segunda-feira, 29 de março de 2010

Pacaembu

O grande barato do futebol é que uma partida pode ficar no zero a zero. Esse receio está sempre no ar, principalmente quando estamos no estádio – no fundo preferimos que nosso time leve um gol e torcer pela reação, a sair com um placar em branco, isso ninguém confessa, mas arrisco que possa ser um desejo secreto de quase todo torcedor, a não ser os fanáticos, porque os chatos sempre fazem parte de qualquer paisagem. Por isso vibramos tanto quando e se sai o gol – pelo nosso time e por nós mesmos, já que acreditamos que isso seria possível e acabou sendo, mas podia simplesmente não acontecer. É interessante que um esporte comporte o conceito do zero, do nulo tão deliberadamente, acredito que seja um diferencial do futebol, entre vários outros, como a regra do impedimento, de uma simplicidade complexa (ou vice-versa). Paulo Francis dizia freudianamente que o esporte (ou especificamente o futebol, não me lembro agora) consegue ser tão atraente e popular porque nos traz de volta a sensação de que o tempo não está passando, como quando éramos crianças. Faz todo o sentido, porque enquanto a partida está em andamento, é como se nada mais interessasse ou até mesmo existisse. Ontem estive no Pacaembu e presenciei a vitória do meu time por 4 a 3 contra um tradicional rival (que adota o nome de nossa cidade, quanta indelicadeza!), com direito a gol contra deles nos acréscimos, o gol da nossa vitória. Como quase sempre acontece, fui ao estádio sozinho, porque gosto de trocar idéias com desconhecidos durante a peleja - são encontros que surgem com naturalidade e duram aquele momento, às vezes com intensidade surpreendente. O apito final foi daqueles happy ends que hoje raramente acontecem mesmo nos filmes de Hollywood - felicidade coletiva e apoteótica, por cinco ou seis minutos, e já é muito, não se pode exigir mais. Choveu quase o tempo todo, e a sensação de um teatro a céu aberto é sempre reconfortante e inesquecível – só não vale zero a zero.