quinta-feira, 22 de julho de 2010

Humanos

Pessoas idosas costumam despertar uma espécie de pena, comiseração entre os mais novos, já que teoricamente elas não dispõem de muito tempo, o bem supremo. É interessante notar que um aspecto concreto e importante dessa realidade costuma ficar encoberto: partindo do princípio óbvio de que todos vão morrer, e nem todo mundo vai viver muito, aquele senhor ou senhora idosa por quem sentimos piedade, ao menos já garantiu um tempo de existência que muitos não terão. Pode ter, inclusive, usufruído a vida como muito poucos jovens sequer poderiam sonhar – independentemente disso, pode até estar se divertindo no presente. Mas esta omissão faz sentido pela ótica humana – o que conta é o tempo por vir: dificilmente um Pablo Picasso aos 80 (ou antes), deixaria, se pudesse, de trocar sua vida pela de um João ninguém de 25. A lógica da vida não é matemática - no fundo aquela piedade que o jovem (ou menos velho) sente pelo velho é antes piedade antecipada de si mesmo.

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