segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Novelas

Parece que a reprise da novela Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, está bombando na TV paga, e boa parte da audiência seria formada por jovens. Eu a acompanhei na época, era quase inevitável para quem vivia no Brasil. Esse sucesso é interessante, por dar uma pequena mostra, para quem tem menos de 30 e poucos anos, do quanto era profunda essa inevitabilidade.

Primeiro porque as novelas podiam ser muito boas, como foi o caso de Vale Tudo; segundo porque, sem internet, redes sociais, celular, games e TV por assinatura, a Globo só competia com os demais canais abertos, e digamos que eles não conseguiam ser muito "competitivos" - Tupi (depois SBT), Bandeirantes, Cultura, Record ("a pior" era o seu apelido!*), Gazeta e Manchete (a partir de 1983) até exibiam bons programas, mas que eram esporádicos - semanais, mensais ou até anuais**. Ninguém podia com as novelas diárias da Globo - a das oito batia nos 80% de audiência - e, com o tempo, nenhum canal sequer tentava concorrer para valer, até que a TV Manchete começasse a produzir suas próprias novelas, que conseguiram incomodar a líder por algum tempo, mas não muito.

Mas quero recuar um pouco mais. Nos anos 70 e até o finalzinho dos 80 (com Tieta), as novelas da Globo e o Jornal Nacional detinham, juntos, provavelmente a maior audiência fidelizada do mundo*** - o canal já comandava uma indústria relevante no entretenimento e jornalismo, o que até destoava da jequice brasileira da época em outras áreas, como o cinema. Não é à toa que o Rio, sede da emissora, era a cidade mais cosmopolita do país - São Paulo nem sonhava desfrutar do atual papel de cidade hegemônica. Nesse universo, Boni, Daniel Filho e Armando Nogueira eram reis, e Roberto Marinho um tipo de deus da terceira idade.

Quando, em 1975, Roque Santeiro, de Dias Gomes, foi ridícula e inesperadamente censurada pelo regime militar, Janete Clair criou a toque de caixa Pecado Capital, uma obra-prima de argumento e execução - o grande Paulinho da Viola teve apenas um fim de semana para compor a música-tema, que se tornou imediatamente um clássico da MPB ("dinheiro na mão é vendaval..."). Espantoso.

O declínio seria uma questão de tempo, e ele começou já nos anos 90, muito suave (mesmo assim, em 1991, Gilberto Braga escreveu, em minha modesta opinião, uma das melhores novelas da história, O Dono do Mundo, mas sua audiência não foi das melhores, uma pena). Tardiamente, Senhora do Destino (de 2004), de Aguinaldo Silva, se mostrou cativante e obteve grande audiência (média de 55%,), mas soou como o canto do galo.

* Ainda é!

** Segunda (ou Terça) Sem Lei, da TV Bandeirantes, que o diga. Era bem legal.

*** A audiência da novela das oito, hoje, mal ultrapassa os 40%. Já a situação do JN é pior: nos final dos anos 80, detinha, em média, 62%, e atualmente, apenas a metade. Mesmo assim, a liderança da Globo no horário nobre continua folgada - a julgar pela programação da concorrência em sinal aberto, ainda bem.

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