quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Dica para alguém

Se só tiver 10 minutos e 41 segundos livres num dado dia, ouvir o adágio (ma non troppo, terceiro movimento) da sonata para piano nº 31, em La bemol maior (op.110), Beethoven, claro, possivelmente um dos dois ou três pontos mais altos que a música produzida por seres humanos conseguiu alcançar (porque não excluo a possibilidade de extraterrestres avançados terem voado alto também neste quesito e não apenas na tecnologia). Se o tempo for um pouco maior, ouvir, claro, a sonata inteira. Se possível, todas as 32, uma por semana. Voltando ao adágio, o contraponto da segunda parte cada vez mais me parece uma homenagem a Bach. Nunca li nada a respeito (talvez por ignorância), mas pode ser, porque a época em que a composição foi feita coincide com o período em que Beethoven se debruçou na obra do grande compatriota. PS: disse homenagem, mas penso ser mais do que isso. É como se Beethoven tivesse precisado fazer uso de um certo tipo de contraponto - levado às últimas conseqüências por Bach - para chegar aonde queria. E, tendo obtido êxito, pode-se dizer que, sim, trata-se também de uma homenagem, uma linda homenagem, de gênio para gênio. PS2: este post é dedicado ao meu pai, Bruno, e à querida amiga Jenny, grandes fãs das sonatas de Ludwig van e de sua música em geral. Em tempo, a intérprete em questão é a grande pianista Daniela Ruso.

Gripe

Incrível que até hoje a Gripe Espanhola não tenha rendido um grande livro no Brasil. Nava a registra, e as passagens estão entre as melhores de Chão de Ferro. Mas penso num livro só sobre os trágicos eventos que aconteceram no curtíssimo período entre outubro e novembro de 1918, que mataram até o presidente da República da época (Rodrigues Alves)*. O número de óbitos, só no Rio, teria ultrapassado inacreditáveis 18 mil pessoas, isso numa população que tinha pouco mais de um milhão, ou seja, quase 2% dos habitantes da cidade teriam morrido por causa da gripe. Estima-se que mais de 60% da cidade tenha adoecido - outro número assustador (mas não ponho minha mão no fogo especificamente por esse dado). A Espanhola, pelo pouco que li a respeito, era uma espécie de meningite elevada ao cubo, e claro, não havia antibióticos, o que compunha o filme de terror - famílias inteiras pereciam em questão de dias, não sem antes grande sofrimento. Fernando Morais chegou a anunciar que contaria essa história, mas isso há uns bons 12 anos, e até agora nada - a essa altura, é mais fácil supor que esteja no projeto de alguma biografia de Orestes Quércia ou Hugo Chaves, hehe! Pena, porque poderia ser um grande livro. Quem sabe Ruy Castro não se habilita? Ou Algum ficcionista? A ver. *Na verdade Rodrigues Alves adoeceu e faleceu pouco antes de assumir o que seria seu segundo mandato.