sábado, 18 de dezembro de 2010

Lá vêm eles!

Numa resenha* para o Guia da Folha, sobre a monumental biografia de Hitler, de Ian Kershaw, Francisco Alambert, que também é historiador e leciona na USP, comete uma dessas típicas gracinhas que a esquerda festiva adora promover. Depois de enaltecer justamente o trabalho do britânico (sempre eles), não sem antes, embasado em conceitos marxistas, criticar alguns pressupostos do autor, Lambert, no último parágrafo do texto, fuzila. "Numa época como a nossa, em que colunistas de direita povoam os jornais e a internet, é preciso entender como demagogos criam sua mistificação, com resultados terríveis. Esta biografia do maior deles é imperdível".

Para começar, onde estão os tais colunistas de direita nos jornais? Na Folha é que não - seu colega  da USP, Vladimir Safatle, recém-contratado justamente como colunista do jornal, é uma voz que, em suas próprias palavras, pretende mostrar “como o pensamento de esquerda é capaz de sintetizar problemas novos e encontrar respostas inesperadas para os antigos". E quanto aos demais colunistas da Folha, quem fala em nome da direita para esse "novos problemas e respostas inesperadas"? E quanto aos outros véículos? E na internet? Neste caso, talvez Alambert, pensando em Reinaldo Azevedo, esteja fazendo confusão: os blogs e sites de esquerda, muitos financiados com dinheiro público, também são bem mais numerosos do que os que estão mais à direita, mas a audiência destes, muito em função dos bravos e brilhantes Reinaldo e Augusto Nunes, é incomparavelmente maior - (como dizia o refrão anti-Rede Globo, o povo não é bobo).

Mas voltemos à idéia do parágrafo aqui citado. O historiador da USP, ao reclamar (infundadamente) dos blogs e colunistas de direita que povoariam (podia ter escrito infestariam, a idéia é essa) os jornais e a internet, e logo em seguida citar "o maior de todos os demagogos", Hitler**, é claro que ele tenta assim jogá-lo no colo da direita, associando-a com toda a barbaridade genocida comandada pelo facínora alemão, como fingindo desconhecer (é historiador!) que o nazi-fascismo está repleto de vasos comunicantes com o comunismo - são duas faces da mesmíssima moeda da utopia totalitária. Para que essa idéia torta se mantenha em pé, Alambert tem de ignorar o legado de Stálin, Mao, Pol Pot, Fidel e tantos outros líderes da esquerda, de maior ou menor escalão. Afinal, eles não conseguiram o status de "o maior de todos os demagogos", certo? Então merecem o nosso perdão! Não se trata de comparar quem  teria seria o líder mais nefasto para a humanidade - Hitler merece a fama de número 1 -, mas de identificar esse tipo de impostura, cheio de dissimulações, que é uma das marcas registradas da intelligentsia de esquerda, não só brasileira, e que continua muito atuante por aqui, já abarcando novas gerações de "professores da USP". 

Alambert é professor de história, mas faz proselitismo ideológico ao selecionar o que deve e o que não deve ser dito e escrito - o velho esquema de sempre. Então ficamos assim: todo e qualquer indíviduo que não se considerar um esquerdista - que sempre pensa no bem da humanidade - poderá estar no mesmo saco que ninguém menos que Adolf Hitler. Mas os milhões de crimes perpetrados por líderes da esquerda jamais serão associados aos militantes da nobre causa humanitária. ARGH.

Falei alguma novidade? Claro que não! O problema é que esta pérola recente soa não mais como sintoma, mas como fato consumado neste Brasil pós-Lula. "Eles" venceram!!

Para encerrar, um desejo (quase impossível) para próxima década: por uma universidade brasileira com menos Marx (mal lido e mal ensinado) e mais Tocqueville.

* História e fantasmagoria, do Guia da Folha especial sobre livros, discos e filmes.

** "Generoso", Lambert não cita Mussolini, mas depois de Hitler, nem precisava, não é?!