terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sebald filmado?

Nada como um programa atrás do outro. Na mesmíssima TV Sesc, dentro do mesmo programa (Direções), logo depois do tal teleteatro capenga, eis que surge um belíssimo curta-metragem em 35 mm, "Olhos de Ressaca", de Petra Costa, (colorido, 20 minutos) sobre as reminiscências de um casal na faixa dos 80 anos, feliz, saudável, sereno e com um quê de tristeza, há décadas vivendo numa fazenda.

Trata-se de uma linda reflexão sobre o passar do tempo, da finitude, e zero pieguice, porque os depoimentos de cada um são para lá de interessantes, sábeis, e as soluções visuais e narrativas escolhidas por Petra, bastante criativas. A diretora mistura com habilidade registros atuais do casal (que nunca falam olhando para a câmera), em bela fotografia, ótima edição de som e bons enquadramentos, com imagens - possivelmente reais - do passado da família, registradas em película (Super 8?) - os quatro filhos pequenos brincando entre si e com os pais, ainda jovens e (muito) bonitos, seqüências de passeios na fazenda, no presente, lembranças dos pais deles, de como se conheceram, do namoro, do casamento, tudo em poucas frases - é uma arqueologia poético-impressionista daquela família, daquele casal, já que dos filhos nada sabemos sobre o seu presente (ou futuro melhor dizendo).

Aqui e ali, sem cansar, um e outro se alternam na leitura de alguma poesia ou trecho de romances marcantes para eles - trechos nada óbvios de Drumond, Rosa etc. A cumplicidade dos dois, a relação suave entre eles, doce, é tocante. Filme muito bem concebido e realizado. No final a bela senhora diz, se referindo ao companheiro - "nossa vida é entrelaçada".

Claro que toda vida rende um filme. Às vezes o enredo ajuda, mas sempre precisa do talento do realizador.

TV Sesc na madrugada e Lost

Apresentação de um trio que podia ser detido por tentativa de agressão física à música e aos pobres instrumentos - bateria/percussão, piano e contrabaixo acústico. Uma sonoridade sub, sub, sub-Gismonti, com improvisos horripilantes e música que não expressa nada, ou melhor, expressa um mal estar de não acabar nunca - o tempo parece parar, no pior sentido.

Já o episódio de Lost (de que nunca fui muito fã) exibido pela Globo, mesmo dublado, foi absurdamente bem realizado, horripilante no melhor sentido. O elenco feminino é de uma beleza (multiracial) incomparável, sempre com atuações de primeira.

PS: Ainda na TV Sesc, agora entrou um 'teleteatro' que tenta ser uma 'commedia dell'arte' metalingüística, com atores veteranos e desconhecidos; texto de quinta. Eita como se desperdiça energia!

TV

Nada mal o programa "Classe Turística - brasileiros no exterior", exibido pela TV Bandeirantes. Uma idéia boa, que estava dando sopa. Vi só um, o de Barcelona, e foi interessante porque os brasileiros entrevistados, mesmo sem querer, deixaram passar uma solidão e uma certa perplexidade bem típicas de quem é estrangeiro e não tem vida fácil de endinheirado. Diversidade de personagens, de abordagens, enfim, bom. E demorou, porque com o novo "milagre", daqui a pouco todo o povo tá de volta...