quarta-feira, 7 de abril de 2010

Armando Nogueira

Armando Nogueira foi um grande personagem da imprensa brasileira. Fez carreira por mérito e talento próprios. Em seus textos, apesar de romântico inveterado, cultivava a lucidez, por isso duvido que ele aprovasse boa parte dos textos recentes que saíram na imprensa esportiva, a pretexto de homenageá-lo, por seu passamento. O tom sobre a sua obra foi exagerado, de louvação - foi mais de uma vez comparado a Nelson Rodrigues, nada a ver. Nelson foi um gênio que podia ser tudo, menos piegas, e a pieguice de fato dava as caras, aqui e ali, nas colunas de Nogueira sobre futebol, apesar dos belos achados e do seu texto elegante. E sim, ele teve o mérito de ajudar a criar o formato do Jornal Nacional, mas enquanto o comandou, por 20 anos (até início de 1990), o jornalismo da Globo, ainda que disparado o mais bem feito em relação à concorrência (como é até hoje), era sisudo, conservador e exageradamente voltado para o Rio de Janeiro (hoje é São Paulo). Tudo bem que isso refletia uma época do país, mais careta, mas Armando Nogueira era o primeiro a sair em defesa desta postura retrógrada, que descartava, por exemplo, uma apresentadora mulher para o JN, porque "o brasileiro ainda não estaria preparado", isso eu li numa entrevista dele para a revista Playboy, já no final dos anos 1980 - acho que em 88 - entre outras pérolas. Uma delas, a de que o noticiário mais importante do Brasil não poderia ultrapassar os 30 minutos, de jeito nenhum, tb por 'culpa' de um suposto conservadorismo do telespectador, que se 'cansaria'. Há também o episódio da não cobertura do início do movimento Diretas Já, que foi uma atitude bizarra da TV Globo, e sob sua batuta - não vale jogar a responsabilidade nas costas de Roberto Marinho, já que Nogueira, como manda-chuva do jornalismo da emissora, poderia ter pedido demissão, não era obrigado a fingir que nada acontecia. De qualquer forma, foi um jornalista importante, e justamente por isso dispensa essa camaradagem subserviente, que se aproveita do momento para bajular e se promover. Os que de fato privaram de sua convivência não precisam sair por aí gritando, e de fato não estão fazendo isso.

Nenhum comentário: