quarta-feira, 14 de abril de 2010

Telê

Ainda na década de setenta, o pai de um amigo meu, que não gostava muito de futebol, costumava responder, diante de nossa insistência de criança de perguntar qual era afinal o seu time do coração, que ele torcia para o time que estivesse sendo dirigido por Aymoré Moreira, nome que não significava quase nada para nós, ainda que tivesse sido o técnico campeão do mundo pelo Brasil, em 1962. Ainda estava em atividade naquela época, mas já em processo de aposentadoria (pesquisando agora, vejo que ele estava dirigindo a boa Ferroviária de 1977!). Nunca me esqueci disso, até porque aquela admiração me fascinava e intrigava. No fundo, por um bom tempo eu fiz o mesmo em relação ao grande Telê Santana.

Sebald e Bolaño mais tarde

Em outro post, com mais tempo, vou tentar mostrar por que a obra de W. G. Sebald foi uma revolução na literatura do século 20 para o 21, e sua morte prematura tão lamentável. E, incrivelmente, o mesmo se pode dizer de Roberto Bolaño, mesmo sendo estilos tão diversos, quase antagônicos.

Na geral

Sobre essas comemorações dos gols dos craques do Santos - Robinho, Neymar e Cia - leio que a maioria dos ex-jogadores e jornalistas aprova etc., mas acho que isso se deve mais à postura do politicamente correto. Ninguém quer ser o chato ‘repressor’, o careta. O fato é que essas dancinhas revelam o lado mais individualista do jogador de hoje – ele comemora muito menos com o time e a torcida do que para si mesmo, ligadíssimo nas câmeras da TV, além de mostrar preocupação excessiva com o adversário, já que é inegável algum grau de provocação e deboche. Claro que não se discute o direito de se comemorar assim ou assado, mas quem é do tempo em que Zico, depois de marcar algum gol importante ou especialmente belo (ou ambos, como era freqüente), disparava em direção à geral (hoje extinta) do Maracanã, e chegava perto de tocar com os braços a galera ensandecida do Fla, fica com saudade da emoção genuína que fazia parte da essência do futebol daquele tempo, não tão movida a marketing. Grande Zico, nosso maior jogador depois de Pelé, em minha modestíssima opinião.

La Movida

Quando comentei que o superclássico Real X Barça do último sábado seria disputado às 22h00, e que ninguém via nada de errado com isso - 'ninguém', neste caso, seria, além dos espanhóis, a parte da imprensa e da Câmara Municipal de São Paulo em campanha para antecipar os jogos transmitidos às quartas-feiras pela TV Globo, que começam pouco antes das 22h00 - recebi alguns e-mails de pessoas que argumentavam que a comparação não procedia, porque o clássico acontecia num sábado, e além de tudo, porque o sistema de transporte de lá seria ‘mil vezes melhor que o nosso' etc. Eu tinha feito questão de registrar que, mesmo num sábado, a escolha do horário dizia muito sobre o ritmo frenético da cidade de Madri, e que essa estilo de vida também existe no Brasil, ao menos em São Paulo. Arrisquei escrever que, se dependesse dos espanhóis, os jogos da Champions League seriam realizados com frequência às dez da noite, e não no quase imutável horário das 20h45. Bom, hoje me sinto satisfeito de ler que o semiclássico Barcelona X Deportivo La Corunha vai começar às 22h00, mesmo sendo plena quarta-feira. E amanhã, tb às dez, Valência contra Atlético de Bilbao. Não por acaso, ambos em grandes cidades da Espanha. Bingo. PS: quem realmente conhece Madri e Barcelona (não vale só a turística dos parques, museus e ramblas do centro) sabe que quem mora longe e não tem carro fica a ver navios quase tanto quanto aqui (São Paulo). Não se questiona o maior poder aquisitivo dos mais humildes de lá em relação aos daqui, é que isso não é relevante para esta discussão, e só ajuda a torná-la um pouco mais populista, como é praxe no Brasil.