segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sofia, Veneza, Scarlett e cinema nacional

Sofia Copolla levou o Leão de Ouro em Veneza (por Somewhere), um grande feito, sem dúvida. O fato de o presidente do júri do festival – o grande Quentin Tarantino - ser seu amigo de longa data (e ex-namorado) deve ter pesado na declaração de Tarantino à imprensa, a qual enfatizava que a decisão foi unânime. Ok. Sofia tem um Oscar de roteiro original (Encontros e Desencontros, 2003), outro grande feito, mas convenhamos que a escolha de uma Scarlett Johansson aos 18 aninhos para o papel principal foi determinante, e não menos importante uma cena fundamental no roteiro, a saber, aquela em que a diva aparece de calcinha, logo no começo do filme!

PS: Scarlett atua tão bem em ‘Encontros’ que parece injusto não elogiar o que seria a colaboração da diretora. Mas, relembrando sua já nem tão curta carreira no cinema, por pior que possa ser o filme (e geralmente nem é o caso), quando é que Scarlett não está magnífica em qualquer papel?

PS2: a atriz poderia ser a salvação do cinema nacional. Basta alguma ONG descolada de meio ambiente ou de ação social (que tal o 'Nós do Morro'?!) convencê-la a vir atuar no Brasil (com cachê simbólico), em duas ou três produções anuais, e bingo: nosso cinema ressuscitaria como Lázaro, já que com Scarlett não tem filme ruim nem tempo fechado!

Bikes e SP

A campanha pró-bicicletas em São Paulo é um equívoco só. Claro que nada contra se locomover de bike pela cidade, ainda que seja algo bem perigoso, pela falta de educação de boa parte dos motoristas. Pedalar não polui a cidade, faz bem para a saúde, tudo isso é inquestionável. Mas tentar estigmatizar motoristas de automóvel é absurdo, e é o que está se fazendo, pelo menos em campanhas informais, no rádio. Para começar, é bobagem associar usuários de carros com a elite (sempre ela!), ainda que ricos sempre andem de carro, por óbvio. Uma grande quantidade da frota paulistana (ao menos 6 milhões de veículos) pertence a pessoas das classes C e D (e até E), que se deslocam principalmente para trabalhar. Numa cidade das dimensões de São Paulo, é comum que o trajeto casa-trabalho seja longo, às vezes muito longo – principalmente para as camadas menos favorecidas. Uma campanha por um melhor e mais extenso e integrado transporte público seria muito mais útil e pertinente. É injusto exigir que um cidadão que mora na Vila Carrão e trabalha, por hipótese, no Socorro - um trajeto de, no mínimo, 35, 40 quilômetros - não use seu carro, no caso de tê-lo. Ele sofre no trânsito e vai demorar bem sua hora e meia para chegar, mas sem seu automóvel teria de procurar outro lugar para trabalhar. Numa cidade em que praticamente não há cilcovias, quem pode ir de bike ao trabalho são pessoas (geralmente de classe média alta para cima) que moram, em média, a não mais que quatro, cinco quilômetros dele. Enquanto a infraestrutura continuar na mesma, o resto é demagogia freak.

Marina e a Democracia

Ficou meio longe no tempo, mas tenho que registrar a reação da candidata Marina Silva sobre o recente escândalo da Receita Federal, em que, junto de figuras de proa do PSDB, a filha do candidato José Serra teve seu sigilo fiscal violado. Serra, corretamente a meu ver, levou o assunto ao programa da TV, mas Marina não gostou e declarou que Serra estava se fazendo de vítima, que os sigilos violados não se restringiam a sua filha e a correligionários de seu partido etc. etc. É um absurdo. Fazendo assim, ela faz o jogo dos donos do poder federal, que tentaram (e ainda tentam) despolitizar os crimes, que obviamente são sim, políticos, mas esse nem é o ponto principal. A questão é que Marina perdeu uma grande oportunidade de defender o Estado democrático de Direito, que não comporta violações dos direitos individuais – é causa pétrea em nossa Constituição, e muito menos por agentes do Estado. Provavelmente ela raciocinou - ela sim, em termos estritamente eleitorais –, que, como ambos são concorrentes diretos por uma vaga no segundo turno, se Serra pudesse ganhar alguns pontos com o escândalo, ela perderia etc., o que é uma preocupação fútil e estúpida diante da situação de crimes cometidos e encobertos por pessoas diretamente ligadas ao staff da máquina federal. Enfim, ela perdeu uma grande oportunidade de defender a democracia, e fez o jogo que interessa ao PT, sem querer querendo... O mensalão não foi motivo suficiente para ela deixar o partido, e agora uma afronta à Constituição tampouco. Então por que saiu?


PS: essa história de se tentar impedir o debate de eventuais (agora reais) escândalos durante o período eleitoral é outro absurdo. Alega-se que isso esvaziaria o tempo para as “propostas”, como se não fosse importante saber o que acontece na esfera pública. Infelizmente, mesmo 25 anos depois do fim do regime militar, o Brasil ainda engatinha no debate público.

Platéia ativa

É importante ouvir música de concerto ao vivo, até para se ter um parâmetro (ao menos aproximado) da altura (volume) em que ela foi pensada pelo compositor. Mas uma coisa chata de ir a concertos, além do preço lá em cima, do estacionamento e do trânsito para chegar, estacionar etc., é a tosse. As pessoas tossem compulsivamente durante quase toda e qualquer apresentação. Quando há orquestras, o problema fica um pouco encoberto, mas no caso de concertos de solistas ou música de câmara, é horrível. Além de atrapalhar, causa – pelo menos em mim – uma angústia antes da iminência de cada tosse, espirro, pigarro. Por tudo isso, a triste conclusão é que na maioria das vezes não a vale a pena.