quarta-feira, 17 de março de 2010

Roth

O Prêmio Nobel de Literatura está, com razão, entre os menos prestigiosos que a Academia Sueca concede ano a ano. Talvez o problema tenha a ver com essa periodicidade anual: de tempos em tempos surge uma geração de grandes escritores, mas às vezes a escassez é quase total, então fazem média com este ou aquele país, premiando mediocridades. Na falta de um escritor que fizesse por merecê-lo, seria o caso de não se premiar ninguém, mas infelizmente a escolha é obrigatória. Penso inclusive que o Nobel sofre de um problema de identidade desde sempre: é pouco para gênios como Einstein, vencedor em 1921, e muito para certos talentos de alcance mais limitado, que afinal são maioria, principalmente na área de humanidades. No caso do Nobel de literatura, pensando apenas nos últimos dez anos, assistimos a premiações boas (Coetzee) e bisonhas (Doris Lessing), e algumas omissões estranhas, mas considerando que não existe Nobel póstumo, o pior entre todos os esquecimentos tem sido o do grande escritor Philip Roth, que está para completar 77 anos, e em grande forma. Roth é o tipo de escritor que já poderia ter recebido o seu Nobel há uns bons 25, 30 anos, talvez mais. Possivelmente o fato de ser americano pode estar atrapalhando, o que, se for verdade, atestaria a politicagem barata pela qual o prêmio literário mais badalado do mundo foi se deixando contaminar. Mas premiá-lo seria uma forma de começar a colocar as coisas nos eixos, valorizando o talento acima de qualquer coisa. PS: o Nobel da Paz deveria ser concedido a cada década, e aí sim, valeria como uma importante homenagem a personalidades que tivessem de fato realizado avanços na área, sem espaço para os oportunistas de sempre. A forma como é conduzido só tem ajudado a torná-lo irrelevante.

2 comentários:

Lucas disse...

Lembrando que:

- Muitos grandes escritores nunca foram lembrados, mas o esquecimento
de um deles é imperdoável: Jorge Luis Borges.

- Nosso João Guimarães Rosa foi o brasileiro que chegou mais próximo de ganhar
o prêmio. Foi indicado, mas faleceu antes, já estava velho, e mal de saúde.

- Sartre recusou o Nobel, evitando associar seu nome ao do
inventor da dinamite.

Isso só no plano da literatura; quando o prêmio entra, p.ex., no campo da Paz,
prefiro esquecê-lo e desconsiderá-lo. O Nobel, pra mim, é mero dado de curiosidade,
como a lista dos 10+ da Billboard (risos).

abs,
Lucas

O Luzíada disse...

Muito bem lembrado Lucas. O caso de Borges é mais absurdo se considerarmos que ele viveu quase 90 anos - imperdoável. Acho que em relação ao Brasil, Drumond deveria ter ganho - atualmente penso que João Ubaldo estaria a altura, abração PS: Nobel da Paz eu acho uma presepada, nem considero, mas foi bom vc lembrar para eu mudar uma coisa no começo do texto