárias da Globo - a das oito batia nos 80% de audiência - e, com o tempo, nenhum canal sequer tentava concorrer para valer, até que a TV Manchete começasse a produzir suas próprias novelas, que conseguiram incomodar a líder por algum tempo, mas não muito.

Mas quero recuar um pouco mais. Nos anos 70 e até o finalzinho dos 80 (com Tieta), as novelas da Globo e o Jornal Nacional detinham, juntos, provavelmente a maior audiência fidelizada do mundo*** - o canal já comandava uma indústria relevante no entretenimento e jornalismo, o que até destoava da jequice brasileira da época em outras áreas, como o cinema. Não é à toa que o Rio, sede da emissora, era a cidade mais cosmopolita do país - São Paulo nem sonhava desfrutar do atual papel de cidade hegemônica. Nesse universo, Boni, Daniel Filho e Armando Nogueira eram reis, e Roberto Marinho um tipo de deus da terceira idade.

Quando, em 1975, Roque Santeiro, de Dias Gomes, foi ridícula e inesperadamente censurada pelo regime militar, Janete Clair criou a toque de caixa Pecado Capital, uma obra-prima de argumento e execução - o grande Paulinho da Viola teve apenas um fim de semana para compor a música-tema, que se tornou imediatamente um clássico da MPB ("dinheiro na mão é vendaval..."). Espantoso.

O declínio seria uma questão de tempo, e ele começou já nos anos 90, muito suave (mesmo assim, em 1991, Gilberto Braga escreveu, em minha modesta opinião, uma das melhores novelas da história, O Dono do Mundo, mas sua audiência não foi das melhores, uma pena). Tardiamente, Senhora do Destino (de 2004), de Aguinaldo Silva, se mostrou cativante e obteve grande audiência (média de 55%,), mas soou como o canto do galo.

* Ainda é!

** Segunda (ou Terça) Sem Lei, da TV Bandeirantes, que o diga. Era bem legal.

*** A audiência da novela das oito, hoje, mal ultrapassa os 40%. Já a situação do JN é pior: nos final dos anos 80, detinha, em média, 62%, e atualmente, apenas a metade. Mesmo assim, a liderança da Globo no horário nobre continua folgada - a julgar pela programação da concorrência em sinal aberto, ainda bem.

Finotti

A matéria de capa da revista Serafina* sobre a cantora Amy Winehouse, escrita por Ivan Finotti, de tão boa, deveria ser incorporada aos cursos (quase sempre horrorosos) de jornalismo, país afora. É bastante informativa sem ser burocrática ou óbvia. Tem ritmo e um tom coloquial de primeira classe, como nos bons diálogos do cinema, que fluem e parecem fáceis de criar, mas são dificílimos. O jornalista mostra respeito pela personagem, sem se furtar de debochar do que merece ser deboxado nela. Não é jornalismo gonzo, porque o foco, a informação estão lá, bonitinhos, sem pretensões de literatices. Está acima do gonzo, porque a matéria tem estilo, mas tudo em prol do melhor jornalismo.

*Folha de S. Paulo de ontem.
Para assinantes: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr1912201010.htm

domingo, 19 de dezembro de 2010

Pois é

Em editorial e título na primeira página, a Folha de S. Paulo faz um elogio rasgado à Era Lula, que vai chegando ao fim neste final de 2010. Respectivamente: "Saldo favorável" e "Lula entrega país melhor, mas imposto é recorde"*. Nada a questionar**, mas o governo Fernando Henrique Cardoso fez bem mais em relação à situação econômica, social e política que herdou em 1994, e não me recordo de nenhum elogio perto do final do seu segundo mandato, em dezembro de 2002 - nem da Folha nem de nenhum outro veículo.

Só o fato de ter acabado de vez com a inflação, reerguido o salário mínimo, além das (infelizmente tímidas) privatizações e saneamento do sistema bancário, já seriam motivos mais que suficientes, mas só se lembrava do "apagão" - pecha que foi devidamente amplificada por Lula (e Duda Mendonça), que não pode nem nunca pôde reclamar da grande imprensa, ainda que sempre o faça, com as intenções autoritárias de sempre.

Deve ser porque, naquela época, pegava mal elogiar. Melhor assim, mas que isso seja fruto de um amadurecimento da crítica, e não de preferências ideológicas da hora.

* Criticar o aumento dos impostos - como são implacáveis esses jornalistas nos anos Lula, hehe!

** As instituições sofreram seguidos ataques e não passaram imunes - nesse sentido, o país piorou.

Harrison

Sei que é chover no molhado, mas que canção inacreditável é While My Guitar Gently Weeps (1968), ouço agora. O início cortante. A melodia sem floreios. A voz de George, que não sugere felicidade nem desespero, mas resignação. O solo de Eric Clapton, um dos pontos altos da guitarra em todos os tempos. Tecnicamente é uma das duas ou três melhores dos Beatles, senão for a melhor.

http://www.youtube.com/watch?v=F3RYvO2X0Oo

sábado, 18 de dezembro de 2010

Lá vêm eles!

Numa resenha* para o Guia da Folha, sobre a monumental biografia de Hitler, de Ian Kershaw, Francisco Alambert, que também é historiador e leciona na USP, comete uma dessas típicas gracinhas que a esquerda festiva adora promover. Depois de enaltecer justamente o trabalho do britânico (sempre eles), não sem antes, embasado em conceitos marxistas, criticar alguns pressupostos do autor, Lambert, no último parágrafo do texto, fuzila. "Numa época como a nossa, em que colunistas de direita povoam os jornais e a internet, é preciso entender como demagogos criam sua mistificação, com resultados terríveis. Esta biografia do maior deles é imperdível".

Para começar, onde estão os tais colunistas de direita nos jornais? Na Folha é que não - seu colega  da USP, Vladimir Safatle, recém-contratado justamente como colunista do jornal, é uma voz que, em suas próprias palavras, pretende mostrar “como o pensamento de esquerda é capaz de sintetizar problemas novos e encontrar respostas inesperadas para os antigos". E quanto aos demais colunistas da Folha, quem fala em nome da direita para esse "novos problemas e respostas inesperadas"? E quanto aos outros véículos? E na internet? Neste caso, talvez Alambert, pensando em Reinaldo Azevedo, esteja fazendo confusão: os blogs e sites de esquerda, muitos financiados com dinheiro público, também são bem mais numerosos do que os que estão mais à direita, mas a audiência destes, muito em função dos bravos e brilhantes Reinaldo e Augusto Nunes, é incomparavelmente maior - (como dizia o refrão anti-Rede Globo, o povo não é bobo).

Mas voltemos à idéia do parágrafo aqui citado. O historiador da USP, ao reclamar (infundadamente) dos blogs e colunistas de direita que povoariam (podia ter escrito infestariam, a idéia é essa) os jornais e a internet, e logo em seguida citar "o maior de todos os demagogos", Hitler**, é claro que ele tenta assim jogá-lo no colo da direita, associando-a com toda a barbaridade genocida comandada pelo facínora alemão, como fingindo desconhecer (é historiador!) que o nazi-fascismo está repleto de vasos comunicantes com o comunismo - são duas faces da mesmíssima moeda da utopia totalitária. Para que essa idéia torta se mantenha em pé, Alambert tem de ignorar o legado de Stálin, Mao, Pol Pot, Fidel e tantos outros líderes da esquerda, de maior ou menor escalão. Afinal, eles não conseguiram o status de "o maior de todos os demagogos", certo? Então merecem o nosso perdão! Não se trata de comparar quem  teria seria o líder mais nefasto para a humanidade - Hitler merece a fama de número 1 -, mas de identificar esse tipo de impostura, cheio de dissimulações, que é uma das marcas registradas da intelligentsia de esquerda, não só brasileira, e que continua muito atuante por aqui, já abarcando novas gerações de "professores da USP". 

Alambert é professor de história, mas faz proselitismo ideológico ao selecionar o que deve e o que não deve ser dito e escrito - o velho esquema de sempre. Então ficamos assim: todo e qualquer indíviduo que não se considerar um esquerdista - que sempre pensa no bem da humanidade - poderá estar no mesmo saco que ninguém menos que Adolf Hitler. Mas os milhões de crimes perpetrados por líderes da esquerda jamais serão associados aos militantes da nobre causa humanitária. ARGH.

Falei alguma novidade? Claro que não! O problema é que esta pérola recente soa não mais como sintoma, mas como fato consumado neste Brasil pós-Lula. "Eles" venceram!!

Para encerrar, um desejo (quase impossível) para próxima década: por uma universidade brasileira com menos Marx (mal lido e mal ensinado) e mais Tocqueville.

* História e fantasmagoria, do Guia da Folha especial sobre livros, discos e filmes.

** "Generoso", Lambert não cita Mussolini, mas depois de Hitler, nem precisava, não é?!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amigo Secreto

No mínimo devia ser proibido em lugares públicos.

Good Night

Minha homenagem aos 70 anos de Ringo e John, neste 2010 que já vai terminando. Composta por John para o filho Julian, que tinha cinco anos, aqui num dos takes registrados nas gravações do Álbum Branco (1968), e posteriormente lançado no projeto Beatles Anthology (livro, CDs e vídeo), em 95. Com Ringo no vocal e John ao piano.

http://www.youtube.com/watch?v=rM40IzExGG8

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A impossibilidade de um Meegeren da música

Já escrevi em outro post que considero o falsificador holandês Han van Meegeren um quase gênio,* porque as principais criações (sem aspas) dele não foram simplesmente reproduções de quadros famosos dos grandes mestres – ele também as fez, com perfeição – mas quadros que podem nunca ter existido, ou se existiram, não sobreviveram.
Meegeren criou um célebre quadro desaparecido (ou inexistente) de Vermeer, que se enquadra nesta categoria - só havia descrições vagas sobre a obra. Pois ele encarou o imenso desafio técnico/estético da empreitada e se lançou na feitura da tela, que, de tão belo e verossímil, passou a fazer parte da história da arte.

No mesmo post, lembro de ter enfatizado que, por outro lado, fazer o mesmo com os grandes gênios da música seria tarefa ainda mais difícil. Talvez pelo fato da música ser uma forma de arte menos palpável, talvez a mais impalpável de todas.

Aconteceu que na última segunda-feira tive a sorte de acompanhar pelo celular o programa ‘Encontro com o Maestro’ (infelizmente apenas a parte final), com João Maurício Galindo, que abordava justamente alguns casos famosos de boas e más falsificações de compositores importantes (e de alguns nem tanto). É o caso, por exemplo, do austríaco Fritz Kreisler (1875-1962), célebre virtuose do violino, que se lançou em falsificações (supostas “partituras perdidas”) que incluíam Vivaldi e Couperin, as quais foram muito bem recebidas e dadas como autênticas, até que ele mesmo “confessasse” a traquinagem ao The New York Times, em 1935, contando que as composições eram de sua lavra. Incrível.

O programa contou também o caso do músico francês (pena que não tive tempo de anotar) que alegou ter “descoberto” uma obra de Mozart – por incrível que pareça, ela foi aceita pelos especialistas e passou a figurar no catálogo Köchel, até o "descobridor" ser desmascarado pelo grande musicólogo Alfred Einstein, que pediu para dar uma espiadinha na partitura! Sensacional! Galindo tocou esta falsificação no programa, e apesar de muito verossímil, definitivamente não seria uma obra-prima do grande compositor austríaco.

Aí é que está. Como questionei naquele post, como criar uma cantata “perdida” de Bach (e sabemos que um terço delas de fato se perdeu), que pudesse estar à altura de uma cantata de Bach? Neste caso, seria uma façanha quase impossível, porque o falsificador-criador, diferente do caso da pintura, partiria praticamente do zero - o fato de conhecer de cor o estilo do gênio a ser imitado não cria muito valor. Talvez um Mozart ou um Beethoven conseguiriam, tivessem tido tempo para uma brincadeira interessante com essa. Será que Schoenberg, Prokofiev, Stravinsky ou Shostakovich dariam conta?

Enfim, se pudesse, passaria dias e dias escrevendo sobre o assunto, que se desdobra em muitos – cogito tentar entrevistar Galindo a respeito. Hoje fico por aqui.

* "Quase gênio" fica por conta da falta de originalidade, pois só o autor verdadeiro pode reivindicá-la.

É hoje!

Hoje o blog comemora um ano de existência. Até aqui, incluindo esse comemorativo, foram 407 posts, que não variam pouco de assunto e tamanho. Em média, este espaço recebe diariamente sete visitas diferentes, com picos que já chegaram a 70 ou 80 - confesso que isso só aconteceu quando enviei algum link de que gostei para blogueiros mais populares, e com quem tenho afinidade.
Anyway, se mantiver o ritmo, o blog chegará à marca de um milhão de visitas únicas em meros 300 e poucos anos, hehe!!

  

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ops

O slogan da Kiss FM é "depois de um rock vem sempre outro rock". Ok, mas o curioso é que, quando ele é anunciado, invariavelmente entra propaganda ou blá-blá-blá do locutor.

Oliver Stone

Como ele filma bem, de se tirar o chapéu. Mesmo não rezando de sua cartilha ideológica, meio a Michael Moore, admiro muito esse cineasta. E a crítica à guerra do Vietnã que ele faz em Nascido em 4 de Julho* (1989) é perfeita, irretocável. Atuação maravilhosa de Tom Cruise. Ontem de madrugada passou na TV, vi só a parte final, mas foi o suficiente para ter ficado muito impressionado, porque não tinha visto o filme. As cenas da manifestação dos ex-combatentes no comício de Nixon, em 1972, em que o presidente americano disputava reeleição, é soberba - várias ações acontecendo ao mesmo tempo, mas com uma edição de áudio original, em que não se consegue ouvir bem os diálogos no meio daquela confusão, criando uma tensão insuportável.

PS: A última vez que tinha notado uma condução de áudio tão interessante foi com Glauber, nas cenas finais de Terra em Transe (1967), em que o som é suprimido, causando um vazio, um estranhamento.

* Stone ganhou o Oscar de melhor diretor, e seu filme também recebeu a estatueta pela edição. Tom Cruise perdeu para Daniel Day-Lewis (Meu Pé Esquerdo), e o próprio 4 de Julho foi derrotado por Conduzindo Miss Dasy na disputa de melhor filme.

Foi a economia também

Muita gente se esquece que a beatlemania coincide com um período de boom econômico - principalmente nos Estados Unidos (golden years), mas também na Europa, que começava a colher os frutos do Plano Marshall. Não que o sucesso da banda se deva a essa contingência, mas esse círculo virtuoso de consumo, vitaminado por uma juventude pós-existencialista que reivindicava um lugar ao sol, foi, sim, determinante para o grau mega deste sucesso.

Interestaduais - anos 20

O auge dos torneios de seleções estaduais se deu nos anos 20 e início dos 30. Graças à rivalidade e à presença dos melhores jogadores do país, os confrontos São Paulo X Rio eram o must, e mobilizavam milhões de aficcionados do futebol. Gostaria de ver algum documentário a respeito, se possível com muita imagem da época, gols, torcedores, estádios etc. Sei que foram feitos bons registros em película, mas não saberia dizer em que estado se encontram hoje.

Os nerds e Freud

Acho que a nerdice não está relacionada necessariamente com muito talento e/ou genialidade, como tenho lido aqui e ali, a pretexto do filme A Rede, sobre o criador do Facebook - claro que alguns poucos chegaram ou chegarão a esse patamar, como em qualquer grupo ou recorte, mas penso que essa característica de personalidade tem mais a ver com insegurança, infância, criação, tipos de pai, de mãe etc. Sempre existiu. O que é relativamente recente é a possibilidade, dentro desse universo (que não é pequeno) de ser um nerd. Por isso é claro que nem todo inseguro vira nerd - pelo contrário, os nerds são apenas uma fração. Definitivamente, a incomunicabilidade não surge com o advento nerd, e tampouco as novas tecnologias são propícias a ela. Freud explicaria, se tivesse saco!

PS: difícil para mim considerar gênios Steve Jobs e Bill Gates (e muito menos Mark Zuckerberg), considerando que chamamos de gênios Caravaggio, Einstein, Bach, Mozart, Newton etc - questão de escala. Mas para quem acha que Lennon, Bowie, Cole Porter, Noel Rosa, Tom Jobim e tantos outros grandes talentos merecem o adjetivo, então Jobs e Gates também merecem.

Promessa de fim de ano e filme ruim

Pretendo deixar de acompanhar futebol*. Para mim deve ser tão difícil ou simples como parar de fumar de repente. Não posso dizer, nunca fumei. Mas é o que vou fazer. A verdade é que o futebol deixou de ser autêntico - tem a qualidade, rara no Brasil, de se basear na meritocracia - não há Dilma Roussef que transforme um cabeça-de-bagre num craque - mas só isso não basta. A televisão, o big business, sem querer, matou o futebol. Sempre defendi a economia de mercado, mas neste caso tenho de admitir que o capitalismo não fez lá um grande bem ao futebol - se por um lado, mais investimento fez multiplicar a remuneração da elite dos jogadores, algo muito positivo e justo, ao mesmo tempo foi minando seu aspecto lúdico, uma característica que sempre o diferenciou da maioria dos outros esportes coletivos. Esses supertimes europeus, com seus jogadores de 40 nacionalidades, seus estádios limpinhos e gramados perfeitos me dão sono, mesmo quando jogam entre si - de novo, não são autênticos. O futebol brasileiro, sem tanto dinheiro, também capitulou - essa coisa de "arenas", "sócio-torcedor" etc., que coisa mais chata. Acho que a gota d'água foi saber que a reforma do Maracanã vai implicar na redução do seu gramado portentoso. Ou talvez tenha sido esse entrega-entrega no Campeonato Brasileiro. Não sei. Por acaso passa na TV Melinda e Melinda (2004), de Woody Allen. Minha nossa, é péssimo e tão previsível, equivocado. Será possível que em nenhum momento passou pela cabeça do grande diretor abortar o filme, ou refazê-lo, em outros termos, como fez com Setembro (1987)?

* A história do futebol seguirá me interessando.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Mea culpa e ingenuidade de John

Consultei o maravilhoso livrão Antology (edição brasileira, excelente tradução), a história da banda contada por seus protagonistas - e, de fato, John afirma que foi sua mãe, Julia, que lhe ensinou a tocar banjo (e não violão, como aparece no filme), quando tinha 16 anos. Ele também diz que ela era cantora amadora e tinha boa voz - se apresentava em pubs da cidade.

Mas li uma outra declaração que me fez entender o quanto um mito também pode ser ingênuo, quase naif. John insiste em associar seu talento ao sofrimento por que passou na infância e adolescência, pela ausência dos pais. Para ele, era muito natural que tivesse se tornado um artista famoso - e seguindo esse raciocínio, quem ele considerava que lhe era superior, como Lewis Carroll, o era porque teria sofrido mais... Parece que não lhe passava pela cabeça que milhões e milhões de pessoas poderiam ter sofrido mais, muito mais do que ele, no mesmo período da vida, e nem por isso tivessem se tornado artistas, ainda mais grandes artistas. John foi um artista extremamente popular, que obteve igualmente imenso reconhecimento da crítica. Isso seria e é muito raro, com ou sem infância problemática.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Política no Brasil

É coisa para profissionais, que fazem parte dela, e idiotas, cidadãos que procuram participar do processo político e ao mesmo tempo tentam decifrá-lo, ou ao menos, entendê-lo. Exceção: meia dúzia (se tanto) de analistas de primeira classe, e alguns bons editoriais de Folha e Estadão. Da minha parte, só posso dizer que - obviamente sem ter me tornado um daqueles ilustres analistas - já não sou mais um idiota.

Julia e Mimi

Julia, mãe de John Lennon, no filme sobre a adolescência do beatle, tem um papel determinante na decisão do filho de se tornar músico - entusiasta do rock 'n' roll, ela o teria introduzido ao novo ritmo e até lhe ensinado os primeiros passos no violão. É algo que eu desconhecia completamente, e está me cheirando aquela licença poética (exagerada) para dar mais tempero a um personagem. Se for isso, lamentável, porque além de espalhar uma inverdade, terá sido uma atitude desnecessária, já que o personagem Julia é rico por si só, sem maquiagem. Evidente que se a informação foi baseada em pesquisa séria, retiro a crítica.
De qualquer forma, a idéia de fazer um filme sobre a juventude de Lennon, antes da fama, é ótima, e o filme não consegue não ser bonito. Só acho que, nos créditos finais, além da comovente revelação de que John telefonou para Mimi semanalmente, até a sua (dele) morte, o texto poderia ter acrescentado que, no auge da beatlemania (1965), o músico comprou uma casa nova para ela, em outra cidade (Dorset), porque aquela em que viveram tinha virado ponto turístico de Liverpool. Sensacional!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Lutador e Flynn

Passando na TV (TNT), dublado, intervalos intermináveis e ainda assim, ótimo - é um dos melhores filmes que vi nos últimos dois, três anos (ao lado de O Que Resta do TempoO Silêncio de Lorna). Como trilha orginal, apenas um tema absurdamente simples e eficiente, tocado na guitarra, em uma única corda.

- Ontem vi parte de um doc na TV Cultura sobre Errol Flynn (Diabo da Tasmânia - A Vida Rápida e Furiosa de Errol Flynn), excelente. O nome deve fazer referência à terra natal do ator, a Austrália, além, claro, da vida agitadíssima do astro em Hollywood. A quantidade e qualidade das imagens dos anos 30, 40 e 50, impressionantes. Já existiam ninfetas/tietes nos anos 40, e elas não eram nada inocentes - Errol sentiu na pele, para o bem (traçou todas que pôde) e para o mal (foi processado e quase condenado).

Não resistiu

Sempre gostei da Wikipédia - sabendo usar, é muito útil, genial. Palmas para Jimmy Wales, seu criador, mas de repente parece que baixou uma vontade louca do cara de aparecer, porque, de umas semanas para cá, a pretexto de pedir doações para o site, logo aparece, no topo da página de qualquer pesquisa, uma foto de Wales de razoável tamanho e colorida, com seu nome e sobrenome. Tudo bem, o serviço sempre foi gratuito, sem banners, e pode estar em dificuldades, mas precisava da foto? De todo modo, pela popularidade da página, Wales já deve ter virado a mais uma nova celebridade mundial.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Paulistas e cariocas (seleções) e Amoroso

Falta de programação boa na TV na madrugada pode dar nisso: vou escalar minha seleção paulista dos últimos 50, 60 anos, incluindo alguns reservas. PS antecipado: não estou me obrigando a ter visto todos os jogadores em ação. A eles: Gylmar (Leão), Djalma Santos (Zé Maria, Cafu), Luis Pereira, Roberto Dias (Dario Pereyra) e Wladimir (Noronha, Pedrinho, Odirlei); Dino Sani (Zito, Bauer), Ademir da Guia (Sócrates, Rivaldo, Pedro Rocha, Giovanni), Pelé (Ivair, Enéas, Jorge Mendonça, Leivinha) e Rivellino (Julinho,Muller, Dorval, Kaká); Careca (Amoroso, Pagão) e Coutinho (Toninho Guerreiro, Edu, Pepe, Serginho, Canhoteiro). PS 2: Não me animo a incluir Neto ou Marcelinho Carioca.

A verdade é que, a despeito dos grandes craques (Riva, da Guia, Sócrates, Rivaldo) e obviamente Pelé, me parece que o Rio foi um tanto mais abençoado - qualquer dia faço minha seleção carioca. Adianto que o ataque seria formado por Garrincha, Ronaldo Fenômeno (Qüarentinha) e Romário, com Didi, Gérson, Zico e etc - Vavá, Ademir e Jairzinho na reserva de luxo, Amoroso (Tio), Djalma Dias, Branco, Djalminha etc. Além de Nilton Santos, Carlos Alberto Torres, Leandro, Edinho, Dirceu, Mozer, Bellini, Aldair, Heleno de Freitas, Dida,Telê Santana, Edmundo, Jair Rosa Pinto, Zizinho, Dinamite. E pelo amor de Deus, Zagallo e Paulo Cesar Lima, NÃO!
PS: recuando um pouco mais no tempo, podemos incluir Domingos da Guia e Leônidas da Silva.

PS2: O Amoroso que começou no Guarani para mim foi um dos grandes atacantes brasileiros, e acho que faltou auto-promoção, lobby, sei lá, porque ele não é visto assim, e sequer participou de uma Copa do Mundo, ainda que tivesse sido artilheiro no Brasil, Alemanha e Itália, sempre jogando em equipes pouco mais que medianas - foi uma grande injustiça de Felipão não tê-lo convocado em 2002, estava em grande fase, e em 98 Zagallo poderia tê-lo chamado - seria muito melhor para formar dupla com Ronaldo do que o já velho e inoperante Bebeto, pois Romário se machucou e foi cortado. Suas contusões graves atrapalharam, mas nem de longe comprometeram sua carreira. Na Europa, se tivesse jogado num Real Madrid ou Juventus... O único técnico da seleção brasileira que o valorizou foi Vanderlei Luxemburgo, mas o atacante, que teve boas atuações, não deu muita sorte e logo se machucou.

Amoroso sempre foi muito rápido e oportunista, mas também era capaz de fazer gols de rara beleza. Me lembro de um contra o Santos, pelo Guarani, no Brasileiro de 94 (de que foi artilheiro, junto com Túlio, e revelação), no Brinco de Ouro, em que ele passou por cinco ou seis adversários antes de tocar para o gol vazio (depois, por coincidência, no ano seguinte, Giovanni devolveu, pelo Santos, no mesmo Brinco de Ouro, driblando meio time do Bugre, mas do outro lado do campo!). Sua média de gols sempre me pareceu bem acima da média, mas me recordo de que, procurando pelo site do jogador, já em 2003, não encontrei nada, que anti-marketing!

O grande Telê Santana, no final da vida, perguntado que jogador aproveitaria do São Paulo campeão da Libertadores e Mundial 2005, em relação ao time que, sob seu comando, conquistou os mesmos títulos em 1992/93, não hesitou em citar Amoroso (e apenas mais um nome, talvez Ceni, não me recordo agora).

sábado, 4 de dezembro de 2010

Coppola

Coppola esteve no Brasil para divulgar seu novo filme, Tetro, rodado na Argentina. Aliás, faz um bom tempo que rodou, porque me lembro de ele ter sido flagrado pela TV argentina no estádio do Boca Juniors, num jogo importante, válido pela Libertadores da América de uns cinco anos atrás, no mínimo - vai ver era só a primeira visita ao país, com as primeiras sondagens.
Tenho uma admiração enorme pelo cineasta, autor de uma obra admirável, com altos e baixos que não maculam nem um pouco sua grandeza. Só o fato de ter concorrido com ele mesmo, pelo Oscar de melhor diretor (Godfather e A Conversação* estavam entre os cinco indicados, Coppola venceu com Godfather) em 1975, dá a medida da sua grandeza. E tudo isso com 36 anos recém-completados!

* Em 1974 A Conversação já havia faturado a Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pacino

No remake de Perfume de Mulher (1992), a cena em que Al Pacino, o tenente-coronel cego, resolve fazer as vezes de advogado improvisado do rapaz que o guiou em Nova York, no colégio de elite em que este faz o colegial, com bolsa de estudo porque é pobre, é uma das grandes atuações de um ator em Hollywood - quase impossível não sentir vontade de chorar, e não me venham com Brando ou  Stanislavski, a não ser que se trate de Sindicato de Ladrões (1954).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Max Weber

É provavelmente um dos maiores pensadores que a humanidade produziu, um gênio de primeira grandeza. É incrível o que este homem realizou em apenas 56 anos de vida. Escreveu tratados fundamentais sobre economia, política, religião, história, direito, e claro, sociologia. Estudei a uma parte ínfima desta obra monumental na USP, com grandes experts no sociólogo alemão, como Gabriel Cohn e Antônio Flávio Pierucci, mas não me arriscaria de jeito nenhum a tentar dar algum pitado aqui – o pensamento de Weber parece até fácil de entender, pela clareza das idéias, mas é de uma originalidade, complexidade e profundidade que chegam a assustar. O post é só para enfatizar minha admiração por ele.

Fábio Jr. ator

Ouvi agora pouco uma antiga canção de Fábio Jr. (‘Eu Me Rendo’, 1981, na verdade composta por Sérgio Sá), que me fez pensar na sua trajetória. Ele compôs e gravou algumas músicas boas antes de pender para o brega explícito, mas sempre achei uma pena que o sucesso musical o tivesse levado a praticamente abandonar a carreira de ator. Porque Fábio Jr., na juventude, foi um grande ator, uma estrela de primeira grandeza - no final da década de 70 e início da de 80, brilhou em vários papéis, tanto na TV como no cinema.
Depois que foi ganhando fama também como músico, passou a interpretar apenas ele mesmo e ficou meio canastrão e desinteressado – talvez o fizesse inconscientemente, quem sabe para que a Globo parasse de insistir em tê-lo como estrela principal de suas novelas das oito. Freud explica.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

É Proibido Proibir

Sei que está longe de ser uma obra-prima de Caetano, mas adoro essa música, tanto na versão de estúdio (em que ele recita trecho de um poema de Pessoa*), como na apresentação no teatro da PUC de São Paulo, o Tuca, pelo III Festival Internacional da Canção da TV Globo, em 1968, onde ele improvisa um belíssimo discurso contra a platéia de estudantes que o vaiavam.

http://www.youtube.com/watch?v=EeBa5AGBCkc (estúdio)

http://www.youtube.com/watch?v=mCM2MvnMt3c (discurso Tuca)

* do livro "Mensagem".
PS: os vídeos em si são fracos, valem pelo registro musical de acesso fácil.

"Don't dream It's over" - Crowded House (1986)

Link para nós, corintianos...!
http://www.youtube.com/watch?v=dZZfuCJ970w

Victor García

Ontem a TV Sesc exibiu um pequeno e interessante documentário sobre a histórica montagem de 'O Balcão' (J. Genet), em São Paulo (1969), dirigida por Victor García, importante encenador argentino de vanguarda, que veio ao Brasil a convite de Ruth Escobar, um ano antes, para montar 'O Cemitério de Automóveis' (Fernando Arrabal), que também se tornou um marco no teatro brasileiro, influenciando Zé Celso e Antunes Filho. Incrível como uma peça tão libertária e intensa tenha conseguido permanecer em cartaz por quase dois anos, em plena fase de chumbo da ditadura militar, pós AI-5.
Por sorte, sobreviveram boas fotografias em P&B da montagem, (cujo final foi alterado por García): destaque para o incrível cenário, do arquiteto Wladimir Pereira Cardoso (então marido de Ruth) -uma estrutura metálica de quase 30 metros de altura, em formato de "ovo", vazado, com vários planos. No elenco os jovens Claudio e Sérgio Mamberti, Paulo César Pereio, Célia Helena, Raul Cortez, Jonas Mello, Ruth Escobar (que assumiu o papel que seria de Cacilda Becker, que adoecera e morrera pouco antes), Jofre Soares, Ney Latorraca, entre outros - o elenco era enorme.
Os depoimentos de Mamberti, Pereio e do crítico Jefferson Del Rios são bastante esclarecedores - o diretor pensava um teatro total, em que o texto estava longe de ocupar o papel central nas encenações. García morreu precocemente em 1982, na França, aos 48 anos incompletos.

Louco Por Você

É uma bela canção de Caetano, não muito conhecida, do disco Cinema Transcendental (1979). Acho que contribuiu muito para isso o fato de ela ser exageradamente longa - é cantada inteira umas cinco ou seis vezes, um exagero. Há um bonito solo de teclado no meio das repetições, e outro, de guitarra e baixo, meio dispensável. Enfim, a canção poderia perder uns três minutos (tem mais de sete), sem prejuízo nenhum, pelo contrário. O vocal de Caetano, principalmente nos graves, como foi uma tônica no disco, soa descuidado. Segue link youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=JYcFW2qs9L4

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Campeonato Brasileiro 2010 - mais um dramin necessário

Engraçado os comentaristas que se crêem tão racionais colocar em dúvida a marmelada que aconteceu em alguns jogos fundamentais nesta reta final de Brasileirão. Qual é a deles, afinal? Medo de processos, de ficar mal com alguns jogadores e/ou dirigentes poderosos? Com exceção de Juca Kfouri e do sempre ótimo e incisivo Luís Quartarollo, praticamente nenhum outro teve a coragem de dizer com todas as letras o que todo mundo que acompanha futebol no Brasil viu: que São Paulo e Palmeiras entregaram descaradamente seus jogos contra o Fluminense, para prejudicar o Corinthians. É fato. E a hipocrisia nas declarações de Felipão, Carpegiani e de certos jogadores, antes e depois dos jogos, foi de lascar - nem sei se hipocrisia seria a melhor palavra, porque eles não estavam propriamente dissimulando, mas encenando, fingindo, mentindo, como se todos fôssemos idiotas.

No ano passado, o Corinthians, por sua vez, para dificultar as coisas para São Paulo e, principalmente, Internacional (já que este havia entregado para o Goiás, em 2007, rebaixando o time paulista) fez o mesmo, no jogo contra o Flamengo. Lamentável. Mas agora, pela feitura da tabela, deu azar e levou o troco em dobro, porque são dois jogos ou seis pontos dados de graça a um mesmo concorrente direto, o que, faltando apenas uma rodada, praticamente o tira da briga pelo título.

Também acho estranho que a crônica esportiva insista em acusar o Corinthians de “não ter feito a parte dele”. O que seria isso? Ganhar todos os jogos desde o início, aproveitamento de 100%? Manter uma vantagem estratégica de seis ou sete pontos em relação ao Fluminense, já prevendo a entrega dos rivais nas últimas rodadas? Na prática, o empate do Corinthians com o Vitória, na Bahia, foi normal, até um bom resultado - anormal foi o Fluminense ganhar seus dois jogos fora de casa contra dois grandes de São Paulo com tanta facilidade. Não que a boa equipe de Muricy não pudesse vencer esses dois confrontos, mas a tendência seria que, num ótimo cenário, o time carioca somasse quatro pontos (uma vitória e um empate). Já estaria bom demais, mas isso ainda daria ao Corinthians a oportunidade de depender só de si na última rodada, portanto... Não bastava um ou outro rival (inimigo?) facilitar, mas ambos, o que acabou acontecendo. Ridículo!

Realmente, é nessas horas que o brasileiro mostra que ainda acredita no vale-tudo, no levar vantagem a qualquer preço etc., porque no fundo os clubes estão atendendo um pedido, uma exigência de grande parte de suas torcidas. Não deveriam ceder - a honra de um clube deveria ser sempre inegociável - mas cedem. Dá vontade de desistir de acompanhar futebol, mas é um vício arraigado demais em mim. Mas vou me esforçar.

PS: a pretexto de livrar a cara de Palmeiras e São Paulo, alguns colunistas "isentos" enfatizaram as boas exibições dos goleiros Ceni e Deola nos jogos contra o Flu. Ora bolas! O gol tem mais de sete metros de largura, portanto os goleiros, que são mais visados, mesmo num jogo de compadres, estão 'liberados' para tentar defender tudo o que puderem, para não se comprometer. Mas se ao longo de 90 minutos o resto do time não se esforça para impedir o gol do adversário, que ao contrário, precisa e busca a vitória a todo custo, é claro que, em algum momento, ele sairá. Ceni levou quatro, Deola apenas dois - mas foi a conta. Não é por aí - é só a hipocrisia tentando soar verossímil.

PS2: segue link do post que escrevi sobre o amolecimento do Corinthians contra o Mengo no final do ano passado, logo no comecinho deste blog.
http://oluziada.blogspot.com/2009/12/fut.html

Beatles - a real dimensão

Os Beatles foram causa e efeito de grandes mudanças ensejadas no pós-guerra. Não é pouca coisa, claro, mas pensando com os olhos confortáveis do presente, uma cena musical mais focada nos jovens acabaria por ser inevitável, com ou sem eles. O fato é que o destino quis que fosse a banda de John Lennon a pioneira daqueles novos tempos - ao diluir com imenso talento o rock 'n' roll criado na América, os Beatles praticamente inventaram a música pop. A história costuma se mover assim, em pequenos solavancos. Mas às vezes alguns gênios, de tão importantes, conseguem ‘apressar’ a história, como aconteceu com Newton, Einstein, Galileu, Bach, Monteverdi, Leonardo e não muitos outros. Claro que não foi o caso dos Fab Four.

Chaplin mudo e o swing - swing?

É muito boa a iniciativa da TV Cultura de exibir a fase muda de Charles Chaplin, boa parte composta de curtas-metragens geniais que o grande londrino, ainda bem jovem, já produzia em Hollywood, nos anos 10 – Mas tem um problema: não sei por que, a casa decidiu “musicar” os filmes, e pior, com um gênero musical que só seria desenvolvido posteriormente. Por isso, dá-lhe swing jazz (anos 30), nada a ver. Sabemos que cabia às salas de cinema da época contratar os pianistas que faziam o som ao vivo (geralmente com improvisos, mas às vezes executando partituras compostas especialmente para os filmes).
A solução poderia ser exatamente essa – gravações da época, que tenham sobrevivido, ou até uma adaptação, com pianistas contratados. De qualquer forma, foi maravilhoso poder ver, por exemplo, Chaplin interpretando “O Vagabundo” (1914), e assim dando os primeiros passos na criação de imortal Carlitos.

Osesp com Tortelier

Maravilha a execução da Cavalgada Noturna e Nascer do Sol, op. 55, de Sibelius, pela Osesp, regida por Yan Tortelier, bem como do Concerto número 1 para piano em Mi menor, op. 11, de Chopin. A apresentação, gravada ao vivo, foi realizada em maio deste ano, na Sala São Paulo - ouvi recentemente no celular, pela Cultura FM. Ainda não tinha acompanhado nada da Osesp sob a batuta do regente francês, e fiquei aliviado de constatar que a excelência de John Neschling está sendo preservada.

Toy Story 3 - DVD

Compramos o DVD para o Gab. Já tínhamos assistido no cinema, mas em casa é diferente – o filme passa tanto que dá para decorar o roteiro, como foi o caso de 'Carros', e os dois primeiros 'Toys'. A verdade é a seguinte: o filme - que é uma das grandes fábulas modernas - é tão bom que quase não dá para enjoar, pelo menos não nas primeiras 10, 15 vezes...!*O roteiro, as usual, é de primeira e não tem falhas – trata-se de um belo e impecável blockbuster, que não dispensa a fórmula ação-emoção-trilha sonora para entreter e comover (alguns dirão manipular), mas faz isso com tanto talento e graça que só podemos agradecer. A sequência final é linda, tocante, um fecho à altura dessa trilogia antológica.

* sacrifício, mesmo, seria ter de assistir, repetida e indefinidamente, a Tropa de Elite 2, Cidade de Deus, Se Eu Fosse Você (1 e 2),  Chico Xavier, Olga, Carandiru, 2 Filhos de Francisco e tantos outros sucessos brasileiros de bilheteria nesta década que está acabando.

Jabuti

O prêmio Jabuti está na berlinda, no pior sentido do termo, e com justiça, porque a premiação é um queijo suíço de falhas, cartas marcadas e absurdos lógicos. Logo que comecei este blog, eu, que nunca simpatizei com o Jabuti, ao ler o genial Pornopopéia, de Reinaldo Moraes, e constatar que o livro não tinha sido classificado para a 'fase final' do prêmio, escrevi um post a respeito. Não deixo de estar feliz de saber que finalmente um grupo tenha se mobilizado para dizer que sim, o rei está nu, e sempre esteve. Segue link:

http://oluziada.blogspot.com/2010/02/pornopopeia.html

sábado, 27 de novembro de 2010

Made in Brasil

Incrível a quantidade de Bukowskis sem obra que existe no Brasil. E os Bukowskis com obra são ainda mais constrangedores. Que preguiça!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Calvin

Houve uma fase (1987-88) em que gostei muito da tirinha Calvin & Haroldo, que era publicada no Caderno 2. Já estava na faculdade, mas recortava algumas para guardar - o álbum, para fotos, ainda está comigo. Logo depois perdi o interesse e praticamente não as li mais. Como a tira está completando 25 anos (mas durou só dez, acabou em 1995), me peguei lendo uma coletânea na internet. Agora, com um filho de quatro anos, as histórias de um garotinho e seu tigre de pelúcia fazem mais sentido do que nunca. Que trabalho incrível de Bill Watterson - se nunca ser piegas ou apelativo, ele criou histórias que fazem a gente rolar de rir ou até chorar.

Uma tira:
http://elcabron.sjdr.com.br/humor/tirinha-calvin-haroldo-4/

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Viva a Itália!

Ultimamente tenho tido pouca paciência com Anthony Bourdain, especialmente a pose de bad boy cinqüentão que às vezes banca o palhaço mas que no fundo se acha. Mas o programa que ele fez sobre a Sardenha, exibido na última quarta, foi simplesmente memorável. Sem gracinhas e ciente da importância do lugar, Bourdain conseguiu mostrar um dos grandes trunfos da gastronomia italiana, que é a combinação mais que perfeita de sofisticação com despojamento, diversidade e abundância, além da habitual altíssima qualidade dos ingredientes. Não é que havia ‘o’ prato da região – havia dezenas deles, todos diferentes entre si, todos soberbos, feitos com ingredientes e receitas locais e sem afetação no preparo – o italiano só é blasé na hora de comer uma iguaria, porque não fica enaltecendo, é como se estivesse devorando uma pizza, o que é um charme.

O programa tinha um componente familiar, já que a atual mulher do apresentador é italiana, de Milão, mas seu pai nasceu e cresceu na Sardenha, uma cultura fascinante, que remonta a 4 mil anos de civilização. O roteiro fugiu obviamente do circuito dos jet setters da parte badalada da costa da ilha, preferindo percorrer o interior, e nos brindou com pratos inacreditáveis, mas que lá são comuns: carnes bovinas de vários tipos e cortes, javali, porco, aves, massas caseiras, cogumelos porcini, ricotas fresquíssimas, queijos, vinhos, peixes, ovas de tainha (bottarga) em pó, malloreddus (o nhoque sardo), crustáceos, frutos do mar, points incríveis de turismo rural (agriturismo), o preparo do famoso (e antiquíssimo) pão carasau, paisagens, enfim, um programa impecável. Deve reprisar no domingo à noite na Discovery Travel & Living, vale muito a pena.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Extras, Raquel e Wagner

Zapeando pela madrugada uns dias atrás, me chamou a atenção o que passava no Canal Brasil - uma longa cena com figurantes - a maioria da terceira idade - em atuação perfeita. Sentados em cadeiras improvisadas, eles interpretavam uma platéia entediada, a espera de algum evento importante, que no entanto acontecia num salão pequeno demais para a ocasião. Os leques mostravam que fazia muito calor, ainda num tempo em que o ar refrigerado não devia ser muito comum. Fotógrafos cabeludos iam e vinham em busca de um bom lugar. O figurino cafona daquele círculo de pessoas também impecável. O registro parecia documental, de tão bem feito, tão diferente da grande maioria dos filmes nacionais, que padecem desse mal (má atuação de extras) até hoje.

O problema é que era tudo real mesmo, claro! Trata-se de um filmete produzido pela falecida Embrafilme, sobre a posse de Raquel de Queiroz na Academia Brasileira de Letras, no Rio, em 1978 - a primeira mulher a merecer a honraria. Ainda não foi desta vez!

PS: aliás, vejo que, coincidentemente, a grande escritora cearense estaria completando 100 anos exatamente neste 17 de novembro.

PS2: a música de fundo, apesar de maravilhosa, não poderia ter sido mais mal escolhida: o tema principal de 'As Valquírias', de Richard Wagner. Hilário, hilário! Dá-lhe Embrafilme (que merecerá um post especial).

Link "As Valquírias", com regência do grande Furtwangler (Filarmônica de Viena): http://www.youtube.com/watch?v=V92OBNsQgxU

Xiiiiiii....

Leio com espanto, na Bravo, deste mês, que a canção 'She´s Leaving Home' teria sido "talvez a maior obra-prima dos Beatles". Que disparate! Aquelas cordas excessivas sequer foram assinadas pelo grande George Martin, que no livro (que possuo) que escreveu sobre o disco Sgt. Pepper, afirma categoricamente que não pôde trabalhar naquela canção porque Paul teve um ataque de estrelismo (Paul, e não John, era a verdadeira vedete da banda), e se recusou esperar apenas algumas horas pelo arranjador, que estava ocupado em outro trabalho da EMI - os Beatles eram o foco principal de Martin, mas não o único na gravadora inglesa. Paul usou um outro arranjador, e deu no que deu. Enfim, o excesso de violinos e celos tornou a canção melosa, e é um dos motivos por eu não curtir muito Sgt. Pepper.  E cá entre nós, mesmo sem tanto violino, esta canção já nasce over, meio apelativa e envelheceu pior - ao contrário de tantas outras dos Fab Four. Paul é um compositor extraordinário, autor de inúmeros clássicos dos Beatles (Things We Sad Today, Eleanor Rugby, For No One, Lady Madonna, Martha My Dear*, Let It Be, The End etc. e etc.) mas quando errava, diferente de John, errava feio, porque tinha uma certa queda por letras e arranjos meio cafonas e/ou piegas (Ob-La-Di, Ob-La-Da, When I'm Sixty four, The Long and Winding Road, She´s Leaving Home, The Fool On The Hill, entre outras ). Mas também compôs as mais pesadas e swingadas Got to Get You Into My Life, Hellter Skelter, I've Got a Feeling, Get Back, Oh! Darling, She Came in Through the Bathroom Window etc. todas obras-primas do rock - a vida não é simples.

Mas voltando ao tema deste post, poderia ser mera questão de gosto, mas não é - afirmar que 'She´s Leaving Home' é uma das maiores canções dos Beatles é não entender, é desconhecer o que essa banda maravilhosa fez pela música pop. E fez tanta coisa!

* É meio cafona também, mas adoro!

O Levante

De vez em quando consigo avançar no catatau 'O Levante de 44' - A Batalha por Varsóvia, um belo (e recente, de 2007) catatau do historiador inglês Norman Davies sobre a brava tentativa dos poloneses de se livrar dos nazistas já no final da guerra, e de que como essa luta se mostrou infrutífera por total falta de apoio e/ou sabotagem dos aliados - russos e ocidentais. Mas o livro é muito mais que a minuciosa descrição dos bastidores do levante - mostra uma painel de uma das ocupações mais sangrentas, implacáveis, devastadoras e letais da história da humanidade, que foram os quase seis anos de ocupação da Alemanha nazista na Polônia, que durou praticamente toda a Segunda Guerra - 1939-45.

PS: o filme 'O Pianista', de que nem gosto tanto (falado em inglês etc), tem duas ou três cenas extraordinárias. Uma delas é a que nos mostra, de surpresa, um longo plano da Varsóvia já em ruínas, uma visão aterrorizante do que os nazistas eram capazes de fazer. Foi uma das punições de Hitller pela ousadia da rebelião - incendiar literalmente cada rua da cidade, ordem que praticamente foi levada a cabo.

Por um futebol menos jeca

Constato que a rivalidade de vida ou morte que existe entre Inter e Grêmio parece que contaminou definitivamente o país. Uma pena, porque não era assim, aliás nunca foi. Acho de uma tacanhice medonha. Não que as rivalidades em si não sejam legais - elas são até fundamentais no futebol, mas tudo tem limite, e o que acontece no Sul é um tipo de fanatismo que me parece exagerado, provinciano. Um Fla-Flu, um Corinthians e Palmeiras, Cruzeiro e Atlético, Ba-Vi e tantos outros derbys e/ou clássicos possuem uma grandeza que nunca precisou desses ingredientes de capa e espada. Pelo contrário - as rivalidades vão sendo construídas ao longo do tempo, e acima de tudo, pela arte da sutileza.

Tudo isso para dizer que tanto o São Paulo como o Palmeiras estão no caminho do Fluminense nessas rodadas finais do Brasileirão. Os jogos acontecem em SP, o que deveria ser um dificultador a mais para o Flu, mas já há uma forte pressão da torcida para que seus times 'amoleçam' para os cariocas. Isso não condiz com a história de decência e honradez desses dois clubes tão vitoriosos, mas se o próprio Corinthians deu o mal exemplo no Estado no ano passado (amoleceu contra o Flamengo, e prejudicou o SP)... Agora é esperar para ver, mas não estou muito otimista.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Aquavit

A propósito da tradicional feira escandinava do Pinheiros, me lembrei dessa maravilhosa aguardente nórdica, que beira a perfeição. Saúde!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Brazil

Depois de passar no exame médico, tentei fazer a prova teórica para a renovação da carteira de habilitação sem estudar o material do Detran, e mesmo tendo acertado 80% das questões relativas ao Código de Trânsito Brasileiro ("Direção defensiva") - que é o que deveria contar para quem dirige - fui reprovado. No total, foram 20 respostas certas em 30, mas precisava de 21. Como não sou médico ou enfermeiro, fui mal (acerto de 40%) em "Noções de Primeiros Socorros no Trânsito". Moral da história: além de sair me sentindo um idiota, prejuízo de 30 reais - sem contar o tempo perdido e o que vou precisar para estudar e evitar novo vexame. Parece que até 2004 só precisava do exame médico. Mas se a burocracia pode dificultar - e lucrar com a coisa - por que não fazê-lo? Argh.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Zero discernimento

Geralmente não compro livros em livrarias - quando entro em uma, gosto de folhear o primeiro capítulo de algum lançamento, geralmente de autores conhecidos. Às vezes gosto tanto que acabo levando um, mas é raro - geralmente me espanta a ruindade da maioria. Foi o caso de 'Os Espiões' (2009), de Luis Fernando Verissimo. Cheguei ao capítulo 2, puro lixo.

Que uma editora queira ganhar uns cobres lançando porcarias de escritores consagrados, é do jogo. Deprimente é o autor veterano não se constranger de produzir material tão fraco.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Scarlett Johansson assombrando

A era Dilma Rousseff mal começou oficialmente e para mim já acabou, se é que me entendem. Segue link com a divina Scarlett cantando Tom Waits em seu álbum de estréia (2008). Pois é. Há artistas excepcionalmente talentosos que não dependem da Petrobras. Melhor assim!

http://www.youtube.com/watch?v=D5B1HqumqcM

E mais um:
http://www.youtube.com/watch?v=ACfmparmCdg

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Eleições - e o colchão nem precisou ser usado

Dados importantes que pesquei na Folha de hoje, a partir dos votos válidos de Dilma (56,05%) e Serra (43,95%) no segundo turno.

1 – Dilma ganharia mesmo isolando as duas regiões em que teve votação maciça - Norte e Nordeste. Nestas, Dilma conseguiu uma diferença a seu favor de 11.7 milhões de votos (10.7 milhões no NE e um milhão no Norte). Como sua vantagem total foi de cerca de 12 milhões de votos, é correto afirmar que ela também venceu no restante do país - por uma diferença bastante apertada (0,3% dos válidos ou 300 mil votos), mas venceu.

2 - Pensando nas próximas eleições presidenciais, é assustador constatar que existe de fato um “colchão” de votos no Norte e Nordeste que não apenas apóia Lula - como em 2006 - mas quem quer que seja que tenha o seu apoio. Na prática, essa reserva ainda não precisou ser usada nem por Lula nem por Dilma, mas caso fosse (ou seja) necessário, significa uma vantagem praticamente intransponível de quase 12 milhões de votos a ser tirada pela oposição. Num segundo turno, 6 milhões eleitores têm de ser convencidos a mudar de candidato. Essa realidade obviamente não será eterna, mas tende a não se alterar tão cedo.

Ou seja: Dilma não precisou do Norte/Nordeste para se eleger, mas Serra, para derrotá-la, teria que ter conseguido nas outras regiões uma vantagem que, em condições normais, tem sido missão quase impossível ao PSDB - para reverter o quadro, Serra precisava de uma vantagem no Sudeste de pelo menos 20%, mas não só não a obteve como perdeu o duelo - 48,1% a 51,8%.

Em outro cálculo - agora incluindo a votação no Norte/Nordeste -, mesmo que os números contundentes pró-Dilma no Rio (60, 5% a 39,5%) e Minas (58,5% a 41,5%) fossem invertidos a favor de Serra, a candidata petista ainda venceria a eleição, e por boa margem (52,6% a 47,5%). Para o estado de São Paulo reverter sozinho a situação, a candidatura Serra teria que ter produzido um massacre de 80% a 20% – ontem os números foram bem mais modestos: Serra 54% a 46%. Essa é a verdadeira conta a ser feita pela oposição para disputar a Presidência, e ela é assustadora. PRI à vista.

PS: achei que tinha partido de uma premissa errada, mas verifiquei que não foi o caso. Na verdade, as variáveis são simples: Dilma teve uma vantagem total em relação a Serra de 12 milhões de votos em todo o país, mas no Norte e Nordeste o número chegou a 11.7 milhões, o que corresponde a 97.5% da vantagem. O que isso significa? Simples. Esses 11.7 milhões são uma espécie de zero - se a diferença total a favor dela fosse inferior a este número, isso significaria, obrigatoriamente, que Dilma teve menos votos que Serra no restante do país. E vice-versa. No primeiro caso, se o vencedor no Sudeste, hipoteticamente, fosse Serra, e não Dilma, e pela mesma diferença que deu a vitória à petista (1,6 milhão de votos), a diferença total entre eles cairia dos 12 milhões para 8.8 milhões, indicando que Dilma perdeu quando isolamos o Norte/Nordeste e, a depender dessa diferença, poderia até perder a eleição. No caso inverso, se Dilma, e não Serra tivesse vencido no Sul, a diferença total subiria mais 2.4 milhões, chegando aos 14.4 milhões, o que indicaria uma vitória ainda mais expressiva fora do esquadro Norte/Sul. Por último, se Dilma vencesse por exatos 11.7 milhões de vantagem, é claro que os votos nos outros estados mostrariam um empate entre ela e Serra.

De qualquer forma, a diferença total pró-Dilma, de 12 milhões, acabou sendo um pouquinho maior que os 11.7 milhões, portanto essa é a exata diferença a favor de Dilma no restante do país – 300 mil votos ou 0,3% dos votos válidos. Ufa!

domingo, 31 de outubro de 2010

A Day in the Life vs. Killing Moon

Em entrevista recente, Ian McCulloch disse a Paulo Ricardo, na Folha, que ‘Ocean Rain’ (1984) é melhor do que Sgt. Pepper's (1967), porque o disco da sua banda seria mais regular e não tem bobagens como “When I´m Sixty-Four”. Não achei absurdo, primeiro porque gosto muito desse disco do Eco & The Bunnymen, e segundo porque, para mim, o Pepper’s nem de longe é meu disco preferido dos Beatles, apesar de reconhecer sua importância histórica.
De fato, “Sixty-Four” é uma bobagem (e acho que nem é a única), mas o mais importante é constatar que praticamente nenhuma das grandes canções dos Beatles lançadas em 1967 (e foram muitas) faz parte do álbum - no mesmo 1967, o disco com a trilha do filme Magical Mystery Tour é melhor, http://pt.wikipedia.org/wiki/Magical_Mystery_Tour , mesmo sem ser "conceitual".

Mas há, claro, “A Day in the Life” - principalmente os primeiros dois minutos e quinze segundos, a parte composta e cantada por John Lennon (antes de Paul entrar com o vocal, no trecho de sua autoria ["Woke up, fell out of bed" ...]), que é um monumento.

Ainda sim, difícil discordar de Ian. Comparando os discos, o de sua banda soa mais consistente (mas obviamente não mais impactante), mas nenhuma canção, nem mesmo a inacreditável “Killing Moon”, consegue superar (ou igualar) esses 2’.15’’, uma obra-prima que talvez seja o ponto mais alto da música pop até hoje. O vocal de John, a melodia, a tensão quase insuportável do arranjo - a bateria de Ringo indo e vindo, a linha do baixo de Paul, os acordes dos pianos, enfim, e o fato não menos importante de a canção ter surgido ainda na década de sessenta. É a genialidade de John se manifestando, intransigente.

Para comparações:

http://www.youtube.com/watch?v=di7fKh3Vbj8
http://www.youtube.com/watch?v=3DRcah0SUfA

PS: interessante ver Ian empunhando um violão, numa das maiores canções do pop, ever.
PS2: curiosamente, a guitarra fica em segundo plano nestas duas obras-primas.

PS3: versão pré-finalizada estúdio de A Day In The Life:
http://www.youtube.com/watch?v=wklSXNPtiPA&feature=related

sábado, 30 de outubro de 2010

Grande Phil Collins!

"You'll Be in My Heart" (para o filme Tarzan, da Disney, 1999)
http://www.youtube.com/watch?v=9RiRFTLH0y8&feature=related

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Surpresa

Hoje ouvi no rádio “Pra não dizer que não falei das flores”, De Vandré, com ele. Para minha surpresa, fiquei tocado pela beleza da canção, que não ouvia há um bom tempo. Sua voz potente mas sem floreios, quase seca, soa bem; o arranjo com dois violões, muito bem tocados – solo e acompanhamento – dá um tom suave, que contrasta com a letra pregando a revolução. A própria letra é indiscutivelmente bonita, bem escrita - seu tom assumidamente planfletário/conclamatório, de tão eficiente, faz a gente ter vontade de pegar um cantil(!), um canivete suíço e sair por aí, atrás de alguma coluna Prestes perdida, hehe! Enfim, trata-se de uma bela canção, que não envelheceu tanto assim, ou melhor: envelheceu com classe.

PS: de qualquer forma, revolucionário hoje, no Brasil, é eleger Serra presidente. "vem vamos embora que esperar não é saber - quem sabe faz a hora não espera acontecer". O refrão segue atual!

Segue link http://www.youtube.com/watch?v=1KskJDDW93k 

PS 2: felizmente consegui o da gravação em estúdio (a que ouvi no rádio), e não a versão ao vivo, bem menos interessante musicalmente, mas que é o link mais comum da canção no youtube.

Haydn - trios para piano

Definitivamente, o melhor Mozart não teria existido sem os trios para piano (com cello e violino) de Haydn - não é à toa que Mozart idolatrava tanto seu conterrâneo mais velho. Confira o trio em Dó menor, que ouço agora a Rádio Cultura FM.
Pena, perdi o número do catálogo da obra e não consegui encontrar no YouTube, fica para uma próxima.

PS (ler post anterior)

Me ocorreu que "Bastidores", consagrada por Cauby Peixoto já em 1980, pode ser considerada o 'Drama' de Chico Buarque, evocando o passado com maestria, com toques de atualidade ("nunca cantei tão lindo assim"). Melodia e letra perfeitas - outra obra-prima do gênero retrô.

http://www.youtube.com/watch?v=WaqXdSUWKfg&feature=related
PS: pena que só consegui uma versão ao vivo, bem inferior a de estúdio, como é praxe.

Bastidores
Chico Buarque

Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
E me tranquei no camarim
Tomei o calmante, o excitante
E um bocado de gim

Amaldiçoei
O dia em que te conheci
Com muitos brilhos me vesti
Depois me pintei, me pintei
Me pintei, me pintei

Cantei, cantei
Como é cruel cantar assim
E num instante de ilusão
Te vi pelo salão
A caçoar de mim

Não me troquei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que tu nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar

Cantei, cantei
Nem sei como eu cantava assim
Só sei que todo o cabaré
Me aplaudiu de pé
Quando cheguei ao fim

Mas não bisei
Voltei correndo ao nosso lar

Voltei pra me certificar
Que nunca mais vais voltar

Cantei, cantei
Jamais cantei tão lindo assim
E os homens lá pedindo bis
Bêbados e febris
A se rasgar por mim

Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim

Drama (ler post Festa Imodesta)

Também de 1974, gravada estupendamente por Maria Bethânia, mostra os recursos infindáveis do compositor, evocando na melodia, sonoridade e letra, o melhor estilo "dor-de-cotovelo" produzido no Brasil nos anos 30 e 40, mas com um ou outro verso que nos fazem saber que não se trata de uma velha canção (como a último verso do refrão). Melodia riquíssima, que não se repete, apenas o refrão, grudento. Letra que esbanja virtuosismo na homenagem retrô, sem ironias tropicalistas. Vicente Celestino, que já tinha morrido na época, aprovaria, com louvor. Obra-prima!
http://www.youtube.com/watch?v=VRQni3vJWrE

Drama
Caetano Veloso

Eu minto mas minha voz não mente
Minha voz soa exatamente
De onde no corpo da alma de uma pessoa
Se produz a palavra eu

Dessa garganta, tudo se canta:
Quem me ama, quem me ama?

Adeus! Meu olho é todo teu
Meu gesto é no momento exato
Em que te mato

Minha pessoa existe
Estou sempre alegre ou triste
Somente as emoções

Drama!

E ao fim de cada ato

Limpo num pano de prato
As mãos sujas do sangue das canções

Saudosismo

Esta gravação, de 1968, com os Mutantes, sempre foi bem rara, mas agora o YouTube facilita tudo. É uma das grandes canções de Caetano, em minha opinião. Melodia simples, mas bem construída, letra que homenageia João Gilberto e a bossa nova, remetendo a uma época já precocemente distante, em que ainda vigorava a liberdade política e um bem estar difuso. Traz uma sutil e bela referência aos novos tempos da ditadura militar ("eu você, depois, quarta-feira de cinzas no país"), ao mesmo tempo em que critica a banalização da Bossa ("as notas dissonantes se integraram ao som dos imbecis"). Por tudo isso, não deixa de ser uma canção de protesto, mas sem os ranços típicos do gênero. Acima de tudo, é uma belíssima canção da saudade do que passou e não tem volta, mas também de superação - temos que seguir adiante e virar a página, a despeito de tudo. O refrão "chega de saudade" no imperativo, sintetiza essa idéia, subvertendo a letra da obra-prima de Tom e Vinicius, cuja levada tem mais a ver com "não agüento mais de tanta saudade", uma rendição.

http://www.youtube.com/watch?v=wlpdPO1DGJ0

Festa Imodesta

De 1974, mostra que, se quisesse, Caetano produziria em quantidade industrial sambas da velha guarda, de primeira linha, a Chico Buarque, para quem a composição foi especialmente composta. A melodia é rica e complexa, e o compositor parece se divertir em usar alguns clichês do gênero, enriquecendo-os. Mas penso que há uma pegadinha ali - a letra metalingüística, de rimas ricas, que foge dos temas de sempre do samba, do samba-canção, e debocha da censura da época, parece ser também quase uma ironia ao próprio gênero e seus criadores. Grande canção de Caetano Veloso, aqui com ele e Teresa Cristina.

http://www.youtube.com/results?search_query=festa+imodesta+teresa+cristina&aq=f

Meias verdades e mentiras inteiras

Sempre que a claque petista invoca a coragem de Dilma durante a ditadura militar, eu penso que a coragem será ou não uma virtude, a depender do contexto em que é empregada. Hitler, Pinochet, Stálin, Franco, Mao, Mussolini, Sadam e tantos outros podem ter sido tudo de ruim - e foram - mas ninguém lhes pode negar a coragem que sempre tiveram. Mas em prol de quê?

Digo isso porque, ainda que Dilma tenha de fato combatido a ditadura militar, é mentira que a coragem da candidata oficial teria servido para defender a democracia brasileira àquela época. Nada justifica a violência, a tortura que barbara e covardemente ela sofreu pelas mãos de militares criminosos, mas sua luta, ao contrário do que a candidata afirma na campanha, não era para trazer de volta a democracia perdida, e sim para tentar implementar um socialismo à cubana no país - um regime totalitário, enfim, pior que a ditadura militar, que tinha natureza autoritária, com exceção do período Médici. É bem diferente da atuação de um Charles de Gaulle, que lutou pela resistência francesa contra a ocupação nazista, tornou-se seu líder maior, se arriscou por ela, mas sempre em defesa da democracia, tanto assim que, quando a guerra acabou, de Gaulle tornou-se primeiro-ministro do Governo Provisório Francês, mas renunciou logo depois, devido a conflitos políticos. Ele só voltou a chefiar o governo mais de uma década depois, como primeiro-ministro, escolhido pela Assembléia Francesa, e em seguida tornou-se, pelo voto, o primeiro presidente da Quinta República.

Nada a ver com 'comandantes' como Fidel, Pol Pot e tantos outros que, ao liderar um processo revolucionário bem-sucedido, se sentiam no direito de se instalar com seu grupo no poder, sem consulta popular, para lá permanecer indefinidamente, formando um estado totalitário, o que seria o caso se a organização de guerrilha VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), a que Dilma pertenceu, triunfasse no Brasil - o que, de qualquer forma, sempre foi uma possibilidade muito remota. A tentativa recorrente de reescrever o passado é inaceitável, mas o pior é que, infelizmente, tem sido bem-sucedida na democracia brasileira, que assim, pouco a pouco, vai sendo minada.

Falta verve

No pouco tempo que agüento ver a Dilma falar na TV - aquela fala truncada, nervosa e sem nexo de quem tentou decorar as frases, mas sem efeito - sempre me vem à cabeça a falta que faz a verve de um Brizola ou de um Covas. Num debate com um político desse naipe, Dilma seria trucidada, e sua candidatura, rapidamente liquidada, pelo ridículo em que cairia.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dramin é preciso

Sei lá por que, hoje tive estômago para ver inteiro o programa da Dilma Rousseff na TV. Como diria o outro, naquele velho (e cafona) samba-canção, qual o quê! O clip mostrando o apoio incondicional dos velhos artistas famosos de sempre à candidata do PT, foi uma das coisas mais bizarras e deprimentes que vi em muito tempo. De um oficialismo triunfante que nem nos piores tempos de Stálin deve ter sido visto na classe artística. Mas ali ninguém fazia nada a contragosto, e muito menos havia algum tipo de medo ou constrangimento. O clima festivo era só uma defesa escancarada pela continuidade das mamatas do dinheiro fácil e sem limites das estatais. Tudo pela arte, mas com dinheiro público! Nojo em estado bruto. Pensando bem, não tenho estômago pra isso, não.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tudo é política nas eleições - ainda bem!

Boa parte da imprensa ataca a questão do aborto como se ela fosse uma questão reles e irrelevante para os brasileiros. Enfim, uma jequice a mais, uma baboseira religiosa sem maior importância. Mas não é, pelo fato de que a maioria esmagadora, gosta-se ou não, é contra. Portanto, trata-se de uma discussão política, sim. É uma atitude esnobe e antidemocrática pautar o que pode e ou que não pode entrar numa campanha. Quem decide? Os colunistas "isentos" da Folha, do portal Terra, do IG? O fato concreto é que Dilma sempre apoiou a descriminação do aborto, em consonância com a agenda de seu partido. Aliás, a questão foi abertamente colocada no PNDH (Plano Nacional de Direitos Humanos) 3, sob sua batuta, na Casa Civil. Tem todo o direito de fazê-lo, o que não pode é dizer agora – reta final da campanha - que sempre foi contra, porque é uma mentira que atenta contra a inteligência das pessoas. Em política, assim como no cotidiano da vida privada, ninguém é obrigado a ser 100% sincero - mas não dá para sair mentindo deliberadamente e achar que ninguém vai perceber. Até porque, está tudo documentado. Se a imprensa brasileira fosse menos servil – como acontece nos Estados Unidos e Inglaterra – toda vez que o assunto fosse citado em algum jornal ou TV, não hesitariam em mencionar que, em 2007, num debate na Folha de S. Paulo, Dilma deu a tal declaração (que foi gravada em vídeo) etc etc. Mas aqui, em nome da falsa isenção, quase todos os veículos (com exceção da Veja), fazendo a vontade da candidata oficial, insistem no pretérito “teria dito”, insistem na palavra “boato” - é deprimente. Aliás, é incrível que ainda não se tenha feito esta simples pergunta a ela: “candidata, você mudou de idéia quando?, já que, em 2007, a senhora declarou etc etc”. Simples assim. Mas não se faz a pergunta, e exatamente por isso o assunto perdura, o que é legítimo num pleito democrático. Não é “culpa” do eleitorado, que tem o direito à informação para decidir seu voto.

PS: em 1985, nas eleições para a prefeitura de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso, no último debate da TV, teve de responder a Boris Casoy se acreditava ou não em Deus. FHC tergiversou, não disse nem que sim nem que não, e perdeu a eleição para Janio Quadros por margem menor que 0,5%. Hoje Dilma poderia ter feito um papel melhor: bastava não renegar o que falou sobre o aborto, afirmando, por exemplo - caso essa questão fosse tão decisiva assim, e parece que não é o caso - que repensou e mudou de idéia. Mesmo que não estivesse sendo sincera, seria uma atitude legítima para um candidato - assim como foi legítimo FHC não ter respondido "não, não acredito em Deus". Ilegítimo e imoral teria sido FHC se dizer um devoto desde sempre (e olha que ele não tinha declarado o contrário publicamente), e é assim que Dilma vem agindo, ao mentir sobre o que disse sobe o aborto e se declarar "devota" de Nossa Senhora desde criancinha...
É que é prática comum no PT a tentação de reinventar a história, omitindo ou aumentando esse ou aquele acontecimento, conforme a melhor conveniência da ocasião. Mas na era digital, onde quase tudo é registrado e arquivado, a tarefa fica cada vez mais difícil, e desta vez esse discurso parece que está caindo no vazio. Já não era sem tempo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Llosa e a velha patrulha

Mario Vargas Llosa levou o Nobel, mas a intelligentsia pucusp-unicampiana não poderia saudá-lo assim, sem mais nem menos, afinal o grande escritor há muito abandonou a esquerda como alternativa para o desenvolvimento. Na Folha Ilustrada de hoje, um texto de Laura Janina Hosiasson, professora de literatura hispano-americana na FFLCH da USP, reconhece os méritos estéticos de Llosa, mas faz questão de ressalvar sua mudança ideológica. Até aí tudo bem. O problema é escrever mentiras para justificar sua tese. Laura diz, por exemplo, que Llosa era o candidato conservador nas eleições presidenciais de 1990, contra Alberto Fujimori. Ou seja, para ela, progressista era Fujimori, certo? E provavelmente porque Llosa fez uma campanha em que defendia as bandeiras da economia de mercado e do Estado democrático. Mui conservador, né?! Em outro trecho, a professora acusa o Llosa articulista e intelectual de ter “endireitado”, o que não teria nada demais em si, se sua explicação para o fenômeno não fosse a seguinte pérola da análise política: Llosa teria guinado para a direita porque passou a “amenizar, contemporizar, aparar arestas”. Isso lá é definição da atuação da direita, qualquer direita? E é tudo o que o escritor não vem fazendo. Pelo contrário. Sem jamais se deixar intimidar, em textos sempre brilhantes, publicados nos principais jornais do mundo, ele compra brigas com quem ainda defende estados totalitários, de esquerda ou de direita, mas certamente aí reside o problema - defender o lado errado, ou atacar o certo. Se Llosa ao menos defendesse o regime cubano, Laura possivelmente não lhe pegaria tanto no pé...  Mas a professora faz ainda pior. Estabelece um paralelo arbitrário, em que a literatura de Llosa decai em valor artístico na medida em que o autor vai guinando da esquerda para a direita. Está tudo no trecho " (...) penso que a fórmula que o grande escritor peruano encontrou para costurar sua vocação literária com a do político está na raiz de uma retração na qualidade da escrita"  Mesmo que a coincidência fosse verdadeira - e penso que não é - seria absurdo considerar que fosse um caminho deliberado. Argh.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Blog

Descobri um excelente, Flanela Paulistana (by Leticia). http://flanelapaulistana.com/

Impecável e preciso editorial da Folha de S. Paulo de ontem

"Opinião flexível"
http://sergyovitro.blogspot.com/2010/10/editorial-folha-de-sao-paulo_6117.html

Marina na hora da verdade

Se Marina fosse um personagem político de fato notável, o que não acredito ser, abraçaria sem delongas a candidatura de José Serra, por tudo que o tucano vem fazendo - em conjunto com o Partido Verde - na questão ambiental em São Paulo nos últimos cinco anos, desde o tempo de prefeito da capital. Ao mesmo tempo, a opção por Serra seria sua declaração de independência definitiva em relação ao seu ex-partido, que ainda pensa que pode manter a senadora sob controle, como é típico de organizações antidemocráticas. Declarar sua neutralidade no segundo turno, como está parecendo que vai acontecer, é uma atitude hipócrita - mais honesto e legítimo pregar o voto nulo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Série

O piloto da nova série da HBO, Boardwalk, custou 20 milhões de dólares e foi dirigido por Scorsese. Foi escrito por Terence Winter, um dos principais roteiristas da Família Soprano, o que é bem mais que uma credencial, já que a série era soberba. Steve Buscemi faz um gangster da época da Lei Seca americana, nos anos 20, que é baseado num personagem real. Quem viu diz que vai marcar época, tanto quanto os Sopranos. Não duvido. A ver.

Nova TV Cultura

A TV Cultura mudou sua programação, e mudou para melhor, não há má vontade no mundo que impeça alguém de reconhecer o avanço. Muita coisa boa, mas destaco o novo Metrópolis, que deixou de ser aquele oba-oba habitual da cena artística paulistana, com cara de assessoria de imprensa, aumentou de tamanho e virou um programa analítico, com um apresentador que entende do riscado. O jornalismo também saiu do marasmo, e há bons enlatados da BBC sobre ciência, além dos filmes (recentes) da Mostra, duas vezes por semana. O programa Login foi mantido e é bem acima da média - não duvido que a jovem dupla de apresentadores - fluentes e talentosos - já esteja sendo assediada pela concorrência.

Se...

Na microbiografia de Rimbaud escrita por Edmund White, ficamos sabendo que o poeta - aos 20 anos e já com sua obra literária terminada - tentando combinar seu gosto por viagens com a necessidade de se sustentar, se ofereceu como tutor para famílias ricas em alguns países da Europa. Era 1874. Não conseguiu nada e acabou viajando por conta própria para a África oriental e Iémen, lugares bem inóspitos na época e onde, como era previsível, não teve vida fácil. Me ocorreu que ele poderia ter pensado no Brasil - haveria de conseguir alguma coisa no Rio da corte de Dom Pedro II. Talvez se animasse a continuar na poesia. É uma hipótese.

Caetano de volta ao batente

Leio no Estado que Gal Costa gravará um disco com inéditas de Caetano. O compositor já teria seis canções prontas, e ainda vai escrever mais algumas. Essa notícia alegrou meu dia - Caetano voltando a compor a todo vapor. Já foi dito neste espaço que esta parceria é um dos grandes acertos da MPB. Só espero que a inspiração de Caetano esteja num registro diferente daquela presente no álbum "Cê".

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Incongruentes

O premiado escritor argentino Alan Pauls, em entrevista ao Estadão de hoje, ainda que de forma meio dissimulada, se recusa a criticar a tentativa explícita dos Kirchner de estrangular os recursos econômicos dos principais jornais de seu país, atitude que atenta contra a liberdade de expressão e a democracia na Argentina. Pelo contrário, diz que esse embate é saudável por incentivar um "debate vital" a cerca do poder - ao seu ver excessivo - de "certos grupos mediáticos". Ao se manifestar dessa forma, faz (má) companhia ao cantor Fito Paez, que foi pelo mesmo caminho, desta vez em recente declaração à Folha de S. Paulo. Parece que esses artistas sentem algum tipo de nostalgia inconsciente da ditadura. Lamentável. Deprimente.

Aves ou ovos?

Incrível a má vontade da imprensa em geral com José Serra. Ele só teria chegado ao segundo turno por obra de Marina Silva. Tudo bem. Mas seus mais de 33 milhões de votos ajudaram um pouquinho, não? É como se fosse Serra, e não Dilma, o candidato a contar com a máquina do oficialismo. É uma postura que, entre outros defeitos, falta com a verdade, matéria-prima número um do jornalismo, ou do que deveria ser o jornalismo. Argh.

Eleições: os números sem maquiagem

Na reta final das campanhas, os institutos de pesquisas costumam divulgar apenas o percentual de votos válidos dos candidatos mais bem colocados. A razão disso é a possibilidade de um deles atingir a metade mais um dos votos válidos, e dessa forma eliminar o segundo turno. Ok, é uma opção que tenta simplificar o processo, mas considero isso um equívoco, porque infla a votação dos postulantes, mostrando números que não espelham a realidade. Vejamos alguns números desta eleição para presidente da República, realizada anteontem.


O (excelente) site do TSE http://www.tse.gov.br/internet/index.html informa que no Brasil há 135 milhões e 804 mil eleitores, e que nestas eleições a abstenção foi de 18,12%, ou seja, compareceram às urnas 111 milhões e 193 mil eleitores. Mas desse total, 8,64% votaram nulo ou branco (votos inválidos), portanto os votos válidos totalizaram 74,80% sobre aqueles 135 milhões, o que corresponde a 101 milhões e 590 mil votos - para vencer no primeiro turno, bastaria obter 37,40% mais um voto. Vamos agora aos percentuais de votos válidos de Dilma, Serra e Marina, números que foram amplamente divulgados na imprensa: respectivamente, 46,91% (47 milhões e 651 mil votos para Dilma), 32,61% (33 milhões e 132 mil votos para Serra) e 19,33% (19 milhões e 636 mil votos para Marina).


Ocorre que, se formos computar os votos de cada um sobre o total de eleitores (quase 136 milhões, sem entrar na abstenção) esses percentuais evidentemente caem muito, mas trazem uma radiografia mais realista do quadro eleitoral em relação à população brasileira. Cesar Maia prefere calcular com base na quantidade total de votos (válidos e não válidos), já descontando a abstenção, mas mesmo assim estes percentuais serão menores do que apenas os do universo dos válidos. Vamos aos resultados nos dois cálculos: sobre o total de eleitores (sem abstenção), o percentual de Dilma cai para 35,08%, o de Serra para 24,39% e o de Marina para 14,45%. Quando excluímos os que não compareceram (Cesar Maia), Dilma passa a ter 42,85%, Serra 29,79% e Marina 17,65%. São os números reais. Ou seja: se a tendência de abstenção e nulos se mantiver (e deve aumentar, porque haverá feriado prolongado no fim de semana do segundo turno), o candidato que conseguir algo entre 36 e 37% do total do eleitorado (pouco mais de um terço dele) será o próximo presidente do Brasil. Simples assim.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Comigo não, violão

De novo Marina Silva vem com a conversa mole de "erros" do PT, a pretexto de atacar seu ex-partido na reta final da campanha. Como diria minha sobrinha Nina, que mané erro, nada! Crimes, isto sim. O mensalão, além de crime gravíssimo de lesa-democracia, utilizava recursos PÚBLICOS para corromper os deputados envolvidos, Marina. O balcão de negócios em que se tranformou a Casa Civil (mesmo antes do mensalão), idem.
O procurador-geral da República chamou de quadrilha os operadores das negociatas, bem como do mensalão, que aliás era só uma das frentes de crimes envolvendo aquele ministério, crimes que hoje se sabe, continuam a acontecer. Vamos supor que a casa de Marina seja invadida e roubada. Espero que nunca aconteça, mas por acaso ela diria que os ladrões cometeram um "erro"?
Não é à toa que a candidata optou por não abandonar o PT e o cargo de ministra na época das denúncias. Erros não são necessariamente crimes - as palavras têm significado - e pensar assim expressa muito do que pensa Marina a respeito da vida pública.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Noveleiro da Sete

Possivelmente vou decepcionar os poucos leitores deste blog, mas devo dizer que o remake da novela Ti-ti-ti está impagável. Diálogos acima da média, humor e elenco afiados. Diversão quase sempre garantida.

Maluf 1 x 0 Erundina

Luiza Erundina não só compareceu como foi oradora do evento de ontem contra a imprensa livre e independente. Seria o caso de dizer que é uma lástima para quem se elegeu prefeita de São Paulo (1988), na primeira eleição direta para o cargo depois do fim da ditadura militar, mas se considerarmos que pouco depois Paulo Maluf e Celso Pitta também chegaram lá pelo voto, nem tanto. Pitta já morreu, mas Maluf está vivíssimo e não foi bater pau contra a democracia. Pior para Erundina.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Hitler, Stálin, Mussolini, Médici, Pol Pot, Chávez etc. etc.

Na quinta-feira (23/09) está programada uma passeata contra o artigo 5º da Constituição brasileira, aquele que garante a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e direitos fundamentais do indivíduo. Claro que na novilíngua petista, a manifestação leva outro nome - "ato político contra o golpismo midiático e em defesa da democracia" (sic). Além do PT, PC do B, PSB, PDT, CUT, CTB, CGTB, MST e UNE, a marcha contará com o apoio luxuoso do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Surrealismo total. André Singer (ler post abaixo) também é jornalista. Espero sinceramente que não compareça ao "evento".

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Alinhados

Ensaio de André Singer na Folha de ontem ("A história e seus ardis" http://sergyovitro.blogspot.com/2010/09/historia-e-seus-ardis-o-lulismo-posto.html). Entre outras pérolas ilustrando mais uma tentativa do PT de reescrever (agora literalmente) a história, compara Lula a Franklin Roosevelt. Triste ver em ação um intelectual a serviço de um partido político que se quer perpetuar no poder e prega a extirpação dos adversários. Como cidadão, é óbvio que Singer tem o direito de apoiar quem quer que seja para o cargo A, B ou C, mas como intelectual (cientista político), seria vedado simular escrever como quem está fora do embate político, mas claramente não está, o que só faz denegrir ainda mais o papel de certos intelectuais no regime democrático brasileiro. Mas ele não era o porta-voz da Presidência da República na época do mensalão? Faz sentido.
Para Singer, "a candidatura Dilma, por sua biografia, é talhada para levar adiante um projeto nacional pluriclassista". Ao candidato Serra, é vedado sequer tocar no tema corrupção e/ou escândalos do governo, sem ser "tragado pela lógica do escândalo, retornando ao caminho udenista da denúncia moral, que só garante os votos de classe média - o que, no Brasil, não ganha eleição". O que teria sido para Singer o "Fora FHC", encabeçado pelo PT no goverrno Fernando Henrique Cardoso, sem que houvesse nenhuma acusação direta ao presidente? Udenista? Golpista? Udenista golpista? Não se sabe. Argh.

Gênio

À Folha de hoje, o "roqueiro" Fito Paez diz que não é chegado a modernidades na cozinha, como raviólis com recheio de salmão, mas apóia a investida chavista do casal Kirchner contra a imprensa de seu país - e por consegüinte, contra a liberdade de expressão, conquistada às duras penas pelo povo argentino. Para o cantor, a dupla estaria "questionando os grupos de poder instalados há mais de 50 anos". Argh.

domingo, 19 de setembro de 2010

Jornalheiros

É por isso que a internet segue sendo uma revolução. Há um blog sensacional, criado e desenvolvido por um engenheiro eletrônico, Paulo Cezar da Costa Martins Filho, torcedor do Fluminense, historiador da mais fina estirpe. Chama-se Jornalheiros - http://jornalheiros.blogspot.com/ -, um espaço para quem gosta da história do futebol, com rigor e vituosismo (informação e fotos da mais alta qualidade), mas igualmente sem fanatismo, bairrismo ou ismos em geral, e onde sobra paixão, mas com ciência, se é que me entendem! Claro que agrada também a quem apenas aprecia o futebol bem jogado. Os comentários costumam honrar a empreitada. Boa leitura!

sábado, 18 de setembro de 2010

Site e moral

Muito bom o site Fromsport -  http://www.fromsport.com/ - um portal (sem necessidade de cadastros, senhas ou downloads) com transmissões ao vivo de várias modalidades esportivas de todo o planeta, entre as quais o futebol brasileiro, claro! Hoje pude acompanhar pelo computador Corinthians X Grêmio Prudente (3 a 0 para o Timão), jogo que só passou na TV em pey per view, no Sportv. Mas tem muita opção, a depender da hora e o lugar em que acontece o evento. O delay é menor que 2 segundos em relação a transmissão da TV, e a qualidade da imagem, mesmo não sendo uma maravilha, é ok, com um ou outro solavanco *. Mas há trasmissões com uma resolução muito boa, como aconteceu por exemplo no jogo Botafogo X Cruzeiro (realizado no mesmo horário do jogo do Corinthians), com sinal de um canal dos Estados Unidos. Aliás, é divertido poder acompanhar uma partida daqui com narração gringa, em espanhol ou inglês. Agora pouco, por curiosidade, vi uns minutos de América de Natal contra Icasa, pela série B do Brasileirão, e dei uma espiada em  duas partidas do campeonato mexicano. Quem gosta de golf, tênis, basquete, autobmobilismo e ciclismo, entre muitos outros esportes, também não vai se decepcionar. Imagino que num iPad fique ainda mais incrível.

* Minha conexão é de modestos 6 megabites. Se fosse de 30 mega, ou mesmo menos, acredito que a qualidade da imagem via internet seria ótima. Quando finalmente a fibra óptica tiver se popularizado (ou uma transmissão ainda mais rápida e com mais capacidade de armazenamento), nem se fala, mas a essa altura as emissoras que compram a peso de ouro os direitos de transmitir os jogos devem partir para uma briga de peso-pesado contra esse tipo de site, que não reconhece a exclusividade de ninguém - é uma questão complexa, porque o dinheiro que entra via transmissão exclusiva para a TV já se tornou fundamental para a indústria do esporte de alto rendimento. Mas difícil resistir a um site que oferece tudo isso de graça. Eu não tenho conseguido.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Não vale a pena ver de novo

Revi uma boa parte de um dos filmes de Woody Allen de que mais gosto, ou gostava, ‘Manhattan’ (1979). Allen idealiza demais a namorada adolescente (Mariel Hemingway), que no filme, além da beleza estonteante, é um anjo cheio de meiguice e maturidade - a realidade é que, fora a beleza habitual, adolescentes de 17 anos tendem a ser implacáveis, mesmo em 1979. A trama paralela com Diane Keaton é previsível, e a impressão de que, para o diretor (e não só neste filme), basta ser leitor do New York Times para ser considerado um intelectual, me incomoda. Mesmo assim, o belíssimo final compensa, mas o ideal seria não rever alguns filmes – 'Hannah e Suas Irmãs' e 'Radio Day's vou tentar preservar na memória.

Nanico engraçado

Uma das picaretagens mais divertidas desta campanha eleitoral vem do PCO (Partido da Causa Operária), que prega um salário mínimo de R$ 2.500 (nem um centavo a mais ou a menos!). Gostaria muito de saber se o candidato Rui Costa Pimenta, que disputa a presidência, paga a seus empregados (e ele os tem, com certeza) usando a referência de sua propaganda. Tem que dar o exemplo em casa, certo?!!

A volta do milagre

Hoje um dos Fernandinhos da Folha – sempre tão serelepes - presta uma bela homenagem involuntária a Emílio Garrastazu Médici, a pretexto de elogiar Lula, claro. Embaralhando conceitos caros a Norberto Bobbio, o colunista  escreve que “a atual prosperidade econômica e a ampliação de direitos sociais” seria um avanço democrático inquestionável da era Lula, e que Serra "não seria um ator convincente da direita" (!) para enfrentar nas urnas tais conquistas. Serra, de direita?? Prosperidade econômica e avanços sociais que só teriam começado em 2003, como que por mágica? É incrível como, 40 anos depois do "milagre econômico", época em que o país crescia a índices chineses, o mantra daquele tempo ("Ame-o ou Deixe-o") volte a assombrar o Brasil - não se pode fazer oposição a Lula sem patrulha, assim como não se podia fazer a Médici sem pancada. Os instrumentos são diferentes, (ditadura antes, mistificação agora) mas a lógica é a mesma (mentira e simplificações da realidade imperando). Triste é que a mistificação de hoje conta com a ajuda luxuosa de parte nada desprezível da grande imprensa.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

As Ilhas

Um grande amigo que aproveita merecidíssimas férias me envia torpedo da Córsega (ilha cuja área é equivalente a quase 25 Ilhas Belas), mais precisamente das Ilhas Sanguinárias. Que nome espetacular! No Brasil, não duvido que o nome oficial fosse mudado por não "soar bem".

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sofia, Veneza, Scarlett e cinema nacional

Sofia Copolla levou o Leão de Ouro em Veneza (por Somewhere), um grande feito, sem dúvida. O fato de o presidente do júri do festival – o grande Quentin Tarantino - ser seu amigo de longa data (e ex-namorado) deve ter pesado na declaração de Tarantino à imprensa, a qual enfatizava que a decisão foi unânime. Ok. Sofia tem um Oscar de roteiro original (Encontros e Desencontros, 2003), outro grande feito, mas convenhamos que a escolha de uma Scarlett Johansson aos 18 aninhos para o papel principal foi determinante, e não menos importante uma cena fundamental no roteiro, a saber, aquela em que a diva aparece de calcinha, logo no começo do filme!

PS: Scarlett atua tão bem em ‘Encontros’ que parece injusto não elogiar o que seria a colaboração da diretora. Mas, relembrando sua já nem tão curta carreira no cinema, por pior que possa ser o filme (e geralmente nem é o caso), quando é que Scarlett não está magnífica em qualquer papel?

PS2: a atriz poderia ser a salvação do cinema nacional. Basta alguma ONG descolada de meio ambiente ou de ação social (que tal o 'Nós do Morro'?!) convencê-la a vir atuar no Brasil (com cachê simbólico), em duas ou três produções anuais, e bingo: nosso cinema ressuscitaria como Lázaro, já que com Scarlett não tem filme ruim nem tempo fechado!

Bikes e SP

A campanha pró-bicicletas em São Paulo é um equívoco só. Claro que nada contra se locomover de bike pela cidade, ainda que seja algo bem perigoso, pela falta de educação de boa parte dos motoristas. Pedalar não polui a cidade, faz bem para a saúde, tudo isso é inquestionável. Mas tentar estigmatizar motoristas de automóvel é absurdo, e é o que está se fazendo, pelo menos em campanhas informais, no rádio. Para começar, é bobagem associar usuários de carros com a elite (sempre ela!), ainda que ricos sempre andem de carro, por óbvio. Uma grande quantidade da frota paulistana (ao menos 6 milhões de veículos) pertence a pessoas das classes C e D (e até E), que se deslocam principalmente para trabalhar. Numa cidade das dimensões de São Paulo, é comum que o trajeto casa-trabalho seja longo, às vezes muito longo – principalmente para as camadas menos favorecidas. Uma campanha por um melhor e mais extenso e integrado transporte público seria muito mais útil e pertinente. É injusto exigir que um cidadão que mora na Vila Carrão e trabalha, por hipótese, no Socorro - um trajeto de, no mínimo, 35, 40 quilômetros - não use seu carro, no caso de tê-lo. Ele sofre no trânsito e vai demorar bem sua hora e meia para chegar, mas sem seu automóvel teria de procurar outro lugar para trabalhar. Numa cidade em que praticamente não há cilcovias, quem pode ir de bike ao trabalho são pessoas (geralmente de classe média alta para cima) que moram, em média, a não mais que quatro, cinco quilômetros dele. Enquanto a infraestrutura continuar na mesma, o resto é demagogia freak.