terça-feira, 15 de junho de 2010

Forma

No documentário 'Rolling Stones, Exile on Main Street', que tem legendas nas canções, não deixa de ser engraçado ver Mick Jagger, em 1972, no auge da beleza e playboyzice, cantar que está “plantando algodão” em alguma hipotética fazenda no sul dos Estados Unidos. Importante frisar que a música é da dupla Jagger/Richards, e não um clássico do blues. É o que sempre me intrigou: bandas inglesas – grandes e pequenas - nunca tiveram medo de soarem fake e ridículas ao tentar emular o canto (e a forma) da black music americana de raiz, inclusive, às vezes, nas letras. Quase sempre o faziam e fazem com um filtro pop próprio, mas no disco ‘Exile’, todo, e em várias outras passagens esparsas dos Stones, não há essa mediação. De qualquer forma, a receptividade sempre foi a melhor possível, inclusive por parte do cânone americano do gênero – me lembro de uma entrevista de B.B King na tevê, tecendo grandes elogios à banda, assim como outra sumidade que me foge o nome agora. Para mim, canções pop como “You can't always get what you want” e “(I Can't get no) Satisfaction”, que se apropriam da raiz, mas viram outra coisa (incluindo as letras), soam bem mais autênticas. Vai ver King fazia referência exatamente a isso, e não à faceta puramente cover dos Stones, que, de todo modo, como Caetano em "O Ciúme", é válida e bela, ainda que talvez meio fake, quase kitsch.

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