sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Cenas

Uma semana sem postar, a idéia é que isso quase nunca aconteça, mas não deu para evitar por vários motivos, por isso muita coisa acumulada. Teve uma matéria no caderno Mais! do domingo retrasado (24/1) bem interessante*, colhendo depoimentos de personalidades sobre cenas de filmes que eles consideram as mais marcantes da história do cinema. Gostei de quase todas, mas, com a exceção do final de 8 e meio, Fellini - tb uma de minhas preferidas - nenhuma bateu com as minhas. Vamos a elas: a cena final de E La Nave Và, quando antes do naufrágio que se anuncia, um projetor começa a funcionar e exibe um filme com cenas de uma época que tb está ruindo como o citado navio do título, onde tudo acontece. No mesmo filme, a cena fortuita dos copos de cristal manipulados por músicos de folga, que conseguem extrair deles música improvisada e celestial. Ainda em La Nave Và, o mar de plástico escancarado que cerca o navio. Em Oito e meio, a tb fortuita cena em que um mágico perfeito é capaz de adivinhar os pensamentos do cineasta Guido, o que provoca nele um profundo estranhamento, bem como em quem está assistindo ao filme. A cena dos brinquedos e fantoches que abarrotam um quarto (ou uma sala) de uma casa estranha ao menino Alexander, o que aos poucos lhe causa pavor (e a nós tb, claro), em Fanny e Alexander. No mesmo filme de Bergman, a sequência do incêndio na casa do padrasto de Alexander, incêndio este que vai causar a morte do padrasto, e a sensação de que isso era um desejo do menino e, por extensão, um desejo recorrente de todos nós, é muito impactante e profunda. Em Dersu Uzala, cena em que Dersu constrói uma cabana com folhas e palha em questão de minutos, e consegue salvar a si e o capitão russo da morte certa no noite polar. Também em Dersu, o início, o suspiro do capitão ao saber que Dersu tinha morrido, a cena da aurora boreal e várias outras deste filme único. Mas, depois de ler o que Domingos Oliveira escreveu, chamando a atenção para uma cena de um filme menor como Alien 3, também tenho uma especial, seguindo essa interessante linha proposta por ele, e que acho muito bem sacada, já que em não poucas vezes as grandes cenas estão dentro de filmes muitas vezes menores, assim como acontece com belas passagens em livros de ficção de segunda linha etc - há muitos exemplos. Bom, voltando à cena, há uma de alguma continuação de A Volta dos Mortos-Vivos em que, já no final, um muito jovem casal apaixonado decide se matar junto, lançando-se a um precipício de mãos dadas. E esta trágica escolha possui um belo motivo: o rapaz já está contaminado por ter sido mordido por um morto-vivo, o que fará com que ele em pouco tempo tb se transforme irremediavelmente no mesmo tipo de monstro. Sabendo que não poderão continuar juntos, a menina pede para ser mordida pelo amante contaminado, para assim tb se contaminar. Para eles, melhor se poupar de um futuro sombrio e se jogar num abismo cheio de fogo (há chamas e fumaça no fundo do abismo). Esta decisão é tomada com um rápido e tocante olhar mútuo, e esta cena me comoveu a ponto de contar para uma ex-amiga que quase tinha ido às lágrimas, e isso tendo visto o filme em casa, pela TV, e dublado. Viva o cinema, qualquer cinema. * http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2401201001.htm

Nenhum comentário: