quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Abominável

Lula, nosso operário padrão, mereceu que Orlando Zapata, o dissidente cubano que fazia greve de fome há 85 dias, morresse justo durante sua visita de cortesia e turismo a Cuba, a eterna ilha da fantasia de Chico Buarque, Frei Betto e o grande Gabo. "Ele se deixou morrer", disse Lula, tentando defender o indefensável, antes (ou depois, tanto faz) de fazer tietagem explícita a Fidel, máquina fotográfica em punho, registrando o abraço de seu ministro Franklin ao ditador aposentado. De quebra, o presidente ainda acusou a família e amigos do morto de fabricar que tivessem tentado uma aproximação com ele, em busca de ajuda. "Garanto que não chegou nenhuma carta" (sic). Mas o teatro do absurdo não parou por aí. "Demos a Orlando nosso melhor hospital, mas ele não resistiu", explicava entre sorrisos o ditador-substituto, Raul, num cinismo que talvez fizesse corar Stálin, Pol Pot, Mao Tsé-Tung e o astro maior, Hitler. É inacreditável. Em pleno século 21, Zapata já tinha sido condenado a quase 30 anos de prisão simplesmente por discordar de um regime totalitário. Iniciou uma corajosa greve de fome e morreu em decorrência dela. Mas não será um mártir da esquerda, evidente. Estava do lado 'errado', daí a acusação de Lula que teria se 'deixado morrer' - Zapata se deixou morrer, Marighella não, este é o raciocínio boçal. De todos os absurdos que tivemos que presenciar de Lula e seu staff nos últimos sete anos, este episódio em Cuba terá sido o mais baixo, leviano e estarrecedor.

2 comentários:

Unknown disse...

Concordo com você Marcelo. A desastrosa política externa do governo Lula nos obriga a repensar nossa opção presidencialista de alguns anos atrás. Não é possível sujeitarmos nossa diplomacia à obtusidade e ignorância de um único homem; mesmo que por circunstâncias históricas tenha chegado à Presidência da República. Não é possível mantermos nossa civilidade, e porque não, nossa cidadania, refém da vontade (ou motivação ideológica) de um só homem. No entanto, somos vítimas desta política absurda hoje no Brasil: o lula, o torneiro mecânico, como sempre se apresentou para escapar de qualquer alinhamento ideológico, dando os rumos de nossa política externa é, realmente, sinal de que vivemos momento de extremado obscurantismo político. Marcelo, ainda mais lamentável que este episódio foi o tratamento oficial dado aos boxeadores cubanos durante os jogos panamericanos. Aquilo me envergonha ainda hoje e vergonha maior sinto apenas quando leio pesquisas sobre o governo Lula com aprovação na casa dos 70%.
Um abraço.
Sebastião

O Luzíada disse...

Sebastião, muito bem colocado. Lula sempre foi mestre em escapar de rótulos ideológicos, mas no que toca sua política externa como presidente, tem sido incrivelmente coerente com uma visão de mundo esquedóide anti-americana radical e cega, alinhada com ditadores que odeiam a democracia representativa e tudo que deriva dela - liberdade de expressão, autonomia dos poderes, instituições sólidas etc. E sim, vc tem razão, tinha me esquecido do episódio dos boxeadores, aquilo tb foi abominável, argh. abraço!