domingo, 14 de março de 2010

Não é por aí

Incrível o argumento recorrente para tentar aliviar a postura antidemocrática de Lula, em sua recente visita a Cuba, coincidindo com a morte do dissidente que fazia greve de fome. Alegam que, como visitante, ele estaria impedido, por protocolo diplomático, de se manifestar contra o cerceamento das liberdades individuais existente na ilha. Citam a China, um estado igualmente totalitário, que também as transgride em seu território – incluindo o Tibete – sem que isso provoque a mesma reação etc. Esse argumento é absurdo por vários motivos. Um deles é que, mesmo que fosse verdadeiro - e não é - nada obrigava Lula a sair em defesa da repressão cubana, que persegue e mata cidadãos que ousam apenas discordar do rumo político do país. Mas o principal é o fato nada prosaico de que Cuba faz parte da América Latina, e o Brasil, cuja política externa é escancaradamente focada na liderança regional, não poderia abrir mão - baseado em sua própria Constituição - da defesa intransigente da democracia e dos direitos humanos como valores universais. Esse é o ponto. O governo Lula deseja uma liderança sem que esses valores sejam inegociáveis, suas ações sugerem isso, infelizmente. Mas, voltando ao argumento 'China', além da dependência que nossas exportações têm da demanda chinesa, o fato é que este país se transformou numa superpotência econômica, e está longe de nossa zona de influência, por isso não seria razoável uma crítica contundente em uma eventual visita à China, porque soaria desproporcional e apenas ridículo - pragmática e cinicamente, podemos deixar este abacaxi para os Estados Unidos, como de fato deixamos. Mas o argumento só valeria se for para lavar as mãos para o que acontece em Cuba. Nada a ver.

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