sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Antiqua

O programa “Volta ao Mundo em 80 Tesouros” (2005), da BBC, é muito bom - por sorte, consegui ver alguns episódios na TV Cultura (parece que o canal Futura também o exibiu). O apresentador, Dan Cruickshank, figuraça, é historiador e arquiteto, e está muito à vontade na função de repórter – com charme e erudição, mostra um grande painel das obras-primas da Antiguidade. As seqüências no Egito (não sabia que os sarcófagos podiam ser tão coloridos), Ásia Menor (Rota da Seda, Bukhara, ruínas de Persépolis) e Norte da África (ruínas de Leptis Magna, na Líbia) são espetaculares.

Divagação

Mesmo com a chatice dos aeroportos (mas tem quem goste deles), o ato de viajar, se possível para bem longe (como preferia Baudelaire) continua a ser uma experiência nada banal. E acho que será assim até que possamos todos nos locomover, por conta própria, a velocidades bem maiores, talvez próximas à da luz – trabalhar em Xangai e dormir em casa, no Brasil etc. Se isso acontecer em até não muito tempo (250, 300 anos), as línguas tenderão a se fundir numa salada em que estruturas do inglês e mandarim - já bem modificados pela ação do tempo - devem se sobressair, por serem as mais faladas. As culturas também sofrerão uma fusão radical, só que bem mais difícil de imaginar - ainda estamos nos primórdios da humanidade.

Friar Park

O documentário Anthology (1995, cinco DVDs), sobre os Beatles, é muito bom, mas destaco aqui duas cenas memoráveis. Na primeira, um bem humorado Paul Mccartney - fazendo graça respeitosa com o grande Sinatra - dá entrevista enquanto pilota um iate, parecendo muito feliz com a sensação de privacidade que o isolamento no mar propicia. Talvez só mesmo assim para um beatle se sentir à vontade ao ar livre. A outra cena reúne os três beatles remanescentes num cantinho do lindo jardim da mansão/castelo Friar Park, que George comprou em 1970, nos arredores de Londres (e apelidou de "Crackerbox Palace").  Eles decidem tocar o clássico (do ragtime?) "Aint She Sweet", com George num tipo de banjo, Paul acho que só no vocal, e Ringo marcando o ritmo com as mãos. Antes e depois da canção, conversam sobre os velhos tempos, falam de John, do afastamento mútuo etc. – Ringo está visivelmente emocionado, e mesmo Paul e George, que faziam um pouco a linha cínica adotada por John para lidar com a fama, vão se rendendo aos poucos à beleza do momento. Tudo acontece com muita naturalidade - é autêntico mesmo. Só isso valeria toda a coleção.