terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Caetano

Falando em compositores nascidos nos anos 1940, e mais especificamente dos brasileiros, seria o caso de destacar não propriamente esta década, mas o ano de 1942. Um ano terrível, em que a Alemanha nazista ainda vencia a guerra e mandava ver na Rússia, já ocupando um pedaço nada desprezível do seu território. Mas foi neste ano que nasceram Caetano, Jorge Ben, Gil, Paulinho da Viola e Milton Nascimento. Portanto, para quem gosta de MPB - e eu já gostei, ou já gostei bem mais - é um ano crucial. Mas vou me ater a Caetano Veloso. No que toca as canções, para mim ele é, de longe, o maior compositor brasileiro, em qualquer tempo. E não me refiro apenas às letras - isso é uma bobagem, porque canção é a arte de fazer bem a amálgama letra/melodia. Há quem faça boas letras mas não consegue fazer decolar uma canção, e vice-versa. Por isso existem as parcerias, mas há quem consiga fazer tudo sozinho e bem, ou muito bem, como ele, Bowie, Dylan, Neil Young, não muitos mais. Então não vale falar que ele é um 'bom letrista', como muita gente que o despreza faz ao fingir que o elogia - nos melhores trabalhos, a amálgama que ele já conseguiu produzir é uma alquimia de primeira classe, sem paralelo. E Caetano foi um caso raro de mestre/virtuose desde o início, (como Dorival Caymi), e se sua obra passou por uma evolução, ela foi rapidíssima e consciente - do LP 'Domingo' (1967) para o 'Caetano Veloso' (1968), em menos de um ano. E num período relativamente curto, ainda na fase inicial da carreira, foi capaz de compor, sozinho, Baby, Tropicália, Janelas Abertas nº2, Os Argonautas, Alegria, Alegria, Paisagem Útil, Superbacana, Atrás do Trio Elétrico, Saudosismo, Frevo Novo, Chuva Suor e Cerveja, Como Dois e Dois, Você não Entende Nada, London, London, Maria Bethânia, It´s a Long Way, You Don’t Know Me, Nine Out Of Ten, Drama. É um dos maiores criadores brasileiros em qualquer época, simpatize-se ou não com ele - e não estou desprezando por isso grandes da MPB como Jobim, Braguinha, Lamartine, Ary Barroso, Chico Buarque, Noel, Tim Maia, Assis Valente, Edu Lobo etc, etc, é que considero Caetano um caso à parte pela rara combinação de ousadia, inventividade e domínio letra/melodia. Mas há um bom tempo não tenho tido vontade de ouvi-lo. Talvez seja uma fase. Mas ao escrever esse post, me deu vontade de escutar 'Saudosismo', não na versão original (com Gal Costa, que é muito boa por sinal), mas a do próprio compositor, acompanhado só de violão, gravação que ele fez em Nova York em 1985. E de dizer que 'Livros', que já é do final dos noventa, é uma grande canção.

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