quarta-feira, 3 de março de 2010
Elia Suleiman - obra-prima
Que filmaço que é 'O Que Resta do Tempo'. O diretor Elia Suleiman (que eu não conhecia por ignorância, já que ele já tem uma carreira consolidada) usa um tipo de representação meio surrealista para retratar a história de sua família, a partir da ocupação israelense da Palestina, em 1948, até os dias de hoje. Há toques de no sense, mas o filme é rigoroso nas cenas cruas de violência, conseguindo retratar a guerra no âmbito individual, o que resulta num registro ainda mais brutal. Direção de arte e de atores mais do que perfeita. Os diálogos são elegantes mas as imagens falam por si o tempo todo, é cinema puro, na veia. Os enquadramentos à distância, nos mesmos cenários (que nos remete a Tatit não só pela mudez do personagem/diretor) é recorrente, e tem a ver com o título, porque é como se nada acontecesse na vida dos personagens, dada a impotência da situação - não há como combater o invasor, dadas as diferenças flagrantes de poderio. O filme é tão poderoso que parece materializar os sentimentos de opressão e perplexidade. Obra-prima. Tem muitas cenas e soluções antológicas (como a do salto em vara sobre o muro israelense), mas já no final, a dos fogos de artifício comemorando o Ano Novo, remetendo à uma desastrada globalização e ao barulho das bombas reais, é daquelas que não se esquece tão cedo. PS: quantos "bilhões" de dólares terão sido consumidos para a realização deste filme?... Referência à eterna desculpa da falta de recursos justificando a mediocridade do cinema brasileiro. Suleiman, e não só ele, mostra que a tese é pura cascata. Talento (e às vezes genialidade) é essencial.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário