Ultimamente tenho tido pouca paciência com Anthony Bourdain, especialmente a pose de bad boy cinqüentão que às vezes banca o palhaço mas que no fundo se acha. Mas o programa que ele fez sobre a Sardenha, exibido na última quarta, foi simplesmente memorável. Sem gracinhas e ciente da importância do lugar, Bourdain conseguiu mostrar um dos grandes trunfos da gastronomia italiana, que é a combinação mais que perfeita de sofisticação com despojamento, diversidade e abundância, além da habitual altíssima qualidade dos ingredientes. Não é que havia ‘o’ prato da região – havia dezenas deles, todos diferentes entre si, todos soberbos, feitos com ingredientes e receitas locais e sem afetação no preparo – o italiano só é blasé na hora de comer uma iguaria, porque não fica enaltecendo, é como se estivesse devorando uma pizza, o que é um charme.
O programa tinha um componente familiar, já que a atual mulher do apresentador é italiana, de Milão, mas seu pai nasceu e cresceu na Sardenha, uma cultura fascinante, que remonta a 4 mil anos de civilização. O roteiro fugiu obviamente do circuito dos jet setters da parte badalada da costa da ilha, preferindo percorrer o interior, e nos brindou com pratos inacreditáveis, mas que lá são comuns: carnes bovinas de vários tipos e cortes, javali, porco, aves, massas caseiras, cogumelos porcini, ricotas fresquíssimas, queijos, vinhos, peixes, ovas de tainha (bottarga) em pó, malloreddus (o nhoque sardo), crustáceos, frutos do mar, points incríveis de turismo rural (agriturismo), o preparo do famoso (e antiquíssimo) pão carasau, paisagens, enfim, um programa impecável. Deve reprisar no domingo à noite na Discovery Travel & Living, vale muito a pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário