segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Foco

Ainda há muito preconceito da crítica brasileira com a TV, principalmente em relação aos atores desse meio. Alguém duvida que Juliana Paes poderia brilhar no cinema, se fosse dirigida, digamos, pelo chinês Wong Kar-wai? Eu não. Juliana, possivelmente, teria feito melhor que a insossa Norah Jones, em Um Beijo Roubado (2007). Mesmo nas mãos de um Karim Amouz - um dos nossos cineastas mais "festejados" -, a julgar pelos seus filmes, difícil imaginar que ela atuasse sem os cacoetes típicos (e necessários) da dramaturgia das novelas.
O problema do cinema brasileiro não é falta de potenciais estrelas, mas de diretores que saibam de fato dirigir atores e extras, condição essencial para um filme aspirar a ser grande.

sábado, 25 de dezembro de 2010

De pretensão e água benta

Há uma passagem de Beira-Mar, do grande Pedro Nava, em que o memorialista cita uma frase do amigo Mário de Andrade sobre a possível influência dos poetas simbolistas no modernismo brasileiro. Ei-la: "Não imitamos Rimbaud. Nós desenvolvemos Rimbaud. Estudamos a lição de Rimbaud"*. Digo eu: quanta pretensão! Quem era Mário de Andrade para se comparar (e superar!) um dos maiores poetas de todos os tempos, em qualquer língua? Mas esse tipo de postura era algo bem típico do escritor paulistano, que superestimava o valor da sua obra, no que mostrou imenso talento, já que esta continua a ser superestimada no Brasil.

* a frase foi citada pelo jovem Carlos Drummond, no artigo "Poesia e religião", para A Revista. Claro que o futuro grande poeta se sentia devedor da obra de Mário, como de resto praticamente toda a Geração de 30. Mas, esteticamente, principalmente em poesia, Mário não era tudo isso. Aliás, não era nada disso...

Globalizou

O Natal está virando moda no oriente e em alguns países de religião islâmica. Não deixa de ser irônico, depois de tantos ataques à civilização ocidental ao longo desta década que está acabando - nesse sentido, Bin Laden quebrou a cara. Viva o Natal, feliz Natal!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Solstício 2

O verão começa oficialmente às 21h38 desta terça-feira, horário de Brasília. Agora, em São Paulo, são quase duas da tarde (13h00, se ignorarmos o horário de verão), a umidade está baixa (40%), e faz 32ºC. Bom sinal, que venha o calor!

PS: uma dúvida: a nova estação começa ao mesmo tempo (só mudando obviamente a hora local em cada fuso) em todo o hemisfério sul? Acho que sim.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Novelas

Parece que a reprise da novela Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, está bombando na TV paga, e boa parte da audiência seria formada por jovens. Eu a acompanhei na época, era quase inevitável para quem vivia no Brasil. Esse sucesso é interessante, por dar uma pequena mostra, para quem tem menos de 30 e poucos anos, do quanto era profunda essa inevitabilidade.

Primeiro porque as novelas podiam ser muito boas, como foi o caso de Vale Tudo; segundo porque, sem internet, redes sociais, celular, games e TV por assinatura, a Globo só competia com os demais canais abertos, e digamos que eles não conseguiam ser muito "competitivos" - Tupi (depois SBT), Bandeirantes, Cultura, Record ("a pior" era o seu apelido!*), Gazeta e Manchete (a partir de 1983) até exibiam bons programas, mas que eram esporádicos - semanais, mensais ou até anuais**. Ninguém podia com as novelas diárias da Globo - a das oito batia nos 80% de audiência - e, com o tempo, nenhum canal sequer tentava concorrer para valer, até que a TV Manchete começasse a produzir suas próprias novelas, que conseguiram incomodar a líder por algum tempo, mas não muito.

Mas quero recuar um pouco mais. Nos anos 70 e até o finalzinho dos 80 (com Tieta), as novelas da Globo e o Jornal Nacional detinham, juntos, provavelmente a maior audiência fidelizada do mundo*** - o canal já comandava uma indústria relevante no entretenimento e jornalismo, o que até destoava da jequice brasileira da época em outras áreas, como o cinema. Não é à toa que o Rio, sede da emissora, era a cidade mais cosmopolita do país - São Paulo nem sonhava desfrutar do atual papel de cidade hegemônica. Nesse universo, Boni, Daniel Filho e Armando Nogueira eram reis, e Roberto Marinho um tipo de deus da terceira idade.

Quando, em 1975, Roque Santeiro, de Dias Gomes, foi ridícula e inesperadamente censurada pelo regime militar, Janete Clair criou a toque de caixa Pecado Capital, uma obra-prima de argumento e execução - o grande Paulinho da Viola teve apenas um fim de semana para compor a música-tema, que se tornou imediatamente um clássico da MPB ("dinheiro na mão é vendaval..."). Espantoso.

O declínio seria uma questão de tempo, e ele começou já nos anos 90, muito suave (mesmo assim, em 1991, Gilberto Braga escreveu, em minha modesta opinião, uma das melhores novelas da história, O Dono do Mundo, mas sua audiência não foi das melhores, uma pena). Tardiamente, Senhora do Destino (de 2004), de Aguinaldo Silva, se mostrou cativante e obteve grande audiência (média de 55%,), mas soou como o canto do galo.

* Ainda é!

** Segunda (ou Terça) Sem Lei, da TV Bandeirantes, que o diga. Era bem legal.

*** A audiência da novela das oito, hoje, mal ultrapassa os 40%. Já a situação do JN é pior: nos final dos anos 80, detinha, em média, 62%, e atualmente, apenas a metade. Mesmo assim, a liderança da Globo no horário nobre continua folgada - a julgar pela programação da concorrência em sinal aberto, ainda bem.

Finotti

A matéria de capa da revista Serafina* sobre a cantora Amy Winehouse, escrita por Ivan Finotti, de tão boa, deveria ser incorporada aos cursos (quase sempre horrorosos) de jornalismo, país afora. É bastante informativa sem ser burocrática ou óbvia. Tem ritmo e um tom coloquial de primeira classe, como nos bons diálogos do cinema, que fluem e parecem fáceis de criar, mas são dificílimos. O jornalista mostra respeito pela personagem, sem se furtar de debochar do que merece ser deboxado nela. Não é jornalismo gonzo, porque o foco, a informação estão lá, bonitinhos, sem pretensões de literatices. Está acima do gonzo, porque a matéria tem estilo, mas tudo em prol do melhor jornalismo.

*Folha de S. Paulo de ontem.
Para assinantes: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr1912201010.htm

domingo, 19 de dezembro de 2010

Pois é

Em editorial e título na primeira página, a Folha de S. Paulo faz um elogio rasgado à Era Lula, que vai chegando ao fim neste final de 2010. Respectivamente: "Saldo favorável" e "Lula entrega país melhor, mas imposto é recorde"*. Nada a questionar**, mas o governo Fernando Henrique Cardoso fez bem mais em relação à situação econômica, social e política que herdou em 1994, e não me recordo de nenhum elogio perto do final do seu segundo mandato, em dezembro de 2002 - nem da Folha nem de nenhum outro veículo.

Só o fato de ter acabado de vez com a inflação, reerguido o salário mínimo, além das (infelizmente tímidas) privatizações e saneamento do sistema bancário, já seriam motivos mais que suficientes, mas só se lembrava do "apagão" - pecha que foi devidamente amplificada por Lula (e Duda Mendonça), que não pode nem nunca pôde reclamar da grande imprensa, ainda que sempre o faça, com as intenções autoritárias de sempre.

Deve ser porque, naquela época, pegava mal elogiar. Melhor assim, mas que isso seja fruto de um amadurecimento da crítica, e não de preferências ideológicas da hora.

* Criticar o aumento dos impostos - como são implacáveis esses jornalistas nos anos Lula, hehe!

** As instituições sofreram seguidos ataques e não passaram imunes - nesse sentido, o país piorou.

Harrison

Sei que é chover no molhado, mas que canção inacreditável é While My Guitar Gently Weeps (1968), ouço agora. O início cortante. A melodia sem floreios. A voz de George, que não sugere felicidade nem desespero, mas resignação. O solo de Eric Clapton, um dos pontos altos da guitarra em todos os tempos. Tecnicamente é uma das duas ou três melhores dos Beatles, senão for a melhor.

http://www.youtube.com/watch?v=F3RYvO2X0Oo

sábado, 18 de dezembro de 2010

Lá vêm eles!

Numa resenha* para o Guia da Folha, sobre a monumental biografia de Hitler, de Ian Kershaw, Francisco Alambert, que também é historiador e leciona na USP, comete uma dessas típicas gracinhas que a esquerda festiva adora promover. Depois de enaltecer justamente o trabalho do britânico (sempre eles), não sem antes, embasado em conceitos marxistas, criticar alguns pressupostos do autor, Lambert, no último parágrafo do texto, fuzila. "Numa época como a nossa, em que colunistas de direita povoam os jornais e a internet, é preciso entender como demagogos criam sua mistificação, com resultados terríveis. Esta biografia do maior deles é imperdível".

Para começar, onde estão os tais colunistas de direita nos jornais? Na Folha é que não - seu colega  da USP, Vladimir Safatle, recém-contratado justamente como colunista do jornal, é uma voz que, em suas próprias palavras, pretende mostrar “como o pensamento de esquerda é capaz de sintetizar problemas novos e encontrar respostas inesperadas para os antigos". E quanto aos demais colunistas da Folha, quem fala em nome da direita para esse "novos problemas e respostas inesperadas"? E quanto aos outros véículos? E na internet? Neste caso, talvez Alambert, pensando em Reinaldo Azevedo, esteja fazendo confusão: os blogs e sites de esquerda, muitos financiados com dinheiro público, também são bem mais numerosos do que os que estão mais à direita, mas a audiência destes, muito em função dos bravos e brilhantes Reinaldo e Augusto Nunes, é incomparavelmente maior - (como dizia o refrão anti-Rede Globo, o povo não é bobo).

Mas voltemos à idéia do parágrafo aqui citado. O historiador da USP, ao reclamar (infundadamente) dos blogs e colunistas de direita que povoariam (podia ter escrito infestariam, a idéia é essa) os jornais e a internet, e logo em seguida citar "o maior de todos os demagogos", Hitler**, é claro que ele tenta assim jogá-lo no colo da direita, associando-a com toda a barbaridade genocida comandada pelo facínora alemão, como fingindo desconhecer (é historiador!) que o nazi-fascismo está repleto de vasos comunicantes com o comunismo - são duas faces da mesmíssima moeda da utopia totalitária. Para que essa idéia torta se mantenha em pé, Alambert tem de ignorar o legado de Stálin, Mao, Pol Pot, Fidel e tantos outros líderes da esquerda, de maior ou menor escalão. Afinal, eles não conseguiram o status de "o maior de todos os demagogos", certo? Então merecem o nosso perdão! Não se trata de comparar quem  teria seria o líder mais nefasto para a humanidade - Hitler merece a fama de número 1 -, mas de identificar esse tipo de impostura, cheio de dissimulações, que é uma das marcas registradas da intelligentsia de esquerda, não só brasileira, e que continua muito atuante por aqui, já abarcando novas gerações de "professores da USP". 

Alambert é professor de história, mas faz proselitismo ideológico ao selecionar o que deve e o que não deve ser dito e escrito - o velho esquema de sempre. Então ficamos assim: todo e qualquer indíviduo que não se considerar um esquerdista - que sempre pensa no bem da humanidade - poderá estar no mesmo saco que ninguém menos que Adolf Hitler. Mas os milhões de crimes perpetrados por líderes da esquerda jamais serão associados aos militantes da nobre causa humanitária. ARGH.

Falei alguma novidade? Claro que não! O problema é que esta pérola recente soa não mais como sintoma, mas como fato consumado neste Brasil pós-Lula. "Eles" venceram!!

Para encerrar, um desejo (quase impossível) para próxima década: por uma universidade brasileira com menos Marx (mal lido e mal ensinado) e mais Tocqueville.

* História e fantasmagoria, do Guia da Folha especial sobre livros, discos e filmes.

** "Generoso", Lambert não cita Mussolini, mas depois de Hitler, nem precisava, não é?!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amigo Secreto

No mínimo devia ser proibido em lugares públicos.

Good Night

Minha homenagem aos 70 anos de Ringo e John, neste 2010 que já vai terminando. Composta por John para o filho Julian, que tinha cinco anos, aqui num dos takes registrados nas gravações do Álbum Branco (1968), e posteriormente lançado no projeto Beatles Anthology (livro, CDs e vídeo), em 95. Com Ringo no vocal e John ao piano.

http://www.youtube.com/watch?v=rM40IzExGG8

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A impossibilidade de um Meegeren da música

Já escrevi em outro post que considero o falsificador holandês Han van Meegeren um quase gênio,* porque as principais criações (sem aspas) dele não foram simplesmente reproduções de quadros famosos dos grandes mestres – ele também as fez, com perfeição – mas quadros que podem nunca ter existido, ou se existiram, não sobreviveram.
Meegeren criou um célebre quadro desaparecido (ou inexistente) de Vermeer, que se enquadra nesta categoria - só havia descrições vagas sobre a obra. Pois ele encarou o imenso desafio técnico/estético da empreitada e se lançou na feitura da tela, que, de tão belo e verossímil, passou a fazer parte da história da arte.

No mesmo post, lembro de ter enfatizado que, por outro lado, fazer o mesmo com os grandes gênios da música seria tarefa ainda mais difícil. Talvez pelo fato da música ser uma forma de arte menos palpável, talvez a mais impalpável de todas.

Aconteceu que na última segunda-feira tive a sorte de acompanhar pelo celular o programa ‘Encontro com o Maestro’ (infelizmente apenas a parte final), com João Maurício Galindo, que abordava justamente alguns casos famosos de boas e más falsificações de compositores importantes (e de alguns nem tanto). É o caso, por exemplo, do austríaco Fritz Kreisler (1875-1962), célebre virtuose do violino, que se lançou em falsificações (supostas “partituras perdidas”) que incluíam Vivaldi e Couperin, as quais foram muito bem recebidas e dadas como autênticas, até que ele mesmo “confessasse” a traquinagem ao The New York Times, em 1935, contando que as composições eram de sua lavra. Incrível.

O programa contou também o caso do músico francês (pena que não tive tempo de anotar) que alegou ter “descoberto” uma obra de Mozart – por incrível que pareça, ela foi aceita pelos especialistas e passou a figurar no catálogo Köchel, até o "descobridor" ser desmascarado pelo grande musicólogo Alfred Einstein, que pediu para dar uma espiadinha na partitura! Sensacional! Galindo tocou esta falsificação no programa, e apesar de muito verossímil, definitivamente não seria uma obra-prima do grande compositor austríaco.

Aí é que está. Como questionei naquele post, como criar uma cantata “perdida” de Bach (e sabemos que um terço delas de fato se perdeu), que pudesse estar à altura de uma cantata de Bach? Neste caso, seria uma façanha quase impossível, porque o falsificador-criador, diferente do caso da pintura, partiria praticamente do zero - o fato de conhecer de cor o estilo do gênio a ser imitado não cria muito valor. Talvez um Mozart ou um Beethoven conseguiriam, tivessem tido tempo para uma brincadeira interessante com essa. Será que Schoenberg, Prokofiev, Stravinsky ou Shostakovich dariam conta?

Enfim, se pudesse, passaria dias e dias escrevendo sobre o assunto, que se desdobra em muitos – cogito tentar entrevistar Galindo a respeito. Hoje fico por aqui.

* "Quase gênio" fica por conta da falta de originalidade, pois só o autor verdadeiro pode reivindicá-la.

É hoje!

Hoje o blog comemora um ano de existência. Até aqui, incluindo esse comemorativo, foram 407 posts, que não variam pouco de assunto e tamanho. Em média, este espaço recebe diariamente sete visitas diferentes, com picos que já chegaram a 70 ou 80 - confesso que isso só aconteceu quando enviei algum link de que gostei para blogueiros mais populares, e com quem tenho afinidade.
Anyway, se mantiver o ritmo, o blog chegará à marca de um milhão de visitas únicas em meros 300 e poucos anos, hehe!!

  

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ops

O slogan da Kiss FM é "depois de um rock vem sempre outro rock". Ok, mas o curioso é que, quando ele é anunciado, invariavelmente entra propaganda ou blá-blá-blá do locutor.

Oliver Stone

Como ele filma bem, de se tirar o chapéu. Mesmo não rezando de sua cartilha ideológica, meio a Michael Moore, admiro muito esse cineasta. E a crítica à guerra do Vietnã que ele faz em Nascido em 4 de Julho* (1989) é perfeita, irretocável. Atuação maravilhosa de Tom Cruise. Ontem de madrugada passou na TV, vi só a parte final, mas foi o suficiente para ter ficado muito impressionado, porque não tinha visto o filme. As cenas da manifestação dos ex-combatentes no comício de Nixon, em 1972, em que o presidente americano disputava reeleição, é soberba - várias ações acontecendo ao mesmo tempo, mas com uma edição de áudio original, em que não se consegue ouvir bem os diálogos no meio daquela confusão, criando uma tensão insuportável.

PS: A última vez que tinha notado uma condução de áudio tão interessante foi com Glauber, nas cenas finais de Terra em Transe (1967), em que o som é suprimido, causando um vazio, um estranhamento.

* Stone ganhou o Oscar de melhor diretor, e seu filme também recebeu a estatueta pela edição. Tom Cruise perdeu para Daniel Day-Lewis (Meu Pé Esquerdo), e o próprio 4 de Julho foi derrotado por Conduzindo Miss Dasy na disputa de melhor filme.

Foi a economia também

Muita gente se esquece que a beatlemania coincide com um período de boom econômico - principalmente nos Estados Unidos (golden years), mas também na Europa, que começava a colher os frutos do Plano Marshall. Não que o sucesso da banda se deva a essa contingência, mas esse círculo virtuoso de consumo, vitaminado por uma juventude pós-existencialista que reivindicava um lugar ao sol, foi, sim, determinante para o grau mega deste sucesso.

Interestaduais - anos 20

O auge dos torneios de seleções estaduais se deu nos anos 20 e início dos 30. Graças à rivalidade e à presença dos melhores jogadores do país, os confrontos São Paulo X Rio eram o must, e mobilizavam milhões de aficcionados do futebol. Gostaria de ver algum documentário a respeito, se possível com muita imagem da época, gols, torcedores, estádios etc. Sei que foram feitos bons registros em película, mas não saberia dizer em que estado se encontram hoje.

Os nerds e Freud

Acho que a nerdice não está relacionada necessariamente com muito talento e/ou genialidade, como tenho lido aqui e ali, a pretexto do filme A Rede, sobre o criador do Facebook - claro que alguns poucos chegaram ou chegarão a esse patamar, como em qualquer grupo ou recorte, mas penso que essa característica de personalidade tem mais a ver com insegurança, infância, criação, tipos de pai, de mãe etc. Sempre existiu. O que é relativamente recente é a possibilidade, dentro desse universo (que não é pequeno) de ser um nerd. Por isso é claro que nem todo inseguro vira nerd - pelo contrário, os nerds são apenas uma fração. Definitivamente, a incomunicabilidade não surge com o advento nerd, e tampouco as novas tecnologias são propícias a ela. Freud explicaria, se tivesse saco!

PS: difícil para mim considerar gênios Steve Jobs e Bill Gates (e muito menos Mark Zuckerberg), considerando que chamamos de gênios Caravaggio, Einstein, Bach, Mozart, Newton etc - questão de escala. Mas para quem acha que Lennon, Bowie, Cole Porter, Noel Rosa, Tom Jobim e tantos outros grandes talentos merecem o adjetivo, então Jobs e Gates também merecem.

Promessa de fim de ano e filme ruim

Pretendo deixar de acompanhar futebol*. Para mim deve ser tão difícil ou simples como parar de fumar de repente. Não posso dizer, nunca fumei. Mas é o que vou fazer. A verdade é que o futebol deixou de ser autêntico - tem a qualidade, rara no Brasil, de se basear na meritocracia - não há Dilma Roussef que transforme um cabeça-de-bagre num craque - mas só isso não basta. A televisão, o big business, sem querer, matou o futebol. Sempre defendi a economia de mercado, mas neste caso tenho de admitir que o capitalismo não fez lá um grande bem ao futebol - se por um lado, mais investimento fez multiplicar a remuneração da elite dos jogadores, algo muito positivo e justo, ao mesmo tempo foi minando seu aspecto lúdico, uma característica que sempre o diferenciou da maioria dos outros esportes coletivos. Esses supertimes europeus, com seus jogadores de 40 nacionalidades, seus estádios limpinhos e gramados perfeitos me dão sono, mesmo quando jogam entre si - de novo, não são autênticos. O futebol brasileiro, sem tanto dinheiro, também capitulou - essa coisa de "arenas", "sócio-torcedor" etc., que coisa mais chata. Acho que a gota d'água foi saber que a reforma do Maracanã vai implicar na redução do seu gramado portentoso. Ou talvez tenha sido esse entrega-entrega no Campeonato Brasileiro. Não sei. Por acaso passa na TV Melinda e Melinda (2004), de Woody Allen. Minha nossa, é péssimo e tão previsível, equivocado. Será possível que em nenhum momento passou pela cabeça do grande diretor abortar o filme, ou refazê-lo, em outros termos, como fez com Setembro (1987)?

* A história do futebol seguirá me interessando.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Mea culpa e ingenuidade de John

Consultei o maravilhoso livrão Antology (edição brasileira, excelente tradução), a história da banda contada por seus protagonistas - e, de fato, John afirma que foi sua mãe, Julia, que lhe ensinou a tocar banjo (e não violão, como aparece no filme), quando tinha 16 anos. Ele também diz que ela era cantora amadora e tinha boa voz - se apresentava em pubs da cidade.

Mas li uma outra declaração que me fez entender o quanto um mito também pode ser ingênuo, quase naif. John insiste em associar seu talento ao sofrimento por que passou na infância e adolescência, pela ausência dos pais. Para ele, era muito natural que tivesse se tornado um artista famoso - e seguindo esse raciocínio, quem ele considerava que lhe era superior, como Lewis Carroll, o era porque teria sofrido mais... Parece que não lhe passava pela cabeça que milhões e milhões de pessoas poderiam ter sofrido mais, muito mais do que ele, no mesmo período da vida, e nem por isso tivessem se tornado artistas, ainda mais grandes artistas. John foi um artista extremamente popular, que obteve igualmente imenso reconhecimento da crítica. Isso seria e é muito raro, com ou sem infância problemática.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Política no Brasil

É coisa para profissionais, que fazem parte dela, e idiotas, cidadãos que procuram participar do processo político e ao mesmo tempo tentam decifrá-lo, ou ao menos, entendê-lo. Exceção: meia dúzia (se tanto) de analistas de primeira classe, e alguns bons editoriais de Folha e Estadão. Da minha parte, só posso dizer que - obviamente sem ter me tornado um daqueles ilustres analistas - já não sou mais um idiota.

Julia e Mimi

Julia, mãe de John Lennon, no filme sobre a adolescência do beatle, tem um papel determinante na decisão do filho de se tornar músico - entusiasta do rock 'n' roll, ela o teria introduzido ao novo ritmo e até lhe ensinado os primeiros passos no violão. É algo que eu desconhecia completamente, e está me cheirando aquela licença poética (exagerada) para dar mais tempero a um personagem. Se for isso, lamentável, porque além de espalhar uma inverdade, terá sido uma atitude desnecessária, já que o personagem Julia é rico por si só, sem maquiagem. Evidente que se a informação foi baseada em pesquisa séria, retiro a crítica.
De qualquer forma, a idéia de fazer um filme sobre a juventude de Lennon, antes da fama, é ótima, e o filme não consegue não ser bonito. Só acho que, nos créditos finais, além da comovente revelação de que John telefonou para Mimi semanalmente, até a sua (dele) morte, o texto poderia ter acrescentado que, no auge da beatlemania (1965), o músico comprou uma casa nova para ela, em outra cidade (Dorset), porque aquela em que viveram tinha virado ponto turístico de Liverpool. Sensacional!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Lutador e Flynn

Passando na TV (TNT), dublado, intervalos intermináveis e ainda assim, ótimo - é um dos melhores filmes que vi nos últimos dois, três anos (ao lado de O Que Resta do TempoO Silêncio de Lorna). Como trilha orginal, apenas um tema absurdamente simples e eficiente, tocado na guitarra, em uma única corda.

- Ontem vi parte de um doc na TV Cultura sobre Errol Flynn (Diabo da Tasmânia - A Vida Rápida e Furiosa de Errol Flynn), excelente. O nome deve fazer referência à terra natal do ator, a Austrália, além, claro, da vida agitadíssima do astro em Hollywood. A quantidade e qualidade das imagens dos anos 30, 40 e 50, impressionantes. Já existiam ninfetas/tietes nos anos 40, e elas não eram nada inocentes - Errol sentiu na pele, para o bem (traçou todas que pôde) e para o mal (foi processado e quase condenado).

Não resistiu

Sempre gostei da Wikipédia - sabendo usar, é muito útil, genial. Palmas para Jimmy Wales, seu criador, mas de repente parece que baixou uma vontade louca do cara de aparecer, porque, de umas semanas para cá, a pretexto de pedir doações para o site, logo aparece, no topo da página de qualquer pesquisa, uma foto de Wales de razoável tamanho e colorida, com seu nome e sobrenome. Tudo bem, o serviço sempre foi gratuito, sem banners, e pode estar em dificuldades, mas precisava da foto? De todo modo, pela popularidade da página, Wales já deve ter virado a mais uma nova celebridade mundial.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Paulistas e cariocas (seleções) e Amoroso

Falta de programação boa na TV na madrugada pode dar nisso: vou escalar minha seleção paulista dos últimos 50, 60 anos, incluindo alguns reservas. PS antecipado: não estou me obrigando a ter visto todos os jogadores em ação. A eles: Gylmar (Leão), Djalma Santos (Zé Maria, Cafu), Luis Pereira, Roberto Dias (Dario Pereyra) e Wladimir (Noronha, Pedrinho, Odirlei); Dino Sani (Zito, Bauer), Ademir da Guia (Sócrates, Rivaldo, Pedro Rocha, Giovanni), Pelé (Ivair, Enéas, Jorge Mendonça, Leivinha) e Rivellino (Julinho,Muller, Dorval, Kaká); Careca (Amoroso, Pagão) e Coutinho (Toninho Guerreiro, Edu, Pepe, Serginho, Canhoteiro). PS 2: Não me animo a incluir Neto ou Marcelinho Carioca.

A verdade é que, a despeito dos grandes craques (Riva, da Guia, Sócrates, Rivaldo) e obviamente Pelé, me parece que o Rio foi um tanto mais abençoado - qualquer dia faço minha seleção carioca. Adianto que o ataque seria formado por Garrincha, Ronaldo Fenômeno (Qüarentinha) e Romário, com Didi, Gérson, Zico e etc - Vavá, Ademir e Jairzinho na reserva de luxo, Amoroso (Tio), Djalma Dias, Branco, Djalminha etc. Além de Nilton Santos, Carlos Alberto Torres, Leandro, Edinho, Dirceu, Mozer, Bellini, Aldair, Heleno de Freitas, Dida,Telê Santana, Edmundo, Jair Rosa Pinto, Zizinho, Dinamite. E pelo amor de Deus, Zagallo e Paulo Cesar Lima, NÃO!
PS: recuando um pouco mais no tempo, podemos incluir Domingos da Guia e Leônidas da Silva.

PS2: O Amoroso que começou no Guarani para mim foi um dos grandes atacantes brasileiros, e acho que faltou auto-promoção, lobby, sei lá, porque ele não é visto assim, e sequer participou de uma Copa do Mundo, ainda que tivesse sido artilheiro no Brasil, Alemanha e Itália, sempre jogando em equipes pouco mais que medianas - foi uma grande injustiça de Felipão não tê-lo convocado em 2002, estava em grande fase, e em 98 Zagallo poderia tê-lo chamado - seria muito melhor para formar dupla com Ronaldo do que o já velho e inoperante Bebeto, pois Romário se machucou e foi cortado. Suas contusões graves atrapalharam, mas nem de longe comprometeram sua carreira. Na Europa, se tivesse jogado num Real Madrid ou Juventus... O único técnico da seleção brasileira que o valorizou foi Vanderlei Luxemburgo, mas o atacante, que teve boas atuações, não deu muita sorte e logo se machucou.

Amoroso sempre foi muito rápido e oportunista, mas também era capaz de fazer gols de rara beleza. Me lembro de um contra o Santos, pelo Guarani, no Brasileiro de 94 (de que foi artilheiro, junto com Túlio, e revelação), no Brinco de Ouro, em que ele passou por cinco ou seis adversários antes de tocar para o gol vazio (depois, por coincidência, no ano seguinte, Giovanni devolveu, pelo Santos, no mesmo Brinco de Ouro, driblando meio time do Bugre, mas do outro lado do campo!). Sua média de gols sempre me pareceu bem acima da média, mas me recordo de que, procurando pelo site do jogador, já em 2003, não encontrei nada, que anti-marketing!

O grande Telê Santana, no final da vida, perguntado que jogador aproveitaria do São Paulo campeão da Libertadores e Mundial 2005, em relação ao time que, sob seu comando, conquistou os mesmos títulos em 1992/93, não hesitou em citar Amoroso (e apenas mais um nome, talvez Ceni, não me recordo agora).

sábado, 4 de dezembro de 2010

Coppola

Coppola esteve no Brasil para divulgar seu novo filme, Tetro, rodado na Argentina. Aliás, faz um bom tempo que rodou, porque me lembro de ele ter sido flagrado pela TV argentina no estádio do Boca Juniors, num jogo importante, válido pela Libertadores da América de uns cinco anos atrás, no mínimo - vai ver era só a primeira visita ao país, com as primeiras sondagens.
Tenho uma admiração enorme pelo cineasta, autor de uma obra admirável, com altos e baixos que não maculam nem um pouco sua grandeza. Só o fato de ter concorrido com ele mesmo, pelo Oscar de melhor diretor (Godfather e A Conversação* estavam entre os cinco indicados, Coppola venceu com Godfather) em 1975, dá a medida da sua grandeza. E tudo isso com 36 anos recém-completados!

* Em 1974 A Conversação já havia faturado a Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pacino

No remake de Perfume de Mulher (1992), a cena em que Al Pacino, o tenente-coronel cego, resolve fazer as vezes de advogado improvisado do rapaz que o guiou em Nova York, no colégio de elite em que este faz o colegial, com bolsa de estudo porque é pobre, é uma das grandes atuações de um ator em Hollywood - quase impossível não sentir vontade de chorar, e não me venham com Brando ou  Stanislavski, a não ser que se trate de Sindicato de Ladrões (1954).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Max Weber

É provavelmente um dos maiores pensadores que a humanidade produziu, um gênio de primeira grandeza. É incrível o que este homem realizou em apenas 56 anos de vida. Escreveu tratados fundamentais sobre economia, política, religião, história, direito, e claro, sociologia. Estudei a uma parte ínfima desta obra monumental na USP, com grandes experts no sociólogo alemão, como Gabriel Cohn e Antônio Flávio Pierucci, mas não me arriscaria de jeito nenhum a tentar dar algum pitado aqui – o pensamento de Weber parece até fácil de entender, pela clareza das idéias, mas é de uma originalidade, complexidade e profundidade que chegam a assustar. O post é só para enfatizar minha admiração por ele.

Fábio Jr. ator

Ouvi agora pouco uma antiga canção de Fábio Jr. (‘Eu Me Rendo’, 1981, na verdade composta por Sérgio Sá), que me fez pensar na sua trajetória. Ele compôs e gravou algumas músicas boas antes de pender para o brega explícito, mas sempre achei uma pena que o sucesso musical o tivesse levado a praticamente abandonar a carreira de ator. Porque Fábio Jr., na juventude, foi um grande ator, uma estrela de primeira grandeza - no final da década de 70 e início da de 80, brilhou em vários papéis, tanto na TV como no cinema.
Depois que foi ganhando fama também como músico, passou a interpretar apenas ele mesmo e ficou meio canastrão e desinteressado – talvez o fizesse inconscientemente, quem sabe para que a Globo parasse de insistir em tê-lo como estrela principal de suas novelas das oito. Freud explica.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

É Proibido Proibir

Sei que está longe de ser uma obra-prima de Caetano, mas adoro essa música, tanto na versão de estúdio (em que ele recita trecho de um poema de Pessoa*), como na apresentação no teatro da PUC de São Paulo, o Tuca, pelo III Festival Internacional da Canção da TV Globo, em 1968, onde ele improvisa um belíssimo discurso contra a platéia de estudantes que o vaiavam.

http://www.youtube.com/watch?v=EeBa5AGBCkc (estúdio)

http://www.youtube.com/watch?v=mCM2MvnMt3c (discurso Tuca)

* do livro "Mensagem".
PS: os vídeos em si são fracos, valem pelo registro musical de acesso fácil.

"Don't dream It's over" - Crowded House (1986)

Link para nós, corintianos...!
http://www.youtube.com/watch?v=dZZfuCJ970w

Victor García

Ontem a TV Sesc exibiu um pequeno e interessante documentário sobre a histórica montagem de 'O Balcão' (J. Genet), em São Paulo (1969), dirigida por Victor García, importante encenador argentino de vanguarda, que veio ao Brasil a convite de Ruth Escobar, um ano antes, para montar 'O Cemitério de Automóveis' (Fernando Arrabal), que também se tornou um marco no teatro brasileiro, influenciando Zé Celso e Antunes Filho. Incrível como uma peça tão libertária e intensa tenha conseguido permanecer em cartaz por quase dois anos, em plena fase de chumbo da ditadura militar, pós AI-5.
Por sorte, sobreviveram boas fotografias em P&B da montagem, (cujo final foi alterado por García): destaque para o incrível cenário, do arquiteto Wladimir Pereira Cardoso (então marido de Ruth) -uma estrutura metálica de quase 30 metros de altura, em formato de "ovo", vazado, com vários planos. No elenco os jovens Claudio e Sérgio Mamberti, Paulo César Pereio, Célia Helena, Raul Cortez, Jonas Mello, Ruth Escobar (que assumiu o papel que seria de Cacilda Becker, que adoecera e morrera pouco antes), Jofre Soares, Ney Latorraca, entre outros - o elenco era enorme.
Os depoimentos de Mamberti, Pereio e do crítico Jefferson Del Rios são bastante esclarecedores - o diretor pensava um teatro total, em que o texto estava longe de ocupar o papel central nas encenações. García morreu precocemente em 1982, na França, aos 48 anos incompletos.

Louco Por Você

É uma bela canção de Caetano, não muito conhecida, do disco Cinema Transcendental (1979). Acho que contribuiu muito para isso o fato de ela ser exageradamente longa - é cantada inteira umas cinco ou seis vezes, um exagero. Há um bonito solo de teclado no meio das repetições, e outro, de guitarra e baixo, meio dispensável. Enfim, a canção poderia perder uns três minutos (tem mais de sete), sem prejuízo nenhum, pelo contrário. O vocal de Caetano, principalmente nos graves, como foi uma tônica no disco, soa descuidado. Segue link youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=JYcFW2qs9L4