terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Clima - o não debate
Ontem no Roda Viva, uma entrevista com um climatologista brasileiro membro do IPCC, Carlos Nobre. Questionamento quase abaixo de zero. É por essas e outras que o programa, que já foi um marco na tevê brasileira, tornou-se irrelevante – lembro das lágrimas de José Genoino na época do mensalão e as expressões de comoção que elas provocaram nos entrevistadores, uma cena patética, que marcou época no pior sentido. Para Nobre, os que não concordam com o relatório do IPCC de 2007 devem estar a serviço de algum lobby muito poderoso, como o do setor de petróleo, por exemplo, o eterno vilão. E claro, nenhum entrevistador lembrou que grande nomes da ciência estão se manifestando contra o relatório - acusá-los de levianos corruptos é mais complicado, por isso melhor não perguntar... O programa já estava chegando à metade até que uma entrevistadora menos condescendente lembrasse – quase pedindo desculpas – que o clip da abertura estava equivocado (ela não usou esta palavra, claro), pois as imagens das chuvas recentes de São Paulo, ponte desabando no Rio Grande do Sul, inundações em São Luiz do Paraitinga, entre outras, teriam muito mais a ver, segundo ela, com os efeitos do El Niño do que com as conseqüências do aquecimento global. Nobre concordou, e acrescentou que as nevascas no hemisfério norte – que também faziam parte do clip - tampouco são fatos anormais durante o inverno... Até onde eu consegui ver (porque desliguei não muito depois), nenhuma pergunta para a questão crucial de a humanidade ser ou não diretamente responsável pelo aquecimento global recente, as distorções deliberadas que vieram à tona nos e-mails trocados por cientistas do IPCC, ou se o percentual estimado (não pelo IPCC) de nossa participação na quantidade total de dióxido de carbono na atmosfera estaria correto (seria de apenas 5%), nada, nada, só blábláblá sobre ‘mudar o comportamento’ dos governos para antecipar as tragédias etc, etc, como se isso fosse simples, sem falar que as próprias previsões estão longe de ser unanimidades. E o Roda Viva se transformou nisso, não há debate - seja porque todos concordam com tudo que fala o entrevistador (a maioria das entevistas), seja porque, no raro caso de um entrevistado não ser algum queridinho da emissora, os antigos cordeirinhos se transformam numa autêntica artilharia pesada, com o intuito deliberado de impedir que o convidado consiga concatenar as idéias e responder. Pena.
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