Engraçado os comentaristas que se crêem tão racionais colocar em dúvida a marmelada que aconteceu em alguns jogos fundamentais nesta reta final de Brasileirão. Qual é a deles, afinal? Medo de processos, de ficar mal com alguns jogadores e/ou dirigentes poderosos? Com exceção de Juca Kfouri e do sempre ótimo e incisivo Luís Quartarollo, praticamente nenhum outro teve a coragem de dizer com todas as letras o que todo mundo que acompanha futebol no Brasil viu: que São Paulo e Palmeiras entregaram descaradamente seus jogos contra o Fluminense, para prejudicar o Corinthians. É fato. E a hipocrisia nas declarações de Felipão, Carpegiani e de certos jogadores, antes e depois dos jogos, foi de lascar - nem sei se hipocrisia seria a melhor palavra, porque eles não estavam propriamente dissimulando, mas encenando, fingindo, mentindo, como se todos fôssemos idiotas.
No ano passado, o Corinthians, por sua vez, para dificultar as coisas para São Paulo e, principalmente, Internacional (já que este havia entregado para o Goiás, em 2007, rebaixando o time paulista) fez o mesmo, no jogo contra o Flamengo. Lamentável. Mas agora, pela feitura da tabela, deu azar e levou o troco em dobro, porque são dois jogos ou seis pontos dados de graça a um mesmo concorrente direto, o que, faltando apenas uma rodada, praticamente o tira da briga pelo título.
Também acho estranho que a crônica esportiva insista em acusar o Corinthians de “não ter feito a parte dele”. O que seria isso? Ganhar todos os jogos desde o início, aproveitamento de 100%? Manter uma vantagem estratégica de seis ou sete pontos em relação ao Fluminense, já prevendo a entrega dos rivais nas últimas rodadas? Na prática, o empate do Corinthians com o Vitória, na Bahia, foi normal, até um bom resultado - anormal foi o Fluminense ganhar seus dois jogos fora de casa contra dois grandes de São Paulo com tanta facilidade. Não que a boa equipe de Muricy não pudesse vencer esses dois confrontos, mas a tendência seria que, num ótimo cenário, o time carioca somasse quatro pontos (uma vitória e um empate). Já estaria bom demais, mas isso ainda daria ao Corinthians a oportunidade de depender só de si na última rodada, portanto... Não bastava um ou outro rival (inimigo?) facilitar, mas ambos, o que acabou acontecendo. Ridículo!
Realmente, é nessas horas que o brasileiro mostra que ainda acredita no vale-tudo, no levar vantagem a qualquer preço etc., porque no fundo os clubes estão atendendo um pedido, uma exigência de grande parte de suas torcidas. Não deveriam ceder - a honra de um clube deveria ser sempre inegociável - mas cedem. Dá vontade de desistir de acompanhar futebol, mas é um vício arraigado demais em mim. Mas vou me esforçar.
PS: a pretexto de livrar a cara de Palmeiras e São Paulo, alguns colunistas "isentos" enfatizaram as boas exibições dos goleiros Ceni e Deola nos jogos contra o Flu. Ora bolas! O gol tem mais de sete metros de largura, portanto os goleiros, que são mais visados, mesmo num jogo de compadres, estão 'liberados' para tentar defender tudo o que puderem, para não se comprometer. Mas se ao longo de 90 minutos o resto do time não se esforça para impedir o gol do adversário, que ao contrário, precisa e busca a vitória a todo custo, é claro que, em algum momento, ele sairá. Ceni levou quatro, Deola apenas dois - mas foi a conta. Não é por aí - é só a hipocrisia tentando soar verossímil.
PS2: segue link do post que escrevi sobre o amolecimento do Corinthians contra o Mengo no final do ano passado, logo no comecinho deste blog.
http://oluziada.blogspot.com/2009/12/fut.html
11 comentários:
Também estou indignado. Seu post lava a minha alma. De torcida, pode-se esperar tudo, mas jogadores, técnico e dirigentes deveriam ter um mínimo de vergonha na cara. Um diretor do Palmeiras disse que gostaria de perder por W.O. Além de não se defenderem, também deixaram de atacar, o que dá na mesma. Você tem toda a razão em cobrar da imprensa uma postura mais corajosa. Os jornalistas têm obrigação de mostrar o que está acontecendo e de condenar esse comportamento, mas estão coniventes com essa sujeira. Victor
depois de 2005 ,nada a declarar
depois de 2005,nada a declarar
Obrigado Victor! como escrevi no post, dá vontade de não acompanhar mais; para mim é difícil, mas é o que estou me propondo a fazer - como alguém que quer largar o vício do cigarro, abração M
Anônimo, qual o problema com 2005? Os jogos foram remarcados, o Corinthians foi mais competente e ganhou duas partidas que havia perdido. Era um bom time e foi campeão, só isso. Essa conversa de 2005 é tão cansativa e interminável como a "privataria" do Gaspari. Abraço!
Acho que todo mundo assinou a tabela e o regulamento antes do campeonato começar, o choro é livre, mas não da para dizer que o Fluminense não poderá ser campeão justa e merecidamente por conta de duas rodadas em 38. Aliais, quantas vezes o Corinthians foi beneficiado pela arbitragem neste campeonato? Volte a segunda rodada, Corinthians vs Fluminense. Além disso, a possível mala branca dada ao Goais que ao invés de tentar se livrar do rebaixamento jogou para empatar e fazer o trabalho sujo para vocês sabem quem.
[]'s
PS: Se o Goias jogasse pra ganhar e ganhasse, hoje Corinthians estaria com a faca e o queijo na mão.
Aí é que está, Montanha. Cada um dos 38 jogos são IGUALMENTE importantes, ou seja, a última rodada também deveria ser, assim como a penúltima e antepenúltima. O que está acontecendo é estas estão senso subestimadas, com direito a entregadas, o que macula tudo. Se o Flu vencer tudo bem, é um bom time, mas esses seis pontos fora de casa contra clubes grandes de SP foram dados de bandeja, e terão feito toda a diferença caso Corinthians e Flu vençam na última rodada. Começo a considerar a hipóterse de um mata-mata com os 4 melhores classificados, mas com apenas um jogo, na casa de quem pontuou mais, com direito a empate para se classificar para a final ou ser campeão. Mas a TV, por motivos comerciais, nunca acietaria isso, uma pena, abraço!
O futebol ainda é o melhor laboratório para observação das paixões humanas. É impressionante o número de comentários que seu post já recebeu; todos, indistintamente, puro exercício da paixão. Querer encontrar razoabilidade no futebol é a coisa mais irracional que podemos imaginar, no futebol brasileiro, então, é pura insensatez. No ano passado o Corinthians entregou bonitinho, o Grêmio também. Um ano, apenas uma ano depois veio o castigo. Lá estava o Corinthians precisando da seriedade alheia; seriedade que desprezou em 2009. Se ontem sãopaulinos estavam indignados, exigindo do futebol uma seriedade que ele não tem; hoje são os corinthianos iludidos que um dia este esporte foi sério. Na história muitos times entregaram, inclusive o meu, o seu, o dele. Talvez aí resida uma das delícias do futebol: entregar o jogo prá ferrar o rival. Estamos falando de rival e se temos rival não é outro o tratamento que a ele dispensamos. Quem é que não sabe que futebol é puro interesse, movido pelas paixões humanas? Todos nós sabemos disto e não podemos esperar por um futebol ético e profissional. O Peru entregou na Argentina, ficamos indignados, eles não. Passados alguns anos o Brasil entregou na França, lembram? Então, Marcelo, o legal disto tudo é ver o quanto você é corintiano.
Um forte abraço.
Sebastião Haroldo Corrêa Porto
Sebastião, não concordo - sim, o futebol é movido pela paixão, assim como muitas outras questões que tocam a humanidade, mas isso não justifica que a ética possa ficar em segundo plano no processo. Aliás, penso que pelo contrário - quanto mais amamos, mais honestos devemos nos propor a ser, abração, volte sempre!
Com atraso, venho aqui comentar.
Como tricolor, tenho orgulho de nunca ter visto meu time entregar uma partida. E afirmo que jamais incentivarei esse tipo de comportamento. Mesmo que isso faça o Flamengo campeão, vou sempre torcer para que o Fluminense vença seus jogos.
É questão de honra, para mim também inegociável.
Se outros times já entregaram ou pretendem entregar, o problema é deles. Não meu.
Abraços, e Saudações Tricolores,
PC
Parabéns pela opnião, PC. Infelizmente, essa postura é rara entre os torcedores, lamentável. Não surpreende que São Paulo, Palmeiras e o meu Corinthians não possam dizer o mesmo... E idem o Internacional. Sinal dos tempos, triste sinal. abração, volte sempre
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