segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Estética e ridículo

O artista flerta com o ridículo o tempo todo. Mas é assim ou melhor nem tentar. Sabemos disso, por isso os idolatramos quando acertam, principalmente quando acertam muito. Porque refletir a condição humana é difícil e não permite meio termo: é a consagração ou ele, o ridículo. As produções de qualquer gênero artístico consideradas medíocres - inclusive as estritamente musicais - são menos medianas que patéticas, mas nos acostumamos a relevar, ou a aceitar os pastiches, afinal inevitáveis. De qualquer modo, para mim, o que fará a diferença não é exatamente o tipo de linguagem (a posteriori), mas a forma de expressão obtida no ato da criação, a saber: esta e não aquela nota, esta e não aquela palavra, tom, passo, diálogo, jogo de cena, verso ou orquestração etc. Considero que a amálgama forma/conteúdo está sendo gerada ao se tomar todas e cada uma destas decisões. Não se trata simplesmente de procurar uma voz, ela tem de surgir a partir desta construção, tijolo a tijolo, mesmo que tudo saia quase que de primeira, à la Mozart e Balzac, ou leve anos, e isso se aplica a todo o fazer artístico. A técnica é fundamental, mas não determinante. Para encerrar, registro que João Ubaldo Ribeiro não vacila em O Albatroz Azul, um pequeno grande livro.

Blockbusters, internet e Bergman

Nos últimos cinco, seis anos os filmes blockbusters passaram por mudanças importantes que lhes conferiram um upgrade de qualidade. O resultado mais óbvio foi que se tornaram melhores, ou menos ruins de ver. O roteiro ficou menos previsível e careta, os finais menos felizes (às vezes até exageradamente tristes), a direção mais arrojada, os protagonistas e coadjuvantes escolhidos mais badalados etc. Meu palpite é que isto é decorrência direta da internet - o público médio, agora menos ingênuo e inocente, ficou mais exigente. Mas vale a máxima surrada de Giuseppe Tomasi Lampedusa de que 'algo tem de mudar para que tudo permaneça igual', porque o esgotamento de certas regras antes consideradas imutáveis - exatamente nas estrutura do roteiro maniqueísta, previsível, direção acadêmica etc, etc provocou mudanças apenas para que a máquina pudesse continuar funcionando. Bom, isso para dizer que assisti hoje Sherlock Holmes, de Guy Ritchie, e a sensação foi exatamente essa - na linha Batman, O Homem de Ferro e vários outros, o filme ameaça empolgar, mas para mim continua sendo mais do mesmo. Por motivos opostos, me provoca tanta angústia quanto um filme de Bergman. Mas, ao contrário dos filmes do sueco, esse sentimento de vazio não chega aos poucos, no decorrer do filme, e vai ficando. Ele me toma assim que o filme acaba, mas passa logo. Meno male. Quero ver correndo Duas Senhoras e Avatar - pelo que me falam, este último transcende o seu gigantismo.