sexta-feira, 5 de março de 2010

Ledo Ivo - Asilo Santa Leopoldina

"Todos os dias volto a Maceió. Chego nos navios desaparecidos, nos trens sedentos, nos aviões cegos/ Que só aterrizam ao anoitecer. Nos coretos das praças brancas passeiam caranguejos. Entre as pedras das ruas escorrem rios de açúcar. Fluindo docemente dos sacos armazenados nos trapiches e clareiam o sangue velho dos assassinados. Assim que desembarco tomo o caminho do hospício. Na cidade em que meus ancestrais repousam em cemitérios marinhos. só os loucos de minha infância continuam vivos e à minha espera. Todos me reconhecem e me saúdam com grunhidos e gestos obscenos ou espalhafatosos. Perto, no quartel, a corneta que chia Separa o pôr-do-sol da noite estrelada. Os loucos langorosos dançam e cantam entre as grades. Aleluia! Aleluia! Além da piedade. a ordem do mundo fulge como uma espada. E o vento do mar oceano enche os meus olhos de lágrimas".

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