terça-feira, 9 de março de 2010

Avis rara

Se houvesse um prêmio na televisão brasileira para a autêntica diversidade, a apresentadora Leda Nagle, que comanda o 'Sem Censura', faria jus a um. O programa, pelo menos no tempo da TVE do Rio, era diário e transmitido ao vivo, e tratava de praticamente qualquer assunto, mas sem pompa ou pretensão. Os convidados ficavam sentados em cadeiras simples (sem descanso para os braços), numa disposição que lembrava uma reunião de condomínio. Espero que não tenha sofrido modificações (hoje passa na TV Brasil, mas ainda não vi), porque esse despojamento funcionava - a gama de convidados em cada programa era imensa e até que bastante representativa, ao menos do Rio de Janeiro, com artistas de várias categorias, socialites, jornalistas, ex-jornalistas, médicos, barbeiros, professores de dança, veterinários, colecionadores, cabeleireiros, políticos etc, etc. Todos tinham voz - mas valia gritar um pouquinho para conseguir espaço. Assistir ao Sem Censura era acompanhar desde asneiras colossais, abobrinhas inofensivas, a colocações interessantes e até profundas, às vezes tudo isso dentro de um mesmo programa. No final, mesmo num dia de só com bobagens, era diversão quase garantida. A voz de Leda, cada vez mais rouca, whiskey, soa melhor que 90% das repórteres e apresentadoras com aquela típica impostação forçada e obtida em cursos. Ela tem personalidade até para se mostrar mal humorada e cansada em pleno ar, é uma figuraça, mas sempre esbanjando competência na condução do seu programa.