quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Olá

Um ano e um dia sem postar aqui, a idéia é retomar os textos. Hoje, "apenas" o início de Canção do Tamoio, Gonçalves Dias.


Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Musak de primeira

Tem uma excelente estação de rádio on line, chamada Cinemix (uma das 22 opções da MuseBox, para iPad, aplicativo gratuito), que só toca trilhas sonoras de Hollywood. No fim de semana, fiquei horas e horas escutando. Há coisas belíssimas, mas mesmo nas melhores, dá para sentir que o compositor precisa emocionar o espectador, manipular e tal - é o preço que a música paga por ser não mais que um pano de fundo - aliás, eu mesmo ouvia fazendo outras coisas, é sua sina. Geralmente o clímax é uma melodia vigorosa, marcante, mas há exemplos de monotemas quase repetitivos, como a de Twin Peaks (Angelo Badalamenti), de alto nível. Sempre achei que, por melhor que possam ser, trilhas não se sustentam sozinhas - um CD isolado etc -, mas como essa rádio toca sem parar, a experiência é interessante - a estação vence pela quantidade, pelo cansaço. É possível saber o que está tocando, mas o melhor é se deixar levar e manipular pela música: com exceção dos trechos muito famosos, ela nos remete a filmes que talvez já tenhamos visto, mas que ficou embaralhado na memória. Às vezes o objetivo é claramente passar um clima de happy end ou jubílio, mas em boa parte as melhores trilhas passam tristeza, angústia e melancolia. Mesmo em Hollywood, a felicidade que vem no final é curtinha.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Os vira-latas

Meu amigo Sebastião Porto, sociólogo e fundador da editora Porto de Idéias, santista roxo (ninguém é perfeito, mas agora com Neymar, vá lá...), a propósito da última edição da Copa América de futebol, me envia um texto forte, um desabafo que trata de algumas diferenças de postura que ele vê entre o jogador brasileiro e o uruguaio e argentino. Com (imperdoável) atraso de dois meses, segue, na íntegra.


COM JOGADORES VIRA-LATAS
 PERDEREMOS NOVAMENTE A COPA DO MUNDO EM CASA

Em viagem pelo Uruguai, e apaixonado por futebol, acompanhei pelos canais uruguaios e argentinos de TV a todas as partidas que pude da última Copa América disputada na Argentina. Desta vez, no entanto, em terra estrangeira, me senti extremamente constrangido com a covardia dos jogadores brasileiros e com a constatação do fato de que isto é devidamente percebido pelo nosso pequeno vizinho . Diante da garra e amor à camisa oficial de seus países, os jogadores das demais seleções evidenciavam ainda mais a completa falta de dignidade dos jogadores brasileiros. Em mais de uma ocasião fui questionado pelos uruguaios do porquê de tamanha falta de raça e garra de nossos jogadores. Lembrei-me imediatamente das crônicas de Nelson Rodrigues e conclui que estamos muito perto de perder mais uma Copa do Mundo em casa. Ficava evidente em muitos lances de jogo, que as TV´s insistiam em repetir, o espírito de vira-lata que movia nossos jogadores. Medrosos, sem qualquer amor à Pátria, os jogadores brasileiros comportavam-se em campo como os últimos da matilha. Quantas vezes, depois de terem tomado um belo sarrafo de seus marcadores, se levantavam numa atitude de completa submissão, esticando as mãos para cumprimentar seu agressor. De forma ultrajante, demonstravam não se cansar do capricho e parcialidade dos árbitros e das agressões dos adversários, desnudando em campo a pequenez do atleta tomado por um completo descompromisso com a vitória.  Com jogadores sem espírito de luta, sem dignidade, sem amor à camisa, que aceitam passivamente o resultado adverso e as agressões adversárias, certamente perderemos, em casa, a próxima Copa do Mundo. E o pior, se for para o Uruguai ou para a Argentina. Pelo que assisti nesta Copa América, o comportamento dos jogadores aproxima muito o time brasileiro da seleção francesa na última Copa do Mundo. Gostaria de saber no que pensam esses jogadores quando ouvem, antes das partidas, o Hino Nacional. Imagino que não consigam interiorizar uma única palavra sequer, pois não demonstram o menor sentimento pátrio. 
Sebastião Haroldo de Freitas Corrêa Porto

sábado, 15 de outubro de 2011

Nina Mello

Minha linda sobrinha acaba de estrear uma peça de Molière. Ela é a Jacinta em As malandragens de Escapino, adaptação de Edih Longo (do texto traduzido por Carlos Drummond de Andrade), com direção de Moisés Miastkwosky. Figurino de época e elenco impecáveis*, texto nada fácil, sem chance de embromation para os oito atores adolescentes. Tio coruja, sem dúvida, mas não sem razão!

Leon Cakoff

A Mostra de 1987 ficou comigo para sempre. Como na música de Caetano, eu ainda era alegre e jovem*. Estava com amigos na fila monstruosa, que avançava pela Augusta, para comprar ingressos para Daunbailó (Down By Law), de Jim Jarmusch. Era um domingo, começo de noite, e já tinha sido uma epopéia conseguir estacionar o carro - acabamos descolando uma vaga na garagem do prédio do avô de um amigo (que não estava presente!), nas proximidades. Mas havia outro problema: tinha outra fila, para entrar. Decidimos nos dividir, porque o filme estava para começar. Eu fiquei sozinho na dos ingressos, mas demorava, demorava... Quando finalmente chegou a minha vez, comprei e saí em disparada para a bilheteria. Que timing! A fila já andava e meus amigos estavam quase na borboleta, golaço! Conseguimos lugares bem localizados na sala entupida de gente do atual Unibanco, nem me lembro o nome que tinha na época (Nacional?). Uma sensação de vitória, de alegria, inesquecível. Mas o melhor foi mesmo o filme, filmaço em PB, com Tom Waits, Benigni e John Lurie arrebentando. Grande Cakoff, obrigado por tudo.

Trecho filme: http://www.youtube.com/watch?v=CrXj2tZbXps

* Itapuã (1991): http://www.youtube.com/watch?v=HJjeHMpzttM

Free As A Bird (1995)

Nunca fui fã de videoclipes. Aliás, mais que isso, sempre achei a grande maioria de uma cafonice atroz, mesmo nos anos 1980/90, em que eram insuportavelmente inevitáveis, onipresentes na TV. Mas esse, em gravação que reuniu os beatles remanescentes, homenagem póstuma a John Lennon, em canção de sua autoria (1977), mas nunca gravada em vida (só em fita cassete, com voz e piano) eu acho maravilhoso. A guitarra de Harrison ajuda muito. Direção de Julien Temple.

http://www.youtube.com/watch?v=UqHjXF1gUWU&feature=related

Versão fita cassete: http://www.youtube.com/watch?v=yHSFTRUekT0

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Tom/Dolores

Como me lembrei de "De Manhã", é obrigatório citar outra grande canção, e bem mais conhecida, que também começa com 'É de manhã': "Estrada do Sol" (1958), lançada por Agostinho do Santos, da interessante parceria que Tom Jobim e Dolores Duran mantiveram no final dos anos 50. É uma canção refinadíssima, música e letra. Antes de 'Estrada', fizeram o samba-canção "Por Causa de Você" (1957), que fez sucesso e "Se é por falta e Adeus (1955)", primeira canção e Dolores (gravada por Doris Monteiro). Como Dolores morreu prematuramente, no ano seguinte (aos 29 anos), é lícito considerar que perdemos outras possíveis obras-primas da dupla.

Estrada do Sol, com Agostinho do Santos: http://www.youtube.com/watch?v=McNX-sYJiEE

e com Gal (1979): http://www.youtube.com/watch?v=Gr-nZGXE8xk

Por Causa de Você (1957), com Dolores: http://www.youtube.com/watch?v=Ey-qSX6wluo

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Voz da Amada (1995)

Esta canção tão triste, que remete ao fado, foi composta por Caetano para a trilha de O Quatrilho. Aqui, ele canta mais alto (agudo) do que nunca, recorrendo ao sempre perigoso falsete. Mas o resultado é muito satisfatório, inspirado, e dificilmente não seria, dado a riqueza melódica (também sem refrão) e letra de uma beleza arrebatadora, profunda. Ele gravou duas versões no CD. Só encontrei aquela com orquestra, em andamento um pouco mais lento - a que me agrada mais é só voz e violão -, mas não deixa de ser um belo registro. Releve-se a cafonice do "vídeo" pescado no Youtube.

http://www.youtube.com/watch?v=dP1tBp43CHg

De Manhã (1965)

Belíssima canção* de Caetano, pré-Tropicalismo. Foi gravada por uma super jovem Bethânia de 19 anos - era o lado B do seu primeiro compacto (simples), que tinha o sucesso "Carcará". É uma melodia bem construída e sem refrão. A letra vai se desenvolvendo com rimas pouco habituais para a época.

A introdução que existe na versão da cantora, com um tom meio declamatório, teatral, remetendo claramente a "Carcará", compromete o registro, uma pena, porque o arranjo bossa-lenta, com orquestra, é muito bom, assim como a própria interpretação de Bethânia - Caetano vai corrigir isso na versão que apresento abaixo, num Programa do Jô recente, só com voz e violão (bossa nova). Aos 23, o compositor já tinha sua carpintaria praticamente pronta para os voos mais altos que viriam.

Com Caetano: http://www.youtube.com/watch?v=El7RieXU1_s&feature=related

Com Bethânia, na versão original: http://www.youtube.com/watch?v=OR9laAmDR_M&feature=related

* O título aparece quase sempre grafado erroneamente como 'É de Manhã' (eu também achava), mas não existe esse "É".

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Prokofiev/Yuja

Íntegra da sonata nº6, ops 82. Verbier Festival 2010 (Suiça).
http://www.youtube.com/watch?v=QA7Sc0KxaO8