sexta-feira, 30 de abril de 2010

Campainhada

"As duas ou três vezes que me abriram/ A porta do salão onde está gente,/ Eu entrei, triste de mim, contente --- E à entrada sempre me sorriram..." Mário de Sá-Carneiro

O amor...

Herbert Vianna canta: “cuide bem do seu amor, seja quem for”, letra e música de sua autoria. Apesar das boas intenções de tentar louvar o amor, definitivamente não é das canções mais felizes que a MPB já conseguiu produzir. Pensando no refrão, pode-se dizer que Eva Braun até que tentou, mas falhou na empreitada hehe! Já Nadia Alliluyeva então... Má ou boa poesia também é questão de lógica.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sopranos

Tenho visto Família Soprano em DVD. Nunca tinha dado muita bola para séries americanas, mas venho corrigindo isso recentemente - The Shield, e agora os Sopranos me fizeram mudar completamente de idéia. Apesar da violência e sordidez - impactantes no limite do (in)suportável - o retrato da máfia de New Jersey é tão fluente (ainda que intencionalmente meio caricato), que fica praticamente impossível parar. São as novelas de lá, só que semanais, mas para quem cresceu vendo novelas brasileiras, com capítulos diários, soa estranho, porque já me aconteceu de quase virar a noite até que uma temporada inteira dos Sopranos terminasse, e ainda sim já queria mais, o sono é que me fazia parar. Provavelmente o americano médio acompanha várias séries ao longo da semana, por isso não sente tanta falta do capítulo seguinte de uma em particular. O fato é que os capítulos são elaborados e produzidos como no cinema, e ficaria inviável que fossem diários, de tão caros. Além disso, haja roteiristas, seria impossível. Diferente de 24 horas, Soprano tem um ritmo que até pode se classificar de lento, mas só na aparência, já que sua atmosfera pesada envolve o espectador aos poucos, num crescente sem trégua. Fotografia de primeira, interpretações soberbas, alguns diálogos idem, a abertura nota mil, e o mérito de mostrar a máfia italiana na grande Nova York na atualidade, em especial o dia a dia de uma das italian families. Como se a história de Godfather tivesse tido a oportunidade de se estender em meses, anos. Bom demais.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

PS

Sobre o post abaixo, vale uma observação. Naquela época, os candidatos a vice concorriam diretamente aos cargos, ou seja, disputavam e recebiam seus próprios votos. Na prática, era uma outra eleição, ainda que simultânea à da presidência da República. Isso significava, claro, que não necessariamente o presidente eleito conseguia emplacar o vice de sua chapa. Que coisa mais ridícula, parece uma espécie de elogio da conspiração! - terá sido mais uma jabuticaba brasileira? De qualquer forma, como se sabe, foi o que aconteceu em 1960, já que Jango, mesmo sendo de outra chapa, se "elegeu" vice de Jânio. O resto é história.

Pergunta

Sempre que chega perto da eleições para presidente da República, me ocorre o que poderia ter acontecido se houvesse reeleição na época de Juscelino Kubitschek - este ano mais ainda, pelas comemorações dos 50 anos de Brasília. Me pergunto sobre o golpe militar de 1964. A dúvida cabe, porque, muito possivelmente, se pudesse concorrer, Juscelino teria vencido a eleição para a Presidência em 1960, e não Jânio Quadros, acho que isso ninguém questiona - e com o mineiro na disputa, talvez Jânio nem tivesse concorrido. Assim sendo, nossa história política teria sido completamente outra, ou isso não teria feito muita diferença, a não ser adiar a data do golpe? Bom, como sempre faço aqui, não vou ficar em cima do muro. Acho que teria mudado tudo, e para melhor - nossa precária democracia da época teria resistido.

Mozart

Incrível como o primeiro concerto para piano de Mozart (em fá maior, K 37), composto quando ele tinha só 12 anos, já é música de primeira classe. Ouvi há pouco no celular (Cultura FM). Conheço alguns outros concertos para piano da fase ultrajovem dele, e não tinha ficado tão entusiasmado, mas esta obra me tocou. De qualquer forma, a partir do número 17 (em Sol maior, K 453) ele alcançaria o sublime como pouquíssimos artistas de qualquer tempo conseguiram fazer. Mozart.

1º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=RWnnn3BlC20

2º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=r71CE16ONzg&feature=related

3º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=a2XspamNYaw&feature=related

domingo, 18 de abril de 2010

Only Mozart

Descobri há pouco no iTunes uma rádio francesa que só toca Mozart (Radio Mozart), que ótima idéia! Sempre sonhei com isso. Não que se vá escutar um mesmo autor - mesmo que grande - o dia todo, mas é bom saber que se quero ouvir Mozart, basta acessar o iTunes e pronto, sua música estará lá, a poucos cliques. Não há locução (o que é bom e ruim), e as peças vão surgindo picotadas - não são necessariamente tocadas na íntegra, se é que isso acontece. Mas tudo bem, continua valendo.

Vale o jogo

Não gosto muito do receio antecipado que se disseminou na imprensa esportiva, de que se o Santos não for campeão (paulista), o futebol-arte sairá perdendo, e que isso soará como mais um grande injustiça do futebol etc. Daqui a pouco o Santos enfrenta o São Paulo em casa, e pode até perder por um gol - torço por mais uma exibição de gala dos meninos da Vila - mas se por acaso a vaga ficar no Morumbi e os gols tiverem sido lícitos e sem interfência da arbitragem, tudo bem, terá sido justo. Na verdade, o Santos “dá espetáculo”, como já virou clichê falar, porque tem jogadores excepcionais, como Neymar, Robinho e Ganso – além dos ótimos André e Marquinhos, mas sua defesa é apenas razoável e tem um goleiro que considero fraco. Quando Muricy conquistou o tricampeonato brasileiro pelo São Paulo (2006/07/08), o que se falava era que seu time ganhava, mas jogava feio. Não concordo, mas mesmo que fosse uma verdade indiscutível, como jogar bonito sem craques? O que ele fez no SP é incrível e deve ser exaltado. No auge de Pelé e Cia, o Palmeiras conseguiu a proeza de conquistar três campeonatos paulistas (1959, 63 e 66) e uma Taça Brasil (1959), provavelmente sem "dar espetáculo", mas foi merecedor em cada um das conquistas. PS: o Brasil perdeu para a Itália em 82 porque Cerezo e Leandro cometeram falhas individuais bisonhas, que não foram desperdiçadas pelos italianos, por isso, mesmo com excepcional atuação de Zico (e muito boa de Sócrates e Falcão), o Brasil sucumbiu, porque o futebol é um esporte essencialmente coletivo – para Zico foi uma grande injustiça, mas para Paolo Rossi foi mais que justo. PS2: o jogo de hoje deveria ser no Pacaembu e não na Vila. Seria um espetáculo, mas o Santos preferiu pensar pequeno, uma pena.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Fumaça e C02

Sobre a erupção do tal vulcão na Islândia e o estrago que está provocando nos aeroportos europeus, fica a constatação da imensa fragilidade da vida humana na Terra, e isso tem pouco a ver com o discurso ecológico corrente, que se baseia na crença de que o homem está destruindo a si mesmo, quando não o próprio planeta. A verdade é que nossas ações - boas ou más - ainda não são determinantes. No fundo, todas aquelas previsões apocalípticas e cafonas do fim do mundo, por mais absurdas, tocam na questão – houvesse mais erupções, ou se elas fossem mais extensas e duradoras, e no mínimo haveria de cara um caos econômico generalizado, mas se o clima sofresse uma alteração mais radical por causa da fumaça, impedindo parte que fosse da chegada dos raios solares à superfície, já era - não possuímos tecnologia para reverter o processo, e tampouco para sobreviver no seu decorrer a médio e longo prazo. Isso já aconteceu algumas vezes na história do planeta, bem antes do surgimento de nossa espécie, e em circunstâncias bem mais radicais - mas para extinguir a civilização que a humanidade construiu, não é preciso que o grau da mudança seja tão grande, basta um sopro. Mas o fim não virá por causa da nossa emissão de carbono.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Young Beethoven

Gosto muito da primeira fase de Beethoven, especialmente a música de câmara do período (1792 a 1802). Nesta primeira fase, Beethoven tentava se aproximar e ao mesmo tempo superar a música de Mozart, que tinha acabado de morrer e era seu ídolo. Como o alemão já era um gênio mesmo antes de encontrar inteiramente sua própria voz, é como ouvir um Mozart - ao menos na música de câmara - que pudesse ter vivido por mais uns dez ou doze anos, algo maravilhoso. Não que soe como uma cópia, é que esta evocação se dá num nível altíssimo, e mais do que simples evocação, percebe-se um tipo de diálogo entre as duas obras - Beethoven já tinha conseguido o mais difícil, que era criar uma música à altura da de Mozart, por inacreditável que fosse. É fascinante, e nem sempre devidamente valorizado pela crítica especializada, que prefere - não sem razão - exaltar o muito que estava por vir.

Sonata para piano e violino nº 5, Op. 24, com os solistas Henryk Szeryng (violino) e Arthur Rubinstein (piano).

1º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=mAcWGVC4Nqc&feature=fvsr
2º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=cmuNr7yqapE&feature=related
3º e 4º Movs: http://www.youtube.com/watch?v=O5zh1OLgZDc&feature=related

Concerto para piano nº 3, em Dó menor, Op. 21, com Artur Rubinstein (só no primeiro movimento).

1º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=FetACZlj0_0&feature=related
2º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=wS43offEZQE
3º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=s8lDnXgRvkI&feature=related

Trio nº 3 em Dó Menor Op. 1
1º Mov: http://www.youtube.com/watch?v=wY-s2R4zqiQ&feature=related

Haja

O que não falta é gente de classe média alta gritando que existe vida inteligente e interessante na periferia, como se o normal fosse não ter, ou como se o esperado seria que ninguém que não fosse pobre pudesse conceber tal realidade, a não ser alguns iluminados - os que gritam, claro. Não raro, costumam apontar dedos acusatórios contra as injustiças sociais. Aliás, esse raciocínio não se limita à periferia propriamente dita. No filme Edifício Master, por exemplo, um Eduardo Coutinho com cara de supreso nos mostra a riqueza e complexidade da vida de algumas pessoas de classe média baixa de Copacabana, como se essa complexidade tivesse de soar uma revelação para o espectador das classes médias mais altas. Para mim, trata-se de preconceito puro e simples - e bem mais com os pobres do que com "ricos". Agora, por exemplo, leio que duas publicitárias, que estão lançando um documentário sobre a periferia de SP, teriam se encantado com a 'rede de solidariedade' constatada nos bairros, baseada na ajuda mútua que acontece não só entre pessoas da mesma família, mas também entre vizinhos, realidade muito diferente da dos bairros dos 'incluídos', em que estes geralmente mal se cumprimentam etc. e tal. Sim, é uma atitude que inspira admiração, mas que na prática só existe porque as dificuldades extras do dia a dia assim o exigem, como nas guerras. No fundo, nenhuma novidade nisso - a humanidade gera o bem e o mal de modo heterogêneo, e às vezes simultâneo, no tempo e no espaço. O ideal é que a precariedade material dos que vivem na periferia diminua até deixar de existir, e estas pessoas possam ser amigas de vizinhos não por necessidade, mas por vontade, afinidade, enfim, por opção individual. Mas para que isso aconteça é preciso fazer mais do que eleger governos populistas, que só usam a questão social em causa própria e não ajudam a promover o desenvolvimento. O que me irrita nisso tudo é a impressão de que os que se mostram tão encantados com a luta diária da população pobre parecem preferir, mesmo que inconscientemente, que pouco ou nada mude para eles, e assim se preserva ad eternum esta admiração - são os reaças do 'bem'. É a mesma linha dos que - como Ariano Suassuna - desejam que a literatura de cordel dure para sempre. Bom, se a vida daqueles artistas melhorar, talvez esta forma de arte acabe, talvez não, mas seria egoísta e absurdo preferir que eles não tenham outras opções de vida, que por sua vez podem proporcionar diferentes opções estéticas. Parece óbvio e é.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Telê

Ainda na década de setenta, o pai de um amigo meu, que não gostava muito de futebol, costumava responder, diante de nossa insistência de criança de perguntar qual era afinal o seu time do coração, que ele torcia para o time que estivesse sendo dirigido por Aymoré Moreira, nome que não significava quase nada para nós, ainda que tivesse sido o técnico campeão do mundo pelo Brasil, em 1962. Ainda estava em atividade naquela época, mas já em processo de aposentadoria (pesquisando agora, vejo que ele estava dirigindo a boa Ferroviária de 1977!). Nunca me esqueci disso, até porque aquela admiração me fascinava e intrigava. No fundo, por um bom tempo eu fiz o mesmo em relação ao grande Telê Santana.

Sebald e Bolaño mais tarde

Em outro post, com mais tempo, vou tentar mostrar por que a obra de W. G. Sebald foi uma revolução na literatura do século 20 para o 21, e sua morte prematura tão lamentável. E, incrivelmente, o mesmo se pode dizer de Roberto Bolaño, mesmo sendo estilos tão diversos, quase antagônicos.

Na geral

Sobre essas comemorações dos gols dos craques do Santos - Robinho, Neymar e Cia - leio que a maioria dos ex-jogadores e jornalistas aprova etc., mas acho que isso se deve mais à postura do politicamente correto. Ninguém quer ser o chato ‘repressor’, o careta. O fato é que essas dancinhas revelam o lado mais individualista do jogador de hoje – ele comemora muito menos com o time e a torcida do que para si mesmo, ligadíssimo nas câmeras da TV, além de mostrar preocupação excessiva com o adversário, já que é inegável algum grau de provocação e deboche. Claro que não se discute o direito de se comemorar assim ou assado, mas quem é do tempo em que Zico, depois de marcar algum gol importante ou especialmente belo (ou ambos, como era freqüente), disparava em direção à geral (hoje extinta) do Maracanã, e chegava perto de tocar com os braços a galera ensandecida do Fla, fica com saudade da emoção genuína que fazia parte da essência do futebol daquele tempo, não tão movida a marketing. Grande Zico, nosso maior jogador depois de Pelé, em minha modestíssima opinião.

La Movida

Quando comentei que o superclássico Real X Barça do último sábado seria disputado às 22h00, e que ninguém via nada de errado com isso - 'ninguém', neste caso, seria, além dos espanhóis, a parte da imprensa e da Câmara Municipal de São Paulo em campanha para antecipar os jogos transmitidos às quartas-feiras pela TV Globo, que começam pouco antes das 22h00 - recebi alguns e-mails de pessoas que argumentavam que a comparação não procedia, porque o clássico acontecia num sábado, e além de tudo, porque o sistema de transporte de lá seria ‘mil vezes melhor que o nosso' etc. Eu tinha feito questão de registrar que, mesmo num sábado, a escolha do horário dizia muito sobre o ritmo frenético da cidade de Madri, e que essa estilo de vida também existe no Brasil, ao menos em São Paulo. Arrisquei escrever que, se dependesse dos espanhóis, os jogos da Champions League seriam realizados com frequência às dez da noite, e não no quase imutável horário das 20h45. Bom, hoje me sinto satisfeito de ler que o semiclássico Barcelona X Deportivo La Corunha vai começar às 22h00, mesmo sendo plena quarta-feira. E amanhã, tb às dez, Valência contra Atlético de Bilbao. Não por acaso, ambos em grandes cidades da Espanha. Bingo. PS: quem realmente conhece Madri e Barcelona (não vale só a turística dos parques, museus e ramblas do centro) sabe que quem mora longe e não tem carro fica a ver navios quase tanto quanto aqui (São Paulo). Não se questiona o maior poder aquisitivo dos mais humildes de lá em relação aos daqui, é que isso não é relevante para esta discussão, e só ajuda a torná-la um pouco mais populista, como é praxe no Brasil.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Semelhança

Ou estou ficando louco, ou o final do concerto para violoncelo número 2, em Ré maior, de Haydn, que ouvi há pouco, possui parte da melodia mais famosa da Marselhesa. E foi composto em 1783, nove anos antes, portanto, do hino francês, que é de 1792. Mas pesquisando a respeito, não achei nada que fizesse referência a isso - homenagem ou plágio. Vou tentar ouvir de novo.

sábado, 10 de abril de 2010

Sessão coruja ok

O superclássico Real Madrid X Barcelona de hoje, pelo Campeonato Espanhol (sensacional duelo de Cristiano Ronaldo com Messi), será iniciado às 22h00, horário local (e de verão). E mesmo considerando que seja num sábado, tem tudo a ver com o ritmo madrilenho e de boa parte do país - alucinante e notívago. Na Champions League, os espanhóis possivelmente seguem o horário das 20h45 porque são obrigados - acredito que, se pudessem, jogariam em casa tb às 22h00 pela Champions, no meio de semana. Em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, seria inviável que partidas importantes noturnas fossem disputadas muito cedo (antes das 21h00), em função dos congestionamentos e do expediente de trabalho - e antes que alguém diga que o Brasil não se restringe às suas metrópoles, lembremos que os principais clubes foram fundados nessas metrópoles, e naturalmente, o grosso de sua torcida vive nelas. Não vejo motivo para tanta reação ao horário das 21h50, imposto pela TV Globo apenas às quartas-feiras - concordo que seria melhor um pouco antes, entre às 21h15 e 21h30, por exemplo, mas é preciso admitir que isso não faria lá muita diferença. Até o final dos anos 1980, o Jornal Nacional durava exatamente meia hora (das 20h às 20h30), e as novelas eram bem mais curtas. Ironicamente, naquela época a TV não dava muita bola para o futebol - não havia transmissões constantes no meio de semana, longe disso. Mas aos poucos, ambos os programas foram estendidos, e ao mesmo tempo o futebol, definitivamente "descoberto" e incorporado na grade de programação da emissora. Para manter a transmissão dos jogos em sinal aberto, e enquanto os direitos de exibição pertencerem à Globo, é inócuo e demagógico exigir uma mudança radical. PS: acho que vai dar Real Madrid.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Dois filmes

Não é que "Insolação" (Felipe Hirsch e Daniela Thomas) seja um filme pretencioso. O problema dele é ser ridículo. Já "Aproximação" (Amos Gitai) é um tanto esquemático, mas bem realizado. Ambos têm três estrelinhas na seção de filmes da Folha de S. Paulo, sei lá por quê.

Armando Nogueira

Armando Nogueira foi um grande personagem da imprensa brasileira. Fez carreira por mérito e talento próprios. Em seus textos, apesar de romântico inveterado, cultivava a lucidez, por isso duvido que ele aprovasse boa parte dos textos recentes que saíram na imprensa esportiva, a pretexto de homenageá-lo, por seu passamento. O tom sobre a sua obra foi exagerado, de louvação - foi mais de uma vez comparado a Nelson Rodrigues, nada a ver. Nelson foi um gênio que podia ser tudo, menos piegas, e a pieguice de fato dava as caras, aqui e ali, nas colunas de Nogueira sobre futebol, apesar dos belos achados e do seu texto elegante. E sim, ele teve o mérito de ajudar a criar o formato do Jornal Nacional, mas enquanto o comandou, por 20 anos (até início de 1990), o jornalismo da Globo, ainda que disparado o mais bem feito em relação à concorrência (como é até hoje), era sisudo, conservador e exageradamente voltado para o Rio de Janeiro (hoje é São Paulo). Tudo bem que isso refletia uma época do país, mais careta, mas Armando Nogueira era o primeiro a sair em defesa desta postura retrógrada, que descartava, por exemplo, uma apresentadora mulher para o JN, porque "o brasileiro ainda não estaria preparado", isso eu li numa entrevista dele para a revista Playboy, já no final dos anos 1980 - acho que em 88 - entre outras pérolas. Uma delas, a de que o noticiário mais importante do Brasil não poderia ultrapassar os 30 minutos, de jeito nenhum, tb por 'culpa' de um suposto conservadorismo do telespectador, que se 'cansaria'. Há também o episódio da não cobertura do início do movimento Diretas Já, que foi uma atitude bizarra da TV Globo, e sob sua batuta - não vale jogar a responsabilidade nas costas de Roberto Marinho, já que Nogueira, como manda-chuva do jornalismo da emissora, poderia ter pedido demissão, não era obrigado a fingir que nada acontecia. De qualquer forma, foi um jornalista importante, e justamente por isso dispensa essa camaradagem subserviente, que se aproveita do momento para bajular e se promover. Os que de fato privaram de sua convivência não precisam sair por aí gritando, e de fato não estão fazendo isso.

sábado, 3 de abril de 2010

PS Caetano e Gal

It´s a long way, You don´t Know Me, Como Dois e Dois, Você Não Entende Nada, Maria Bethânia, De Noite na Cama, Nine Out of Ten e London, London são reconhecidas - mesmo para os muitos e crescentes não fãs de Caetano Veloso - como belas composições do artista em seu exílio londrino, assim como a sua interpretação do clássico Asa Branca, no mesmo período. Cinema Olympia – composta pouco antes do exílio, e logo gravada por Elis Regina, e Aracaju, na voz de Caetano (dele e Vinícius Cantuária, 1979) idem. Tudo acessível no You Tube, com exceção da linda Tapete Mágico, já de 1981, cantada por Gal Costa, que só localizei na Rádio UOL (sem maiores exigências, bom saber). Já as versões originais de Caetano em A Grande Borboleta, Two Naira Fifty Kobo, Alguém Cantando - todas de 1977 - são raras na rede e dependem da pesquisa e do dia, ou seja, de sorte, mas valem a tentativa. Por fim, Gal cantando Já Era Tempo (1979), inusitada parceria de Ary Barroso com Vinicius de Moraes, de 1962 (a dupla compôs mais alguma canção?), é lindo. E ela não faz menos bonito em Ressussita-me, que já cheguei a achar brega, hoje não mais - sua voz de cristal comove.

Filme

Com toda a certeza, “Com a Bola Toda” (Dodgeball: A True Underdog Story), com Ben Stiller e Vince Vaughn, não concorreu em 2005 a nenhuma Palma de Ouro em Cannes, mas foi um dos filmes mais engraçados que vi na TV nos últimos tempos (e dublado). O fato de ter um jogo como a queimada (!)como elemento-chave já valeria uma chance, mas o filme tem cenas engraçadíssimas, que o justificam inteiramente. Boa escolha da Fox Brasil para um Sábado de Aleluia.