terça-feira, 30 de março de 2010

Gênios tb?

Que figura incrível foi o holandês Hans van Meegeren (1889 — 1947), o maior falsificador de Vermmer - personagem que daria um filme e tanto, se é que já não foi feito. Li com prazer a biografia do pintor, "Eu Fui Vermeer", do irlandês Frank Wynne. De vilão (chegou a ser preso por suspeita de colaborar com os alemães durante ocupação que seu país sofreu na Segunda Guerra), foi alçado a herói por ter conseguido provar que na verdade enganara autoridades alemãs, vendendo-lhes falsificações perfeitas, mas morreu do coração logo depois, sem ter tido tempo de aproveitar a notoriedade - mas já tinha acumulado fortuna. O maior feito de Meegeren foi ter forjado, nos anos 1930, um famoso quadro que se perdeu ou pode nem ter sido pintado por Vermmer, mas que foi dado por autêntico e festejado pela crítica especializada, ou seja, seria como se um músico do século 20 se aventurasse a compor uma cantata perdida de Bach, por exemplo, baseado apenas em textos sobre ela (sem partitura, claro), e essa falsa cantata fosse considerada autêntica e digna de ter sido criada pelo gênio alemão. Ou inventasse um fictício sétimo concerto de Brandenburgo, à altura da obra-prima original. Isso denotaria também genialidade do falsário, ainda que, evidente, lhe faltasse o carimbo da originalidade, por ter trabalhado a posteriori. Mas o assunto do fake é sem dúvida fascinante e também foi abordado com brilho por Orson Welles em “Verdades e Mentiras”, filmaço de 1974, sobre o qual quero falar em outro post.

Ficar

Logo que terminei de ler “A Arte de Viajar”, de Alain de Botton, há uns seis ou sete anos, fiquei contente e aliviado, porque, com exceção da alta juventude, quando qualquer pretexto era válido para viajar ("para qualquer lugar! qualquer lugar! desde que eu saia deste mundo!", Baudelaire citado por Button), para mim elas quase sempre precisam de um significado, de um pequeno motivo que seja - por mais subjetivo - para se justificarem. E, de certa forma, é o que fala Botton, com erudição e poesia – seu livrinho é uma pequena jóia. Mas, dito isso, hoje me deti num avião que já manobrava no céu, provavelmente para a rota da ponte aérea SP-Rio, que me fez ter uma enorme vontade de pegar um táxi para o aeroporto e pegar uma carona para qualquer lugar a não menos que umas 18, 20 horas de vôo. Passar uns 10 dias nesse destino incerto e voltar de navio, para ler com tranqüilidade os livros que já se acumularam. Mas como nos ensina Botton, essa atitude tenderia a cair no vazio, portanto, fiquemos por aqui e não percamos mais tempo.