quinta-feira, 22 de julho de 2010

Semideuses

Uma coisa que sempre me intriga é a capacidade de certas pessoas de lidar bem com uma pressão coletiva gigante, mantendo sempre o que se espera delas, às vezes indo além. Exemplos: Einstein a partir de 1910, Beatles a partir de 1965, Caetano e Bowie na década de 70, esportistas como Pelé, Michael Phelps, Borg, Usain Bolt, alguns estilistas. Todos, ao menos durante um bom tempo, zombaram do fracasso. Aliás, Phelps e Bolt ainda zombam!

Boa Ação

O Corinthians resolveu perder sua invencibilidade no Brasileirão contra um time que está na zona de rebaixamento e quase não tem torcida (Atlético Goianiense). Melhor assim. Rumo ao penta!

Humanos 2

As pessoas têm inveja daquilo que gostariam de ter ou possuir ou usufruir, e que imaginam que nunca conseguirão. Poucas vezes se trata de dinheiro, porque a riqueza, no limite da fantasia, pode ser trazida pela sorte de um bilhete premiado, um casamento, herança etc. A inveja se manifesta mais pelo que o feio sente em relação ao bonito, o mediano ou só bonzinho diante do talentoso, iluminado etc. Nunca tive inveja porque no fundo sempre me senti capaz de muita coisa. Agora não sei.

Humanos

Pessoas idosas costumam despertar uma espécie de pena, comiseração entre os mais novos, já que teoricamente elas não dispõem de muito tempo, o bem supremo. É interessante notar que um aspecto concreto e importante dessa realidade costuma ficar encoberto: partindo do princípio óbvio de que todos vão morrer, e nem todo mundo vai viver muito, aquele senhor ou senhora idosa por quem sentimos piedade, ao menos já garantiu um tempo de existência que muitos não terão. Pode ter, inclusive, usufruído a vida como muito poucos jovens sequer poderiam sonhar – independentemente disso, pode até estar se divertindo no presente. Mas esta omissão faz sentido pela ótica humana – o que conta é o tempo por vir: dificilmente um Pablo Picasso aos 80 (ou antes), deixaria, se pudesse, de trocar sua vida pela de um João ninguém de 25. A lógica da vida não é matemática - no fundo aquela piedade que o jovem (ou menos velho) sente pelo velho é antes piedade antecipada de si mesmo.

Questão de ordem

Se algum jornal ou canal de TV importante abraçasse a causa de uma ONG patrocinada hipoteticamente por Fernandinho Beira Mar, haveria muita chiadeira, e com razão – afinal, em nenhuma hipótese a imprensa livre pode compactuar com o crime organizado. Pois se um partido político apoiou por anos e ainda apóia, declaradamente e sem rodeios, uma organização criminosa que, a pretexto de fazer justiça social, promove, entre outras brutalidades, o seqüestro e o assassinato de civis, mantendo-os em campos de concentração construídos na selva colombiana, além de ser umbilicalmente ligada ao narcotráfico, qual o problema de associar, ainda que indiretamente, seus integrantes a esta organização? É o que penso sobre essa gritaria toda do PT contra qualquer menção à proximidade do partido com as Farc. O mesmo em relação ao primeiro programa de governo de Dilma Rousseff, apresentado como oficial e depois apenas parcialmente cancelado, que continha tentações totalitárias de controle dos meios de comunicação, atentando contra a democracia e o sagrado direito de expressão - conquistas institucionais que a sociedade brasileira aquiriu às duras penas desde o fim da ditadura militar, e de que não pode abrir mão. E o pior é que a imprensa livre assiste a tudo como se não tivesse nada com isso - ou pior, já que uma boa parte dela parece encampar as queixas petistas de que "os udenistas" de sempre estariam fazendo tempestade em copo d’água. Lamentável, deprimente e perigoso.