segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Marina e a Democracia

Ficou meio longe no tempo, mas tenho que registrar a reação da candidata Marina Silva sobre o recente escândalo da Receita Federal, em que, junto de figuras de proa do PSDB, a filha do candidato José Serra teve seu sigilo fiscal violado. Serra, corretamente a meu ver, levou o assunto ao programa da TV, mas Marina não gostou e declarou que Serra estava se fazendo de vítima, que os sigilos violados não se restringiam a sua filha e a correligionários de seu partido etc. etc. É um absurdo. Fazendo assim, ela faz o jogo dos donos do poder federal, que tentaram (e ainda tentam) despolitizar os crimes, que obviamente são sim, políticos, mas esse nem é o ponto principal. A questão é que Marina perdeu uma grande oportunidade de defender o Estado democrático de Direito, que não comporta violações dos direitos individuais – é causa pétrea em nossa Constituição, e muito menos por agentes do Estado. Provavelmente ela raciocinou - ela sim, em termos estritamente eleitorais –, que, como ambos são concorrentes diretos por uma vaga no segundo turno, se Serra pudesse ganhar alguns pontos com o escândalo, ela perderia etc., o que é uma preocupação fútil e estúpida diante da situação de crimes cometidos e encobertos por pessoas diretamente ligadas ao staff da máquina federal. Enfim, ela perdeu uma grande oportunidade de defender a democracia, e fez o jogo que interessa ao PT, sem querer querendo... O mensalão não foi motivo suficiente para ela deixar o partido, e agora uma afronta à Constituição tampouco. Então por que saiu?


PS: essa história de se tentar impedir o debate de eventuais (agora reais) escândalos durante o período eleitoral é outro absurdo. Alega-se que isso esvaziaria o tempo para as “propostas”, como se não fosse importante saber o que acontece na esfera pública. Infelizmente, mesmo 25 anos depois do fim do regime militar, o Brasil ainda engatinha no debate público.

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