terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ufa

A primeira década do século ainda não acabou, mas já deu para perceber uma tendência que, espero, se realize. O fim do revival da década de 1980, principalmente em relação à música. Tudo bem, foi mesmo uma grande fase do pop, mas pelamor, já deu.

Tiro no pé

O fanatismo, a deturpação do conceito do politicamente correto é um equívoco por várias razões, mas tem uma em especial, que merece ser destacada: está deixando mais à vontade justamente as pessoas com uma postura preconceituosa, que agora se sentem mais seguras para falar suas barbaridades sobre minorias sem se preocupar com as conseqüências, o que nos faz recuar de imediato em uma ou duas décadas. E fazem isso porque sabem que o politicamente correto está na berlinda, por culpa dos radicais, que estão conseguindo esvaziar o seu discurso. É lamentável, porque estes patrulheiros da opinião alheia dão um tiro nos pés ao tirar o foco do que realmente importa: a verdadeira postura politicamente correta – que agora infelizmente virou palavrão – tem objetividade e foca no preconceito, explícito ou dissimulado, mas sem ter a pretensão de servir de juiz e censor da humanidade sobre todo e qualquer assunto ou opinião. É uma burrice que já está custando caro.

Clima - o não debate

Ontem no Roda Viva, uma entrevista com um climatologista brasileiro membro do IPCC, Carlos Nobre. Questionamento quase abaixo de zero. É por essas e outras que o programa, que já foi um marco na tevê brasileira, tornou-se irrelevante – lembro das lágrimas de José Genoino na época do mensalão e as expressões de comoção que elas provocaram nos entrevistadores, uma cena patética, que marcou época no pior sentido. Para Nobre, os que não concordam com o relatório do IPCC de 2007 devem estar a serviço de algum lobby muito poderoso, como o do setor de petróleo, por exemplo, o eterno vilão. E claro, nenhum entrevistador lembrou que grande nomes da ciência estão se manifestando contra o relatório - acusá-los de levianos corruptos é mais complicado, por isso melhor não perguntar... O programa já estava chegando à metade até que uma entrevistadora menos condescendente lembrasse – quase pedindo desculpas – que o clip da abertura estava equivocado (ela não usou esta palavra, claro), pois as imagens das chuvas recentes de São Paulo, ponte desabando no Rio Grande do Sul, inundações em São Luiz do Paraitinga, entre outras, teriam muito mais a ver, segundo ela, com os efeitos do El Niño do que com as conseqüências do aquecimento global. Nobre concordou, e acrescentou que as nevascas no hemisfério norte – que também faziam parte do clip - tampouco são fatos anormais durante o inverno... Até onde eu consegui ver (porque desliguei não muito depois), nenhuma pergunta para a questão crucial de a humanidade ser ou não diretamente responsável pelo aquecimento global recente, as distorções deliberadas que vieram à tona nos e-mails trocados por cientistas do IPCC, ou se o percentual estimado (não pelo IPCC) de nossa participação na quantidade total de dióxido de carbono na atmosfera estaria correto (seria de apenas 5%), nada, nada, só blábláblá sobre ‘mudar o comportamento’ dos governos para antecipar as tragédias etc, etc, como se isso fosse simples, sem falar que as próprias previsões estão longe de ser unanimidades. E o Roda Viva se transformou nisso, não há debate - seja porque todos concordam com tudo que fala o entrevistador (a maioria das entevistas), seja porque, no raro caso de um entrevistado não ser algum queridinho da emissora, os antigos cordeirinhos se transformam numa autêntica artilharia pesada, com o intuito deliberado de impedir que o convidado consiga concatenar as idéias e responder. Pena.