Sempre que a claque petista invoca a coragem de Dilma durante a ditadura militar, eu penso que a coragem será ou não uma virtude, a depender do contexto em que é empregada. Hitler, Pinochet, Stálin, Franco, Mao, Mussolini, Sadam e tantos outros podem ter sido tudo de ruim - e foram - mas ninguém lhes pode negar a coragem que sempre tiveram. Mas em prol de quê?
Digo isso porque, ainda que Dilma tenha de fato combatido a ditadura militar, é mentira que a coragem da candidata oficial teria servido para defender a democracia brasileira àquela época. Nada justifica a violência, a tortura que barbara e covardemente ela sofreu pelas mãos de militares criminosos, mas sua luta, ao contrário do que a candidata afirma na campanha, não era para trazer de volta a democracia perdida, e sim para tentar implementar um socialismo à cubana no país - um regime totalitário, enfim, pior que a ditadura militar, que tinha natureza autoritária, com exceção do período Médici. É bem diferente da atuação de um Charles de Gaulle, que lutou pela resistência francesa contra a ocupação nazista, tornou-se seu líder maior, se arriscou por ela, mas sempre em defesa da democracia, tanto assim que, quando a guerra acabou, de Gaulle tornou-se primeiro-ministro do Governo Provisório Francês, mas renunciou logo depois, devido a conflitos políticos. Ele só voltou a chefiar o governo mais de uma década depois, como primeiro-ministro, escolhido pela Assembléia Francesa, e em seguida tornou-se, pelo voto, o primeiro presidente da Quinta República.
Nada a ver com 'comandantes' como Fidel, Pol Pot e tantos outros que, ao liderar um processo revolucionário bem-sucedido, se sentiam no direito de se instalar com seu grupo no poder, sem consulta popular, para lá permanecer indefinidamente, formando um estado totalitário, o que seria o caso se a organização de guerrilha VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), a que Dilma pertenceu, triunfasse no Brasil - o que, de qualquer forma, sempre foi uma possibilidade muito remota. A tentativa recorrente de reescrever o passado é inaceitável, mas o pior é que, infelizmente, tem sido bem-sucedida na democracia brasileira, que assim, pouco a pouco, vai sendo minada.
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