quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Extras, Raquel e Wagner

Zapeando pela madrugada uns dias atrás, me chamou a atenção o que passava no Canal Brasil - uma longa cena com figurantes - a maioria da terceira idade - em atuação perfeita. Sentados em cadeiras improvisadas, eles interpretavam uma platéia entediada, a espera de algum evento importante, que no entanto acontecia num salão pequeno demais para a ocasião. Os leques mostravam que fazia muito calor, ainda num tempo em que o ar refrigerado não devia ser muito comum. Fotógrafos cabeludos iam e vinham em busca de um bom lugar. O figurino cafona daquele círculo de pessoas também impecável. O registro parecia documental, de tão bem feito, tão diferente da grande maioria dos filmes nacionais, que padecem desse mal (má atuação de extras) até hoje.

O problema é que era tudo real mesmo, claro! Trata-se de um filmete produzido pela falecida Embrafilme, sobre a posse de Raquel de Queiroz na Academia Brasileira de Letras, no Rio, em 1978 - a primeira mulher a merecer a honraria. Ainda não foi desta vez!

PS: aliás, vejo que, coincidentemente, a grande escritora cearense estaria completando 100 anos exatamente neste 17 de novembro.

PS2: a música de fundo, apesar de maravilhosa, não poderia ter sido mais mal escolhida: o tema principal de 'As Valquírias', de Richard Wagner. Hilário, hilário! Dá-lhe Embrafilme (que merecerá um post especial).

Link "As Valquírias", com regência do grande Furtwangler (Filarmônica de Viena): http://www.youtube.com/watch?v=V92OBNsQgxU

Xiiiiiii....

Leio com espanto, na Bravo, deste mês, que a canção 'She´s Leaving Home' teria sido "talvez a maior obra-prima dos Beatles". Que disparate! Aquelas cordas excessivas sequer foram assinadas pelo grande George Martin, que no livro (que possuo) que escreveu sobre o disco Sgt. Pepper, afirma categoricamente que não pôde trabalhar naquela canção porque Paul teve um ataque de estrelismo (Paul, e não John, era a verdadeira vedete da banda), e se recusou esperar apenas algumas horas pelo arranjador, que estava ocupado em outro trabalho da EMI - os Beatles eram o foco principal de Martin, mas não o único na gravadora inglesa. Paul usou um outro arranjador, e deu no que deu. Enfim, o excesso de violinos e celos tornou a canção melosa, e é um dos motivos por eu não curtir muito Sgt. Pepper.  E cá entre nós, mesmo sem tanto violino, esta canção já nasce over, meio apelativa e envelheceu pior - ao contrário de tantas outras dos Fab Four. Paul é um compositor extraordinário, autor de inúmeros clássicos dos Beatles (Things We Sad Today, Eleanor Rugby, For No One, Lady Madonna, Martha My Dear*, Let It Be, The End etc. e etc.) mas quando errava, diferente de John, errava feio, porque tinha uma certa queda por letras e arranjos meio cafonas e/ou piegas (Ob-La-Di, Ob-La-Da, When I'm Sixty four, The Long and Winding Road, She´s Leaving Home, The Fool On The Hill, entre outras ). Mas também compôs as mais pesadas e swingadas Got to Get You Into My Life, Hellter Skelter, I've Got a Feeling, Get Back, Oh! Darling, She Came in Through the Bathroom Window etc. todas obras-primas do rock - a vida não é simples.

Mas voltando ao tema deste post, poderia ser mera questão de gosto, mas não é - afirmar que 'She´s Leaving Home' é uma das maiores canções dos Beatles é não entender, é desconhecer o que essa banda maravilhosa fez pela música pop. E fez tanta coisa!

* É meio cafona também, mas adoro!

O Levante

De vez em quando consigo avançar no catatau 'O Levante de 44' - A Batalha por Varsóvia, um belo (e recente, de 2007) catatau do historiador inglês Norman Davies sobre a brava tentativa dos poloneses de se livrar dos nazistas já no final da guerra, e de que como essa luta se mostrou infrutífera por total falta de apoio e/ou sabotagem dos aliados - russos e ocidentais. Mas o livro é muito mais que a minuciosa descrição dos bastidores do levante - mostra uma painel de uma das ocupações mais sangrentas, implacáveis, devastadoras e letais da história da humanidade, que foram os quase seis anos de ocupação da Alemanha nazista na Polônia, que durou praticamente toda a Segunda Guerra - 1939-45.

PS: o filme 'O Pianista', de que nem gosto tanto (falado em inglês etc), tem duas ou três cenas extraordinárias. Uma delas é a que nos mostra, de surpresa, um longo plano da Varsóvia já em ruínas, uma visão aterrorizante do que os nazistas eram capazes de fazer. Foi uma das punições de Hitller pela ousadia da rebelião - incendiar literalmente cada rua da cidade, ordem que praticamente foi levada a cabo.

Por um futebol menos jeca

Constato que a rivalidade de vida ou morte que existe entre Inter e Grêmio parece que contaminou definitivamente o país. Uma pena, porque não era assim, aliás nunca foi. Acho de uma tacanhice medonha. Não que as rivalidades em si não sejam legais - elas são até fundamentais no futebol, mas tudo tem limite, e o que acontece no Sul é um tipo de fanatismo que me parece exagerado, provinciano. Um Fla-Flu, um Corinthians e Palmeiras, Cruzeiro e Atlético, Ba-Vi e tantos outros derbys e/ou clássicos possuem uma grandeza que nunca precisou desses ingredientes de capa e espada. Pelo contrário - as rivalidades vão sendo construídas ao longo do tempo, e acima de tudo, pela arte da sutileza.

Tudo isso para dizer que tanto o São Paulo como o Palmeiras estão no caminho do Fluminense nessas rodadas finais do Brasileirão. Os jogos acontecem em SP, o que deveria ser um dificultador a mais para o Flu, mas já há uma forte pressão da torcida para que seus times 'amoleçam' para os cariocas. Isso não condiz com a história de decência e honradez desses dois clubes tão vitoriosos, mas se o próprio Corinthians deu o mal exemplo no Estado no ano passado (amoleceu contra o Flamengo, e prejudicou o SP)... Agora é esperar para ver, mas não estou muito otimista.