terça-feira, 2 de março de 2010
Freire e Chopin
Belo artigo de Nelson Freire sobre Frederic Chopin no Estadão de domingo (caderno Cultura, pág. 14). Todos sabemos da genialidade do compositor polonês, um dos quatro ou cinco gigantes da música em todos os tempos, mas Freire nos passa uma admiração diferente, aquela que só os intérpretes - os grandes intérpretes - podem sentir. Apesar de ser reconhecido como um dos maiores pianistas do mundo em atividade do repertório romântico (senão o maior), Freire não joga isso na nossa cara - seu texto é ao mesmo tempo denso e leve, bastante informativo, mas acessível ao leigo. Não faz um apanhado geral da obra de Chopin - prelúdios, valsas, fantasias e improvisos etc - não haveria espaço (mas daria um belo livro), apenas nos conta algumas de suas impressões a respeito. Por exemplo, de sua emoção ao ouvir o segundo movimento do concerto nº2, as inovações sempre presentes, a musicalidade e a grandeza dos noturnos. Perto do final, ele cita uma frase de Horowitz, para quem "o mais difícil no piano é fazê-lo cantar", e que Chopin, segundo Freire, faz exatamente isso em sua obra enxuta e monumental. Com precisão cirúrgica, o pianista acrescenta que enxerga ecos das óperas do bel canto, de Donizetti e Bellini, na música do gênio polonês. Bingo! Depois de citar um sábio comentário de Lizt sobre Chopin ("o rubato em Chopin era como uma árvore - as folhas sacodem ao favor do vento, mas o tronco está ali, constante"), ele encerra o artigo agradecendo que tenha escolhido o piano, caso contrário, não teria Chopin tão próximo. Lindo.
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